Avaliação do Fiat Pulse Drive 1.3 CVT 2022

Por Marcelo Dusek / Fotos: Marcus Lauria / Fonte: www.carpointnews.com.br

Os carros de hoje em dia estão cada vez mais parecidos e previsíveis, pelo menos na parte de baixo da tabela, sem considerar modelos premium (ou que se acham premium). Se por um lado isso fez nascer um “avaliador de carros” em cada esquina, por outro lado, a vida do consumidor final ficou bem melhor. Por exemplo, se o consumidor busca um SUV, desconsiderando detalhes de acabamento e design, o comportamento vai ser quase igual, não precisando de nada mais do que umas voltas na cidade para saber “tudo” sobre o carro.

Um dos motivos para isso é o controle de emissões, ou seja, com os limites estabelecidos pelo PROCONVE, as montadoras adaptaram seus motores e a eletrônica do carro, de forma a consumir menos e poluir menos. Se por um lado permitem uma vida mais longa aos ursos polares, por outro lado tornam os carros mais anestesiados, e iguais.

Dei partida no Pulse Drive 1.3 CVT com isso em mente. É o mesmo motor 1.3 Firefly que já está entre nós há algum tempo, porém ele perdeu dois cavalos (no etanol) para se adequar às novas regras de emissão, bem como recebeu um novo mapa de injeção e outros detalhes. Imaginei o quão previsível seria um crossover de 1.187 kg, com câmbio CVT e motor rendendo 98 cv com a gasolina que estava no tanque.

Comecei andando de forma suave, de acordo com a proposta do carro, e me impressionei tanto com o silêncio a bordo quanto com o conforto da suspensão. O câmbio, por sua vez, era suave como se fadas escondidas em algum lugar fizessem o trabalho de mover as polias e engrenagens do sistema. Que coisa linda, a FIAT sempre cuidou bem do conforto, e nesse carro, parece que atingiu outro patamar.

Não fosse pelo volante regulável apenas em altura, o carro teria uma ergonomia perfeita, como tinha o finado Fiat Punto, a minha referência em posição de dirigir até hoje. Em compensação, o painel do Pulse resolveu o problema do painel do Argo que agredia os joelhos dos mais altos na região do ar-condicionado, os bancos são tão aconchegantes quanto colo de vó, e todos os comandos estão à mão, fáceis de acessar no painel ou bem distribuídos na ótima central multimídia.

O meu contato ocorreu com a versão Drive CVT, ou seja, a versão de entrada com câmbio automático. E aquela era de entrada mesmo, não tinha nenhum opcional e, sinceramente, não senti falta de nada. Já se foi o tempo dos carros básicos, hoje em dia o básico é trazer ar-condicionado (digital no caso do Pulse), múltiplos airbags, controle de tração e estabilidade, central multimídia e uma ou outra perfumaria. Previsível, como a concorrência. Os opcionais desta versão são interessantes (central multimídia maior, carregamento do celular por indução) mas dispensáveis. O Pulse básico é tudo o que você precisa.

Continuei o meu ritmo tranquilo, ouvindo uma boa música no competente sistema de som do carro (bom palco sonoro, graves presentes, agudos suaves e médios um pouco perdidos), e reparei que o consumo médio no computador de bordo estava em surreais 15,1 km/l no percurso urbano com ar-condicionado ligado. Fiz questão de usar algumas ruas com trânsito mais encrespado, e o pior número que apareceu foi 12,8 km/l, mesmo zerando o computador de bordo várias vezes para provocar uma média pior. Achei que eu estava sonhando, ou aquelas fadas do câmbio fizeram algo com os meus olhos, porém, no fim do teste, o carro marcou consistentes 13,4 km/l de gasolina no perímetro urbano e 18,1 km/l no perímetro rodoviário. Um ótimo alento em tempos de gasolina mais cara do que picanha.

Porém, eis que um ímpeto (mesmo não sendo na versão Impetus) infantil me fez pressionar o botão “Sport” no volante, quase perguntando ao meu alter ego mais velho para que servia aquele botão. Então, quer saber a resposta?

Aquele botão acaba com a previsibilidade do Pulse.

De cara o giro do motor sobe, pois o câmbio passa a trabalhar com rotações mais altas do motor, perto da faixa de torque (13,2 kgfm @ 4.000 RPM). Até aí, padrão de carros com modo “S” no câmbio. Porém, a Fiat foi além, e fez com que o botãozinho mágico fosse capaz de alterar não só as respostas do câmbio, mas também alterar também o peso do volante e as respostas do acelerador eletrônico.

Não é exagero dizer que se torna outro carro. As fadas? Colocam uma saia curta e se transformam em succubus. O acelerador se torna tão sensível que deixa o carro arisco demais para engarrafamentos, porém quando o trânsito dá um desconto, é possível explorar o pequeno motor 1.3 aspirado melhor do que qualquer câmbio manual iria permitir. Claro que ele continua sendo aquele crossover com motor pequeno, porém entrega tudo aquilo que só um entusiasta procura em qualquer carro, não importa se for um Renault Kwid ou um Audi R8, ou seja, o modo Sport é o modo entusiasta do Pulse, aquilo que separa o pacato crossover de qualquer um dos seus concorrentes.

Finalizei a semana de teste com um sorriso no rosto. O Pulse Drive 1.3 CVT combinou bem com a bipolaridade do trânsito, que reúne momentos onde queremos desempenho com momentos que apenas precisamos beber uma dose de paciência e ouvir uma bela música enquanto o tempo passa sem sairmos do lugar. E, o melhor, faz tudo isso sem gastar muito combustível.

Pena que custa caro, muito caro, como qualquer carro hoje em dia. O preço que eu pesquisei hoje no configurador da Fiat talvez não seja o mesmo preço que você irá ver amanhã no mesmo configurador, porém, eu considero R$ 100.000 um valor muito elevado para um carro desse porte, por melhor que ele seja. De qualquer forma, se o valor não for um problema, este é um belo modo de gastar tanto dinheiro.

*FICHA TÉCNICA:

Mecânica

Motorização 1.3

Combustível             Álcool            Gasolina

Potência (cv)            107     98

Torque (kgf.m)         13,7    13,2

Câmbio          CVT com modo manual

Tração           dianteira

Direção          elétrica

Suspensão dianteira          Suspensão tipo McPherson e dianteira com barra estabilizadora, roda tipo independente e molas helicoidal.

Suspensão traseira            Suspensão tipo eixo de torção, roda tipo semi-independente e molas helicoidal.

Dimensões

Altura (mm)   1.576

Comprimento (mm)             4.099

Tanque (L)    47

Entre-eixos (mm)     2.532

Porta-Malas (L)        370

Ocupantes    5

*Dados do fabricante

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