Amor materno: aprisionamento ou vantagem?

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*Andreia Calçada

Estudos atuais revelam que homens e mulheres são igualmente equipados para o cuidado com os filhos e que isto depende da quantidade de tempo que os pais convivem com os mesmos. Ambos os genitores que passavam mais de 4 horas diárias com seus filhos apresentavam 98% de acerto, mães 98% e pais 90%, pais que passavam menos de 4 horas por dia diminuíram os acertos em 75%.A publicação Nature Communications (2013) revela que a hipótese do “instinto maternal” foi derrubada. Os estudos dos anos 1970 e 1980 falharam em não levar em consideração a quantidade de tempo que os pais passavam com seus filhos. Biologicamente falando, homens e mulheres são bons criadores, e a ideia de que um gênero é melhor que o outro em proteger o bebê é incongruente e o estudo sugere: ambos, pai e mãe, são capazes de reconhecer o choro do seu bebê – o que afeta esta habilidade é a o tempo de convivência dos pais com seu bebê. A mãe é concebida como alguém puro a quem são atribuídos apenas sentimentos nobres de acolhimento, abrigo e continência no que diz respeito a sua cria. A criança é vista como um ser que se satisfaz total e plenamente com uma relação fusional com ela, satisfazendo-a do mesmo modo. Frente a esta forte crença de que o amor de mãe é incondicional, vemos a grande dificuldade de mães abrirem mão da guarda em função do pai, mesmo que ela não tenha possibilidades de cuidar do filho. Vemos também a dificuldade intensa de mães em simplesmente adotarem a guarda compartilhada como se fossem ceder algo que é exclusivamente delas. Importante perceber que as relações mudaram e que os pais, hoje, convivem mais e cuidam de perto de seus filhos. Participam da alimentação, da escola e do emocional dos filhos. Sua forma de criar tem especificidades sim, porém podem ser afetivamente presentes. É este convívio que é responsável pela construção do amor e vínculo e assim também o é com a relação materna. Só se dará se houver convívio, se a mãe conviver e se tiver disponibilidade de tempo e disponibilidade emocional para construir um vínculo de afeto e cuidados com sua prole. Atualmente há uma nova mulher, mas que vive sob o manto das velhas representações, pois continuamos cobrando delas o velho modelo de mãe idealizada. O problema, porém, é que as mulheres de hoje já não são preparadas, não sabem e nem querem cuidar dos seus filhos como suas mães faziam. Elas têm outros interesses, desejos, informações, expectativas e, sobretudo outras alternativas para se realizarem como mulher, que não estão mais restritas à maternidade. Novamente, observa-se um conflito na vivência do papel moderno de mãe, que acarreta mais dúvidas, angústias e, sobretudo culpa, que se revelam através da (des)conhecida ambivalência materna. Segundo Freud, o movimento da criança para além do lar e em direção ao mundo exterior vai propiciar ao ego desenvolver meios adequados para fazer frente às ansiedades atinentes àquele momento e modificá-las. Freud considera que, a partir de um ano de idade, as crianças começam a entender que as pessoas vão e voltam; que os pais saem para trabalhar e depois retornam; que elas vão à escola e depois voltam para casa etc. Trata-se de situações essenciais para o bom desenvolvimento das crianças. A criança precisa de continente, de segurança e de sentir confiança em seus genitores. E isso não está vinculado ao gênero, mas à individualidade de cada um. A possibilidade de a mulher exercer a maternidade de forma íntegra está mais vinculada a seus processos psicológicos internos, sua personalidade e ao desejo da maternidade, bem como ao momento de vida no qual se encontra. Depende das condições socioeconômicas, psíquicas, familiares e pessoais da mulher. Tudo depende da mãe, de sua história e da História. De sua capacidade interna de se entregar e se vincular ao filho. Como assim o é o amor paterno com suas especificidades. O amor materno não é inerente às mulheres. É “adicional”. Os filhos precisam de amor (de ambos os genitores) e não de um gênero. E precisam é de amor genuíno, não de um mito.

*Andreia Calçada é psicóloga clínica e jurídica e psicoterapeuta (com formação em gestalt, psicoterapia breve, terapia cognitivo comportamental, hipnose ericksoniana), pós-graduada em Psicologia Jurídica e Psicopedagogia pela Universidade do Estado do RJ.

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