Presidente do BC diz que Petrobras aumenta preços ‘muito mais rápido’ que outros países

A uma semana para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que a instituição não vai alterar o plano de voo para a política monetária a cada divulgação de dados de inflação. Também frisou que preços como o da gasolina sofrem impacto da alta do dólar e lembrou que a Petrobras repasse esses custos com mais frequência que o que ocorre em muitos países.

Campos Neto explicou que a inflação sofreu sucessivos choques nos últimos meses, como o preço dos commodities e, mais recentemente, da crise hídrica, que afetou os preços de energia.

Segundo ele, a parte de energia inclui os preços de petróleo e etanol, que também tiveram impacto da desvalorização cambial, o que fez com que o preço de commodities em reais tivesse efeito maior no país.

— A parte de passar esse preço de commodities para o preço interno no Brasil, o mecanismo é um pouco mais rápido, lembrando que a Petrobras, por exemplo, passa preços muito mais rápido do que a grande parte dos outros países. A gente tem olhado isso também.

 

‘Alta frequência’

Ele participou de evento do BTG nesta terça-feira. E explicou que, diante da alta nos preços, a taxa básica de juros, a Selic, será elevada até o patamar necessário para atingir a meta de inflação.

Atualmente, a taxa está em 5,25% ao ano, e a sinalização do BC é que deve subir mais um ponto percentual na próxima reunião. Mas Campos Neto deixou claro que não vai mudar a política monetária por questões pontuais.

— Algumas coisas a gente tem comunciado, já tinha antecipado, algumas coisa de disseminação estão um pouco piores na ponta, mas a gente tem um plano de voo que a gente olha no horizonte mais longo. Isso não significa que você não vai atingir o objetivo de estabilizar, de fazer a convergência da inflação na frente, mas significa que não obrigatoriamente tem a necessidade de reagir a dados de alta frequência — disse Campos Neto.

Mercado vê inflação a 8% em 2021

Na semana passada, o IBGE divulgou que a inflação subiu 0,87% em agosto, o que resulta em um índice de 9,68% em 12 meses.

Assim como a inflação, as expectativas do mercado para o índice também vem subindo nas últimas semanas. Segundo o relatório Focus, que reúne as projeções de mercado, o IPCA deve ficar em 8% este ano e 4,03% no próximo. Se concretizado, ambos estariam acima das metas de inflação, de 3,75% e 3,5%, respectivamente.

Campos Neto também voltou a dizer que o pano de fundo fiscal é melhor do que o esperado no início da pandemia, mas ressaltou que há ruídos porque o mercado percebe um risco fiscal atrelado ao processo eleitoral.

— Tem um ruído atrelado ao fato de que vários programas que o governo tem feito, existe uma percepção por parte do mercado que esses programas estão associados a uma intenção de fazer um Bolsa Família que está ligado ao processo eleitoral. A gente entende que quando for virada a página esse tema, que deve acontecer em breve, as pessoas vão focar um pouco mais no pano de fundo — disse.

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