Lei estadual prejudica tradicionais charreteiros de Queimados

Proibida desde 8 de janeiro, centenas de  famílias sobrevivem das charretes

Proibida desde 8 de janeiro, centenas de famílias sobrevivem das charretes

Uma lei estadual de autoria do deputado Dionísio Lins (PP) está deixando queimadenses preocupados. Sancionada no ultimo dia 8, ela proíbe o uso de animais como cavalos e jumentos para o transporte de cargas ou pessoas. No município de Queimados, a charrete é meio de transporte alternativo utilizado pela população que carece de linhas de ônibus em determinadas regiões da cidade.
A lei 7.194/16 não será aplicada aos animais utilizados em áreas rurais e turísticas, e quem descumprir a norma será penalizado de acordo com a legislação relacionada a maus tratos aos animais. “É uma crueldade o que se faz aos animais, é possível ver em centros urbanos animais carregando entulho, material de construção, móveis e até mudanças completas em carroças”, defende o deputado Dionísio Lins.
Para algumas famílias de Queimados, a charrete é o único sustento e uma tradição passada de pai para filho. Com medo de represálias, um grupo de charreteiros fez diversas denúncias ao JORNAL DE HOJE. “Estou aqui desde os dez anos de idade, comecei com o meu pai. Hoje, tenho 45, se for proibido exercer a única coisa que sei fazer, que trabalho vou arrumar com essa idade?”, indagou um charreteiro que pediu para não ser identificado.
De acordo com outro homem, nenhuma ajuda foi oferecida até o momento. “Querem apenas nos tirar de circulação. Nunca pensaram em uma regularização da nossa atividade ou padronização apesar da nossa insistência, e agora estão usando isso contra nós”, declarou o charreteiro que está na profissão há 35 anos.

População pede liberação das charretes

Apesar da licença concedida pela prefeitura, os charreteiros serão proibidos de circular

Apesar da licença concedida pela prefeitura, os charreteiros serão proibidos de circular

A proibição não é bem vista também pelos usuários. O auxiliar de serviços gerais Edson Nunes, de 38 anos, utiliza as charretes para chegar à estação ferroviária da cidade. “Saio de madrugada para trabalhar na Zona Sul, nesse horário ainda não tem ônibus. Na volta também vou de charrete por me deixar mais perto de casa”, contou. Ainda segundo ele, no bairro onde mora, Nossa Senhora da Glória, o único meio de transporte que chega ao local são as charretes por conta da falta de pavimentação.
Já o encarregado Francisco dos Santos, de 48 anos, defende o serviço prestado pelos charreteiros da cidade. “Estão tentando acabar com uma tradição do nosso município. Baixaram até a passagem de ônibus (de R$ 3,50 para R$ 1,50) na tentativa tirar os usuários deles”, declarou o encarregado.
Para os charreteiros, o preço promocional das tarifas de ônibus é uma ação para tentar inibir a frota. “Querem nos tirar daqui de qualquer jeito, mas não nos oferecem nada. Estamos aqui há 63 anos, levamos as pessoas aonde os ônibus não chegam”, desabafou uma charreteira. Segundo ela, o secretário de Transporte, Segurança e Trânsito de Queimados, Elias José, esteve no ponto e distribuiu um panfleto informando que as atividades deveriam ser encerradas no dia 8 de fevereiro.

Temos que cumprir a lei, diz secretário

Em nota, a prefeitura de Queimados informou que o secretário esteve ao local para distribuir a cópia da nova lei estadual. “Os serviços terão que ser paralisados na primeira segunda-feira após o Carnaval justamente para cumprir a legislação mencionada”, diz a nota. Ainda segundo a prefeitura, na próxima terça-feira (26), o secretário terá uma reunião com os representantes dos charreteiros para definir estratégias práticas que estabeleçam uma forma de não afetar a renda familiar dos mesmos com a proibição.
“Seria covardia da nossa parte comunicar a paralisação das atividades apenas em cima da hora. Lá trabalham pessoas simples que muitas vezes não têm acesso aos meios de comunicação. Fomos apenas dar ciência a eles da legislação publicada pelo estado que teremos que cumprir. Demos esse prazo de mais de um mês justamente para que eles não fossem pegos de surpresa, Vamos sentar com eles e elaborar um estratégia que pode solucionar o caso para que muitos deles não fiquem sem uma renda familiar”, explica o secretário Elias José.
A Prefeitura de Queimados ressaltou também que não há legislação que regulamenta o transporte por charretes no município, apesar de o mesmo existir há mais de 30 anos.

Promoção foi estratégia para atrair passageiros

Com tarifa a R$1,50, a empresa abaixou o preço por considerar o trajeto curto

Com tarifa a R$1,50, a empresa abaixou o preço por considerar o trajeto curto

Questionada sobre o baixo preço das tarifas de ônibus, a Prefeitura de Queimados informou que a empresa Fazeni colocou o valor de R$ 1,50 por considerar o trajeto muito curto. “A empresa tinha extinguido a linha por avaliar que não tinha lucro pelo baixo fluxo de passageiros. No entanto, por causa de pedidos dos moradores da região retornou com a linha. Neste retorno, a intenção da empresa era aumentar o número de passageiros, uma vez que, R$ 3,50 é considerado um valor alto em relação a extensão do trajeto”, diz a nota.
A partir da primeira segunda-feira após o Carnaval, as atividades dos charreteiros serão proibidas. Quem insistir poderá ser multado e a charrete será recolhida para um depósito público no bairro Paraíso. Já os animais serão encaminhados para um curral particular conveniado com a prefeitura.

 

 

 

 

Por: Gabriele Souza (gabriele.souza@jornalhoje.inf.br)

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