Chef Márcia Baiana é vencedora do Enchefs RJ pela segunda vez 

A especialista em comida ancestral que desenvolve e apoia projetos voltados para a valorização da cultura afrobrasileira em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, foi a vencedora da categoria Comida Afetiva na edição 2023 – comandada pelo Chef carioca e embaixador oficial da gastronomia do Rio de Janeiro Pedro Alex

Negra, mãe solo, nordestina e mulher de Axé – Márcia Correa Passos, ou, Márcia Baiana, é seu ”codinome” há mais de 30 anos quando, também, escolheu empreender levantando as bandeiras da culinária e da cultura afro com a cara do Nordeste. Vencedora do Festival Enchefs RJ 2022 na categoria ”Comida de Rua”, a Chef conquistou o primeiro lugar novamente na edição 2023 que aconteceu neste último fim de semana na cidade de Nova Iguaçu (02 – 05 MAR), só que desta vez concorrendo pela categoria ”Comida Afetiva”. O Festival contou com uma sequência de workshops, aulas show, além da competição em si. Coordenado pelo embaixador oficial da gastronomia carioca Pedro Alex, Chef Executivo do Itamaraty e vencedor do prêmio Dolmã nas edições de 2018 e 2022, o evento reuniu mais de 50 profissionais de todo o país para três dias consecutivos de programação.

A Chef e Baiana de Acarajé reconhecida pela ABAM (Associação Nacional das Baianas de Acarajé) apresentou seu prato inédito, o ”Oju Obá” (que traduzido do Yorubá significa ”Os olhos do Rei”), para jurados vindos de todas as partes do Brasil no último dia do evento. Rabada bovina, purê de fruta pão com redução de melaço e pimenta biquinho foi a receita para o sucesso e, consequentemente, o 1º lugar – conquistado pelo segundo ano consecutivo. Márcia conta que a inspiração foi uma homenagem a seu filho Pedro, que tem a rabada como um de seus pratos favoritos. ”É muito gratificante não somente ganhar pela segunda vez na cidade que me acolheu, mas também por ter sido uma receita concebida pensando no meu filho”, comenta Baiana. Para a aula show a Chef levou seu Vatapá de Bacalhau.

A Chef também relembra sua trajetória de como tudo começou há quase 40 anos atrás e não se esquece de agradecer a todos aqueles que vieram antes dela. ”O estalo aconteceu na viagem de retorno à minha terra natal, logo depois de decidir não concluir a faculdade de Letras e nem o curso técnico de enfermagem por ter dentro de mim a certeza que não eram por aqueles caminhos que eu deveria seguir. Conversando e desabafando com uma tia sobre as dificuldades financeiras que estava passando no Rio, acabei levando um belo puxão de orelha. Ela disse para eu ‘tomar vergonha na minha cara’ e fazer o que todas as mulheres da nossa família faziam há algumas gerações para sobreviver: vender acarajé e a comida do nosso povo! Entendi o recado na mesma hora e assim fiz quando voltei para casa. Naquele momento me dei conta do legado que estava prestes a dar prosseguimento e do tamanho dessa responsabilidade” – revela aquela que é considerada, pelos amigos e apreciadores de suas iguarias, a ‘baiana mais iguaçuana do Brasil’. 

De lá pra cá foram diversas atividades como o tradicional tabuleiro de acarajé, a administração de restaurantes regionais nordestinos premiados e também a produção de eventos para promover e valorizar a cultura e a religiosidade afro-brasileiras. Desde 2005, pelo menos, ela organiza, entre outros projetos, seu caruru beneficente auxiliando instituições iguaçuanas doando alimentos, roupas e medicamentos. ”A Baiana”, como é carinhosa e popularmente conhecida, recebeu e apoiou durante os anos em que esteve à frente de seus antigos estabelecimentos, no coração de Nova Iguaçu, inúmeros artistas locais abrindo as portas para diversos movimentos culturais como: forró pé de serra, chorinho, comunidade cigana, afoxés e maracatu. Sua mais nova ”menina dos olhos” fica por conta do projeto Renascer onde, há pouco mais de dois anos, qualifica gratuitamente mulheres para o ofício de baiana de acarajé. Ao concluir, a também embaixadora oficial da gastronomia de Nova Iguaçu/ RJ e da Granfino Alimentos (empresa alimentícia iguaçuana há mais de 70 anos no mercado), acrescenta ainda que as tradições ligadas à ancestralidade e à cultura popular são importantes para preservar a memória e o saber das comunidades negras e das periferias.

Outros Destaques do Enchefs RJ 2023

Para além da Chef Márcia, a baiana de Vitória da Conquista acolhida pela Baixada, outros nomes também se destacaram durante o encontro. O prêmio de 1º lugar da categoria profissional ficou com o Chef Jorge Machado, de Campos dos Goytacazes/RJ (região Norte fluminense do estado), que apresentou seu ”Robalo com crosta de pipoca de camarão com bisque de camarão grelhados na cachaça local de Campos e palmito no melaço”. O chef que tem como especialidade os frutos do mar não decepcionou com sua culinária arrojada, potente e contemporânea e levou o troféu para o interior do estado do Rio. Em 2021 recebeu o prêmio Garfo de Ouro comandando a cozinha do restaurante Cantinho do Peixe e em 2022 foi vencedor do prêmio Gastronomia Preta, idealizado pelo colunista e professor Breno Cruz. 

O encontro também contou com as participações e aulas show da Chef Vanessa Vacaro, especialista há mais de 20 anos em comida brasileira vinda da Serra da Canastra/MG e proprietária do restaurante Fifitus no Amapá; da Chef Rosa de Fogo, embaixadora oficial da gastronomia tocantinense e proprietária de dois restaurantes que levam seu nome nas cidades de Peixe e Almas no Tocantins; da Chef Tatilene Carvalho, consultora gastronômica de Rondônia e do também já consagrado MasterChef André Boratto. 

Texto: Priscila Alves I Imagens_crédito: Divulgação Chef Márcia Baiana  

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