Vacinação em massa na Maré emociona moradores: ‘Feliz por tanta gente imunizada’, diz primeiro vacinado

Com uma população de 140 mil moradores, cerca de 30 mil pessoas vão ser imunizadas até domingo

Começou  a vacinação em massa no Complexo da Maré durante a manhã desta quinta-feira (29). A iniciativa é feita por meio de uma parceria entre a Fiocruz, a Redes da Maré e a prefeitura do Rio. Ela é parte de um estudo que tem como objetivo analisar a eficácia da vacina Oxford/Astrazeneca , que será aplicada em todos os moradores previstos no projeto, bem como em busca de verificar o comportamento da covid-19 na população imunizada.

A movimentação era intensa na clínica da família Adib Janete – onde aconteceu a solenidade que marcou o início da vacinação em massa – e as equipes se organizavam para receber a população. Nesta quinta (29), podem se imunizar pessoas de 33 até 25 anos de idade na Maré. A previsão é que cerca de 30 mil pessoas recebam a primeira dose até domingo (1). Aproximadamente 500 voluntários ajudam na realização do estudo que vai contemplar todos os moradores adultos da comunidade com a vacina.
A primeira pessoa imunizada foi o influenciador digital Raphael dos Reis Vicente, de 21 anos, que chegou acompanhado de sua avó, Maria Antônia. Ele mora na Nova Holanda e com um sorriso no rosto, compartilhou que a vacinação representava um momento especial em sua vida. “Estou me sentindo grato. A minha vez não estava tão longe, mas só de saber que vai ter tanta gente imunizada, eu fico feliz”, afirmou.

Raphael lembrou que, em março deste ano, se contaminou com o coronavírus e durante o momento em que adoeceu, ele pode contar com o apoio do projeto Conexão Saúde – De olho na Covid-19, coordenado pela Ong Redes da Maré e Fiocruz.
“Em março testei positivo para a covid-19 e tive toda a ajuda deles. Recebi alimentação em casa, material de limpeza, cesta básica e fui acompanhado. Fiquei 17 dias em isolamento e consegui me recuperar”, explicou.
Quem também compareceu para se vacinar foi a estudante de Educação Física Maria Eduarda, de 18 anos, que atua na ONG Luta pela Paz. Ela contou que precisou segurar a emoção para não chorar depois que recebeu a primeira dose.
  

“É um sentimento tão bom. Eu estava nervosa, mas deu tudo certo. Era para ter sido antes, porque esse projeto é muito bom e eu só faço um apelo para que todas as pessoas se vacinem, pelo amor de Deus. Estou otimista e acredito que se mudar de governo vai melhorar bastante o nosso país”, disse.
O enfrentamento à covid-19 na Maré
O Complexo da Maré hoje reúne um conjunto de 17 comunidades e tem uma população de 140 mil moradores. São 141 pontos de vacinação que vão auxiliar na imunização dos moradores até domingo (1). O 38º Boletim da iniciativa Conexão Saúde – De olho na Covid-19, mostrou que ocorreram 147 mortes pela doença na Maré durante o início da pandemia, em março de 2020 até a chegada da iniciativa. Após as ações de testagem em massa, acompanhamento, assistência e monitoramento, foram 77 óbitos entre agosto de 2020 até meados de julho.
O médico sanitarista e assessor de relações internacionais da Fiocruz, Valcler Rangel, reconheceu a ocorrência de muitas mortes na comunidade por conta da covid-19, mas ressaltou a importância do trabalho que a Fiocruz tem feito para reduzir a mortalidade no Complexo. Após a realização da iniciativa Conexão Saúde – De olho na Covid-19, a taxa de mortalidade foi reduzida em 88%, e os registros de óbitos caíram 48% se comparado ao período anterior as ações.
“Tivemos uma notificação muito superior a de outras favelas do Rio. Por meio de um trabalho intenso, em que a prefeitura ajudou muito também, conseguimos reduzir a taxa de mortalidade. A telemedicina, a assistência social e o atendimento psicológico foram fundamentais para salvarmos vidas. Só na telemedicina fizemos mais de 10 mil atendimentos”, explicou.
O pesquisador da Fiocruz e coordenador do estudo, Fernando Bozza, ressaltou os resultados do projeto e explicou que a vacinação em massa na Maré é também um momento simbólico tanto para os pesquisadores quanto para a população.
“Naquele momento, a Maré tinha um dos piores dados por covid-19. A mortalidade era o dobro do Rio e tinha uma das piores do Brasil. Agora, iniciamos um novo passo na Maré e o nosso objetivo é responder, entre muitas questões, a efetividade da vacina, a sua eficácia contra a variante Delta, e o nível de proteção entre os adultos imunizados e os demais públicos não imunizados”, explicou.
Aprendizado para melhorar a Saúde do Rio
O secretário municipal da Saúde, Daniel Soranz, esteve presente durante o evento e destacou o aprendizado que a Prefeitura do Rio tem tido para novas possibilidades de ações e políticas de saúde em comunidades. Ele explicou que a relação entre Fiocruz e Maré não é uma novidade, e lembrou que a comunidade de Manguinhos também faz parte da parceria.
“É um super aprendizado. É uma pesquisa que não começa hoje, mas desde o início da pandemia. Com a parceria da Redes da Maré e a Fiocruz, o nosso objetivo é que a gente consiga de fato acompanhar a vacinação dessa população e os efeitos dela ao longo dos próximos anos, qual foi o seu efeito e possíveis alterações”, explicou.
O estudo responsável pela vacinação em massa inclui duas linhas de atuação que vão ser conduzidas de forma simultânea. A primeira consiste na identificação de casos sintomáticos através da realização de testes RT-PCR, e a segunda linha é caracterizada por um levantamento populacional composto por 2 mil famílias residentes na Maré, mobilizando, ao todo, aproximadamente 8 mil indivíduos, que serão acompanhados por seis meses.
A diretora da ONG Redes da Maré, Eliana Silva, afirmou que a vacinação em massa na Maré é resultado de uma mobilização que a organização tem feito desde o início da pandemia, em busca de oferecer uma resposta no âmbito da saúde para os moradores.
“Temos 140 mil pessoas aqui, essa é uma mobilização que vem desde o início da pandemia e tentamos buscar de alguma maneira uma forma de responder as necessidades dos moradores de maneira organizada, realmente atendendo às demandas. Esse dia é exemplar para mostrar o quanto as articulações entre a comunidade, o governo e a pesquisa podem oferecer em questão de potência para pensar em mudanças positivas, sobretudo em relação à saúde da Maré”, afirmou.
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