Vendas do comércio recuam 0,1% em outubro, na contramão das projeções de analistas

As vendas do comércio varejista tiveram recuo de 0,1% em outubro, na comparação com setembro, de acordo com dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) divulgados nesta quarta-feira. Para o IBGE, o resultado indica estabilidade, mas veio distante das expectativas dos analistas.

Economistas ouvidos pela Reuters projetavam avanço de 0,8% no mês. Com o resultado, o setor acumula alta de 2,6% em 12 meses e no ano.

O resultado evidencia a fragilidade da economia. Depois de o país em recessão técnica — quando há dois trimestres de variação negativa do PIB —, os dados do primeiro mês do quarto trimestre mostram dificuldade de recuperação.

A indústria recuou 0,6% em outubro, mostrou o IBGE na sexta-feira passada. Os analistas esperavam avanço. A disparidade entre projeções e o que de fato ocorreu se repetiu no comércio. Na semana que vem, o IBGE divulga o desempenho do setor de serviços.

Cinco das 8 atividades têm queda

Das oito atividades do comércio pesquisadas pelo instituto, cinco apresentaram queda. O segmento de livros, jornais, revistas e papelaria recuou 1,1%, seguido por móveis e eletrodomésticos (-0,5%), combustíveis e lubrificantes (-0,3%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,3%).

O segmento de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-0,1%) também ficou estável na passagem de setembro para outubro.

O gerente da pesquisa, Cristiano Santos, explica que a variação de -0,1% no mês é composta de estabilidade, inclusive em praticamente todas as atividades. A inflação, o rendimento e a dificuldade de acesso à crédito têm impactado o setor:

— São esses os principais fatores. (…) Não há protagonismo nessa composição para nenhuma delas [das atividades] — explica o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.

Os segmentos que avançaram no período foram tecidos, vestuário e calçados (0,6%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (1,4%) e equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (5,6%).

— A atividade de tecidos, vestuário e calçados foi uma das que mais caíram no início da pandemia porque o consumo dela é muito baseado na experiência  do produto. Houve uma queda intensa de março para abril do ano passado e o padrão de consumo não voltou depois disso — diz Santos.

Ele continua:

— Houve também uma readequação das empresas em sua estratégia de venda, ao aderir ao e-commerce. Grandes marcas no início do segundo trimestre deste ano também anunciaram outras plataformas e isso impulsionou as vendas em um momento, mas esse movimento foi refreado pelo rendimento das famílias que não tem aumentado — analisa o gerente da pesquisa.

No comércio varejista ampliado, que inclui as atividades de veículos, motos, partes e peças e material de construção, o volume de vendas recuou 0,9% em relação a setembro. Nessa comparação, o segmento de veículos, motos, partes e peças caiu 0,5%, enquanto o de material de construção recuou 0,9%.

Inflação reduz consumo

O comércio tem buscado driblar uma série de desafios durante a reabertura econômica. Enquanto o setor lida com a alta do dólar e entraves logísticos, a inflação ao consumidor acelera e já chega a 10,65% em 12 meses.

Depois de uma Black Friday com resultado frustrante, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) deve revisar a projeção para retração de até 5% no faturamento no Natal, ante 3,8% de alta, estimada em setembro.

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