
Foto: Alexandre Vidal/Divulgação
No início da tarde de ontem, no Hotel Bourbon, em Atibaia (SP), o técnico Vanderlei Luxemburgo concedeu entrevista coletiva para apresentar à imprensa toda sua comissão técnica e os atletas do Tianjin Quanjian (CHN). Ele falou sobre o desafio de ajudar o futebol chinês a se desenvolver e de deixar um legado no país. Os dois jogadores brasileiros do elenco, Jadson e Luís Fabiano, contratados recentemente, já estão com o grupo e serão apresentados nesta sexta-feira (8). A equipe faz sua pré-temporada no Brasil até o dia 3 de fevereiro. Confira os principais trechos da entrevista de Luxemburgo.
>> A investida da China – “Essa preocupação não tem nada a ver com a China. Quando se coloca que a China pode causar um prejuízo ao Brasil, é justamente o contrário. O Brasil é que pode causar prejuízo a si próprio. Mostra que o Brasil precisa se reorganizar e reconquistar credibilidade. A China está introduzindo o futebol no colégio, incentiva a prática do futebol, pretende disputar a Copa do Mundo dentro de 20 anos. Essa investida não é uma novidade. Aconteceu quando vários profissionais brasileiros foram para os Emirados Árabes nos anos 80, depois para o Japão, Leste Europeu… É uma questão de mudança. A perda sempre foi constante. O Campeonato Brasileiro está cada vez mais enfraquecido porque o país está enfraquecido, com nosso futebol sendo jogado para trás. O Brasil precisa rever os seus conceitos no futebol”.
>> Os olhos na Ásia – “O mercado brasileiro não está perdendo só para a China. Perde para a Ucrânia, para a Rússia e para tantos outros países. A seleção brasileira, hoje, não tem identificação. Se jogadores brasileiros de ponta, como o Renato Augusto, melhor jogador do último Brasileiro, estão indo para a China, todos terão que passar a olhar para lá com outros olhos, passar a transmitir os campeonatos de lá, o que é uma coisa natural”.

Foto: Alexandre Vidal/Divulgação
>> Limite de estrangeiros – “Na segunda divisão da China, podemos contratar três estrangeiros e, no máximo, cinco jogadores da primeira divisão chinesa. Estamos preenchendo essas vagas e completando com jogadores, digamos, amadores. Esse é o start do trabalho. Falta mais uma contratação do Brasil e mais duas ou três dos profissionais chineses. Jadson e Luís Fabiano já estão contratados. Os nomes que têm saído por aí são vocês da imprensa que têm divulgado. Qualquer situação que seja falada agora pode prejudicar qualquer negociação”.
>> Tem que valorizar – “Tem muita gente jogando o futebol chinês para baixo. Poucos ressaltam que são brasileiros indo para lá levando seu ‘know-how’. Não conseguem ver coisas boas. Esse é o nosso meio, infelizmente. Por isso, os muitos problemas que temos no futebol, o que me preocupa. Vou lá para melhorá-los. Minha função é fazer com que, em um mês, já estejam diferentes, como daqui a dois meses. Quero ver evolução. Precisamos deixar um legado. Fui para Arábia Saudita, fui para o Real Madrid… Eu sei que vou encontrar dificuldade, porque me acostumei a estar na elite, na seleção brasileira. Eu tenho que me adaptar a eles, e não eles a mim. Estou levando só a minha experiência. Cabe a nós nos adaptarmos à cultura deles.”
Projeto prioriza cultura chinesa
“O time do Felipão (Guangzhou Evergrande) já está há seis anos nesse projeto. Nós estamos iniciando hoje. O nosso projeto é chegar, já nessa temporada, na primeira divisão. E já disputar a Copa da China com condições de ganhar para chegar na Liga Asiática. Assim, até anteciparíamos uma etapa. Isso é um projeto de três anos. Depois, com mais anos, com certeza poderemos brigar pela conquista da Liga Asiática. O presidente Sun me contratou para desenvolver esse trabalho”, contou o treinador, acrescentando: “Diferentemente dos Estados Unidos, que levou jogadores como Kaká, Lampard, Beckham e outros grandes nomes, a China está levando profissionais de qualidade para desenvolver o futebol, o que vira uma solidez, uma base. Com certeza, o resultado vai aparecer. Por exemplo: iniciei montando a comissão técnica, mas têm profissionais chineses junto comigo na comissão, para que eles conheçam o nosso trabalho e possam depois dar continuidade. Na sequência, ainda quero levar uma comissão para o departamento amador. A formação é nossa, mas a cultura é da China”.
“Estou levando um profissional, o Bebeto, que é analista de desempenho, um profissional que vai passar todo um conhecimento, analisar tudo o que acontece no futebol chinês e asiático. O Tianjin terá todas as informações de tudo o que acontece lá. Já está no Brasil trabalhando e faz parte da nossa comissão técnica”, informou Luxa.
Jadson e Luís Fabiano engajados
“O Jadson e o Luís Fabiano foram fantásticos. Apresentei para eles um projeto. Se você chega para o cara e diz ‘você quer ir para a segunda divisão?’ Ele vai falar não. Mas quando você apresenta um projeto, e mostra isso, isso, isso e isso, o cara vai querer estar dentro desse projeto. O Jadson disse ‘já estamos na primeira divisão, já estou engajado’. O Luís disse ‘quero ir e ser artilheiro’. Ele tem mais de 470 gols na carreira e quer chegar aos 500, o que o deixaria entre os oito maiores artilheiros do futebol mundial de todos os tempos, uma marca considerável. Esse barco que todos achavam que era furado, já não é mais. Já é um transatlântico que vai vir aqui no Brasil buscar muita gente.”
>> Amistosos – “Os jogadores estão há 60 dias parados, ainda debilitados fisicamente, o que é normal. Precisamos das duas primeiras semanas para dar uma base. A partir da terceira semana, já podemos realizar alguns amistosos. Chegaram algumas solicitações: Cruzeiro, no Espírito Santo; Vitória, em Salvador; e São Paulo, no Pacaembu, no dia do aniversário da cidade. Estamos analisando.”
por Jota Carvalho