*Jana Nelson
O México e o Brasil se reuniram para discutir a expansão do acordo de investimento bilateral. Não é um acordo de livre comércio; é um acordo de investimento. A nuance é importante. Este acordo significa o fim de uma batalha silenciosa de três anos entre as duas maiores economias da América Latina sobre exportações de automóveis. Isso também significa o culminar de uma política externa brasileira discreta.
Este acordo é um dos muitos que o chanceler Mauro Vieira tem promovido em meio à crise econômica no Brasil e uma falta de interesse político no livre comércio. Não é um acordo de livre comércio, mas é uma excelente alternativa. Desde que assumiu o cargo, durante uma crise económica e uma aprovação historicamente baixa do governo Dilma, o chanceler brasileiro, discretamente, fez dos limões uma limonada.
O “Novo Modelo para Acordos de Investimento” é uma dessas limonadas do Ministro Vieira. No âmbito desta iniciativa, ele renovou investimentos e acordos econômicos com Moçambique (Março de 2015), Angola (Abril de 2015), Malawi (Junho de 2015), Colômbia (Setembro de 2015), e agora com o México, depois de um ano de negociações `as quais começaram em maio de 2015. O atual partido no poder tende a não ser favorável a acordos de livre comércio.
E, por um lado, o Brasil não precisa de um acordo de livre comercio–as 200 milhões de pessoas que conformam seu mercado interno são o suficiente para atrair muitas multinacionais. Mas, por outro lado, o mercado interno não é grande o suficiente para compensar ser deixado de fora de algo tão grande como um Acordo Transpacifico unido a um Acordo Transatlântico.
O Ministro Vieira entende suas limitações políticas domésticas, mas também reconhece que o Brasil não pode se dar ao luxo de estar economicamente isolado. Este “novo modelo” é sua maneira apartamentos em santos de ter sol na eira e chuva no nabal. Ao negociar a assinatura destes acordos, o Brasil constrói boa vontade política e estabelece as bases para potenciais acordos de livre comércio quando o ambiente político for propício.
A reunião de alto nível desta semana no México e os seus resultados não devem passar despercebido. Embora não seja vinculante, a negociação expande o acordo de investimento assinado em maio de 2015, inclui discussão de cooperação aduaneira, cooperação bilateral em matéria de turismo, cooperação em assuntos consulares, e até mesmo abre a porta para a cooperação em acordos regionais, incluindo o Mercosul e Aliança do Pacifico.
O México é o oitavo maior parceiro comercial do Brasil, com grande potencial de crescimento. Há mais de 30 CEOS brasileiros em empresas globais no México. E há várias marcas mexicanas no Brasil que são frequentemente consideradas nacionais – Fogões Continental e Pão de forma Pullman, são exemplos.
O Ministro Vieira começou seu mandato como Ministro de Relações Exteriores com um Itamaraty desmoralizado. Embora discretamente e com cautela, desde que foi empossado, o Ministro Vieira tem injetado criatividade, pró-atividade, e ordem necessária no Ministério das Relações Exteriores.
O Novo Modelo de Acordos de Investimento é um exemplo, mas também o são os frequentes comunicados de imprensa sobre temas globais que o Itamaraty agora produz; o lento, porem deliberado esforço de apoio `as diplomatas mulheres; e as inúmeras visitas a países amigos que ele tem feito recentemente, que não ‘e uma tarefa fácil em tempos de redução de custos.
A aula inaugural do Ministro Vieira deste ano no Instituto Rio Branco incluiu uma referência ao chanceler Azeredo da Silveira que disse “A melhor tradição do Itamaraty é saber renovar-se.” Este também parece ser o legado do Ministro Vieira—a reinvenção da política externa brasileira.
*Jana Nelson, vice-presidente da Speyside.