Avaliação da Honda CRF1100L Africa Twin Adventure Sports ES 2022

Por Arnaldo Bittencourt (texto e fotos)

Fonte: www.carpointnews.com.br

É sempre um prazer testar versões da histórica Honda CRF1100L Africa Twin (ou simplesmente AT, para os íntimos), criada há mais ou menos 30 anos na fábrica da Honda Racing Corporation (HRC) para correr o lendário Rally Paris-Dakar.  

O foco da moto, inicialmente voltado totalmente para a competição, foi mudando ao longo dos anos, ela acabou ganhando peso e o acabamento não era mais o mesmo, até o momento em que a Honda resolveu tirar o modelo de linha em 2003.

Em 2016, a Honda relançou a icônica Africa Twin como uma resposta à BMW GS1200, Ducati Multistrada e Triumph Tiger, voltando a oferecer uma moto de ótima relação peso-potência, tal como nas versões iniciais da AT.   A versão testada tem um nome grande e pomposo: CRF 1100L Africa Twin Adventure Sports DCT. Com um nome desses, fica evidente que tem muita tecnologia embarcada no modelo.

Existe uma versão da Africa Twin Adventure Sports sem o DCT, que é o câmbio automático de dupla embreagem da moto, uma verdadeira maravilha da engenharia japonesa. A versão sem o DCT parte dos R$96 mil, enquanto que a versão com DCT custa a partir de R$102 mil (ambos os preços não consideram o frete e eventual ágio cobrado pela concessionária).

Existe ainda a Africa Twin que não é Adventure Sports, que seria a versão de entrada do modelo. Essa custa menos: R$76 mil. Se você quiser, pode adicionar o câmbio DCT, elevando o preço a R$82 mil.     Em relação a versão de entrada, a AT Adventure Sports ES traz suspensão com ajuste eletrônico pelo painel, mais possibilidades de ajuste do parabrisa, iluminação de curva nos faróis, 6 litros a mais no tanque de combustível, manoplas aquecidas, apresentando assim uma vocação mais “touring”.

A versão de entrada, por ser mais leve e esguia, tem uma proposta mais offroad.  O motor que equipa todas as versões é o mesmo. Contando agora com 1084cc, o bicilíndrico paralelo refrigerado a água entrega uma potência máxima de 99,3cv a 7.500 rpm, enquanto que o torque máximo é de 10,5 kgf.m a 6.000 rpm. Esse propulsor possibilita uma pilotagem ágil e bastante rápida em baixas velocidades, devido ao seu ótimo torque.

A entrega de torque e potência é bastante precisa, graças à tecnologia aplicada pela Honda no acelerador eletrônico da AT, que faz uma leitura minuciosa da intensidade de aceleração aplicada pelo piloto, garantindo assim respostas imediatas do motor.  A versão testada vem equipada com a sofisticada transmissão de dupla embreagem (DCT – Dual Clutch Transmission), que é uma verdadeira maravilha da engenharia, oferecendo trocas de marcha super rápidas e permitindo ao piloto escolher entre três diferentes configurações (uma manual e duas automáticas).

Para quem curte ter mais controle sobre a moto, o modo manual oferece a possibilidade de trocas de marcha diretamente na manopla do guidão. Todas as subidas e descidas de marcha são controladas por botões, como nos carros esportivos. Agora, se você busca conforto, basta colocar a transmissão DCT no modo de condução D (drive). As trocas de marcha serão realizadas automaticamente, de modo imperceptível, tanto nas subidas quanto nas descidas de velocidade. Bom, na prática a troca não é 100% imperceptível, dá para sentir as trocas de marcha, mas nada que incomode. 

Existe ainda o modo de pilotagem S (sport). Aí meu amigo, as trocas de marcha ficam ultra rápidas e agressivas. Deve ser usado quando a intenção é extrair o desempenho máximo da moto. Nesse modo, o sistema DCT rastreia a intenção do piloto de perto, monitorando o ângulo da posição do acelerador para entregar uma mudança de marchas mais precisa e esportiva.

Muito ágil, segura e fácil de pilotar, a versão Adventure Sports está disponível na belíssima cor “Branco Perolizado”, ou “Pearl Glare White”. A cor é linda, fazendo com que a moto chame muita atenção nas ruas e estradas.  O design é muito elegante, principalmente na parte frontal. As linhas esportivas e aerodinâmicas frontais mostram que o modelo prioriza leveza e esportividade.

Os faróis são duplos, em full led, acionados automaticamente, trazendo sistema de luzes diurnas (DRL). A visibilidade em qualquer hora do dia está, deste modo, garantida. Já as setas possuem aviso de parada de emergência e auto cancelamento (desligam sozinhas).  Ergonomicamente, a moto foi desenhada para maximizar a experiência em pilotagem, otimizando o conforto e a tecnologia, sem abrir mão da lendária capacidade off-road. Por essa razão, a estrutura da moto está mais leve e esguia. Tanto a balança quanto o quadro e o subchassi derivam das CRF 450 usadas no Rally Paris-Dakar, e foram desenvolvidas para reduzir a massa suspensa na parte traseira da moto. 

O pára-brisas da AT possui diversas regulagens manuais para favorecer o conforto ou permitir pilotagem de performance, principalmente no off-road. A moto vem equipada com rodas raiadas aro 21” na dianteira e aro 18” na traseira, projetadas para a máxima performance em qualquer terreno.

O sistema de freios ABS da AT funciona integrado a uma unidade eletrônica de medição inercial, podendo atuar com precisão graças aos sensores instalados nas rodas, mas também os sensores que monitoram os seis eixos da moto. O piloto pode desativar o ABS por completo, bem como escolher entre dois modos de funcionamento do sistema voltados para o uso on-road e off-road. Nas curvas, o ABS também faz uso dos sensores para aplicar a frenagem ideal em cada roda, considerando o ângulo de inclinação da moto, além da sua desaceleração e taxa de deslizamento das rodas dianteira e traseira. Toda essa tecnologia melhora a pilotagem e traz mais segurança para o piloto.

Graças a essa unidade de medição inercial instalada na AT, a moto também oferece controle de “wheelie”, que é quando a roda dianteira perde o contato com o solo. O sistema apresenta 3 níveis de atuação e pode ser desligado.   É claro que a AT também oferece um sistema para controlar o deslizamento da roda traseira, sendo capaz de proporcionar a tração ideal em qualquer tipo de terreno. A Honda denomina esse sistema de “Honda Selectable Torque Control”, ou HSTC, que atua limitando eletronicamente o torque da moto para manter a tração sob controle.     

A suspensão da AT Adventure Sports ES é invertida (na dianteira) e eletrônica. Assim como a moto, recebeu um nome chique: Showa EERA. Essa suspensão faz a leitura constante das condições de rodagem, atuando de maneira automática na aplicação da força de amortecimento. O sistema oferece 4 níveis de configuração, totalmente integrados aos modos de pilotagem predefinidos da AT (descritos a seguir). A ideia é entregar uma força de amortecimento compatível com o modo de condução selecionado. O diâmetro da suspensão dianteira é de 45mm, com 230mm de curso. Já a suspensão traseira conta com 220mm de curso. Durante o teste percebi que a suspensão oferece ótima sensibilidade, sendo compatível com um estilo de pilotagem mais esportivo, mas sem abrir mão do conforto. 

O painel de instrumentos da AT é composto por um display TFT colorido touchscreen de 6,5 polegadas, além de um pequeno e útil painel digital auxiliar.O objetivo do painel auxiliar é manter as principais informações necessárias à pilotagem sempre à vista, permitindo assim que a tela principal de 6.5 polegadas seja totalmente dedicada a outras funções. Nesse painel auxiliar é possível visualizar, portanto, informações como velocidade, marcha engatada e uma série de luzes-espia.

Já o painel principal possui uma visualização excelente, mesmo sob luz solar direta. Não achei a interface, entretanto, muito intuitiva. Tive de apelar para o manual da moto para entender o funcionamento de algumas funções. Não encontrei com facilidade, por exemplo, onde se aciona o menu de configurações do painel. Só lendo o manual consegui descobri como fazer. Também percebi uma certa lentidão no uso do painel, principalmente logo após ligar a moto, como se o sistema precisasse de um tempo para carregar suas funções. Imagino que o problema possa ser resolvido com atualizações de software.   

Através desse painel o piloto seleciona diferentes modos pré-definidos que otimizam o comportamento da moto de acordo com o estilo de condução individual e as condições da estrada. Refiro-me a seis modos de pilotagem: Tour (mais esportivo, oferecendo estabilidade máxima), Urban (próprio para a cidade), Gravel (mais segurança em estradas escorregadias), Off-Road e User 1 e User 2 (esses dois últimos inteiramente personalizáveis). O painel principal ainda oferece conectividade com o celular e comunicadores via bluetooth, além de possibilitar o uso de Apple CarPlay e Android Auto via cabo (seria nota 10 se os dois pudessem funcionar sem a necessidade de cabo).

A versão testada possuía uma chave convencional, portanto nada de sistema keyless. Poderia conter essa mordomia, dado que a concorrência já oferece esse prático recurso. A AT oferece ao piloto, entretanto, piloto automático, facilmente acionado através de comandos no guidão. 

O tanque de combustível tem 24,8 litros de capacidade, conferindo boa autonomia à moto. Durante o teste, a moto apresentou um consumo médio de 18km/l, ficando dentro do padrão da categoria. Pilotando de modo mais suave, consegui médias na casa dos 21km/l, um número que considero excelente para uma moto dessa categoria e proposta. 

A Honda oferece ainda alguns pacotes opcionais para a AT: Luggage (kit de malas laterais em alumínio), Luggage Plus (Malas laterais + top box), Protection (proteções do motor, escapamento e carenagens em alumínio, esse em especial vale muito a pena), além do Confort (top box, descanso central, assento mais baixo, alguns protetores).   Me diverti muito com a AT durante o teste, aproveitei cada momento com a moto. Graças ao excelente torque, a moto é muito ágil no trânsito urbano. É esguia, com guidão elevado, então manobra bem entre os carros e não é excessivamente pesada nas manobras em locais apertadosA.

Como é bonita e traz o logo da Honda, chama muita atenção na rua. Por incrível que pareça esse é um dos fatores que atrapalha as vendas, pois muita gente fica receosa de comprar o modelo e ser roubado na esquina.É o que eu sempre falo, as montadoras de moto tinham que desenvolver um sistema eletrônico inviolável que tornasse o roubo de motos inviável. Algo que obrigasse o usuário a entrar em contato com a montadora para fazer com que a moto volte a rodar poderia ser uma solução. 

Ao final do teste, fiquei com vontade de comprar uma Africa Twin para mim (preferencialmente com câmbio DCT, claro!!!). O fato de ter concessionárias da marca a cada esquina, dos preços das revisões e peças serem mais leves em relação à concorrência e a lendária confiabilidade dos produtos da Honda tornam o modelo ainda mais atrativo para quem procura uma big trail.

*FICHA TÉCNICA:

Motor:

            OHC, 2 cilindros, 4 tempos, arrefecimento líquido

Cilindrada:

            1.084 cc

Diâmetro x Curso:

            92,0 x 85,5 mm

Taxa de compressão:

            10.0:1

Sistema de lubrificação:

            —

Sistema de partida:

            Elétrica

Alimentação:

            Injeção Eletrônica PGM-FI

Tipo de ignição:

            Eletrônica

Potência máxima:

            99,3 cv a 7.500 rpm

Torque máximo:

            10,5 kgf.m a 6.000 rpm

Transmissão

Câmbio:

            6 velocidades

Sistema de transmissão:

            Corrente

Suspensão e Freios

Suspensão Dianteira:

            Garfo telescópico / 230 mm

Suspensão Traseira:

            Pro-Link / 220 mm

Freio Dianteiro:

            A disco / 310 mm

Freio Traseiro:

            A disco / 256 mm

Peso e Dimensão

Peso:

            215 kg (transmissão manual) / 225kg (transmissão de dupla embreagem)

Comprimento Total:

            2.328 mm

Largura Total:

            963

Altura Total:

            1.563 mm

Distância entre eixos:

            1.574 mm

Distância do solo:

            250 mm

Altura do Assento:

            Assento de 870mm e ajustável para 850mm na posição baixa

Pneu Dianteiro:

            90/90 – 21

Pneu Traseiro:

            150/70 – 18

Capacidade do tanque:

            24,8 litros

Óleo do Motor:

            4,8 litros

*Dados do fabricante

error: Conteúdo protegido !!