Formado por baianas de escola de samba, o quarto espetáculo da Cia Líquidaune histórias, dança, vestimenta e gestos apontando caminhos futuros e ancestrais – Chegando ao seu quarto espetáculo, a Cia Líquida de Dança Contemporânea estreia “ as três marias ”, obra inédita em muitas frentes. Com direção e coreografia de Mery Horta , junto de uma equipe criativa com diversos profissionais, a montagem leva à cena artistas mulheres negras de 63 a 74 anos com vasta experiência no mundo do samba. No palco, três baianas de escola de samba desenvolvem toda uma performatividade que une histórias, dança, vestimenta e gestos. Como as três estrelas da constelação que lhes dão nome e que, em diversas culturas, orientaram homens e mulheres, no espetáculo essas mulheres negras idosas nos brindam com suas existências cintilantes e nos apontam caminhos futuros e ancestrais. Circulando pelo Projeto Corpo Negro Indígena , o espetáculo acontece no dia 30 de maio , às 19h , no teatro do Sesc Nova Iguaçu e dia 31 de maio , às 15h , no teatro do Sesc Duque de Caxias com entrada gratuita .
A ideia principal da montagem é homenagear as baianas de escola de samba, essas matriarcas, mães do samba, figuras tão relevantes em nossa cultura. “E o melhor modo que encontrei para homenageá-las foi trazê-las para a cena. Acredito que as baianas já possuem seu próprio brilho, são nossas estrelas. E o nome do espetáculo faz referência justamente a um grupo de estrelas, esse asterismo que vemos no céu noturno e que chamamos de ‘Três Marias’. Além disso, o espetáculo também traz o próprio sentido do nome ‘Maria’ para a cena, com seus múltiplos significados que vão do catolicismo popular religiões de matriz afro-brasileira, que vão das questões relacionadas ao trabalho doméstico em sua vinculação com nosso passado escravista à ética do cuidado, uma ética que permeia grande parte das bases familiares brasileiras de origem popular”, adianta Mery Horta.
A potência de qualidade de movimento do corpo idoso feminino, assim como as histórias de vida e de samba dessas mulheres baianas, foram o ponto de partida para Mery desenvolver a criação dramatúrgica e poética do espetáculo, que foi criada e desenvolvida de modo a trazer as baianas não só na própria cena, como também o próprio imaginário que existe sobre elas em diálogo com questões em comum que permeiam suas vidas. No geral, quando se pensa em baianas de escolas de samba, além da forte presença de ancestralidade, amor e resistência, muitos giros são lembrados. Mas no palco, na construção das cenas, a ideia se amplia.
“Nós pesquisamos com uma dimensão sensorial que é característica dos trabalhos que desenvolvem na Cia Líquida. Partimos de simbologias e questões que são do universo das baianas, aliando à dança uma criação estética e visual desse universo, e indo além, trazendo simbologias de quem são essas baianas, essas Marias, essas mulheres matriarcas. Aqui, o céu é convidado a descer no palco, enquanto o público flutua ao ver essas estrelas brilhando. E somos embalados por essas mulheres, como na memória de um colo reconfortante de mãe, de avó, de tia, de uma benção e um desejo de boa sorte em nossas vidas”, sintetiza Mery.
Dando vida a tudo isso, três artistas especiais que estão dançando pela primeira vez num palco de teatro, mas que possuem uma vivência artística repleta de histórias. Alônia Cristina , 67 anos, enfermeira aposentada, cuidadora na ativa, moradora de Bangu, ainda possui experiência em dança de salão, maracatu elefante, ciranda e jongo; Zaninha Azevedo , 63 anos, comerciante aposentada, dança charme e mora em Campo Grande; e Maria Conceição Horta , 74 anos, costureira na ativa e lojista aposentada, moradora de Pedra de Guaratiba que, além de dançar na Cia Líquida, já fez diversas performances em exposições de artes visuais. Em comum, além de residirem na Zona Oeste carioca, todas são baianas com longos anos de atuação em desfiles e apresentações pela Mocidade Independente de Padre Miguel no Brasil e na Argentina.
“Vocês talvez não façam ideia do que isso significa pra gente. Na nossa idade, isso é muita coisa! Ter esse reconhecimento nessa fase da nossa vida…”, comemora Alônia Cristina. “Eu nunca imaginei acontecer isso que está acontecendo na minha vida! Quando criança eu tinha o sonho de dançar no teatro, de ser artista. E às vezes eu não acredito que estou realizando esse sonho com a idade que eu tenho. Me sinto realizado”, completa Zaninha Azevedo. “Nós somos artistas! Eu fico muito emocionado de pensar em tudo isso. Nós somos artistas!”, comemora Maria Conceição Horta.
Nos bastidores existem ainda mais um baluarte: Luzia Moreira, 90 anos, camareira aposentada e moradora de Padre Miguel, é a baiana mais antiga da Mocidade em atividade, e colaborou com o início de criação do espetáculo. “Na fase de concepção do espetáculo, quando planejado na composição do elenco, eu entendi que primeiro trazer as baianas para a cena, para o palco, para elas mesmas protagonizarem sua dança e sua história. Ser filha de uma baiana também teve grande influência na escolha do elenco. A primeira baiana que convida e que visualizai na cena foi minha mãe, Conceição Horta, a mãe do meu samba”, conclui Mery, que entrou para a ala de passistas da Mocidade Independente de Padre Miguel em 2017 e realizou sua pesquisa de mestrado e doutorado na Escola de Belas Artes da UFRJ a partir de questões surgidas desta vivência.
SERVIÇO / SESC NOVA IGUAÇU:
“AS TRÊS MARIAS”
Data: 30 de maio (sexta-feira) – Horário: 19h
Local: Sesc Nova Iguaçu
Endereço : Rua Dom Adriano Hipólito, 10 – Moquetá – Nova Iguaçu / RJ
Ingressos: Gratuitos. Retirada do ingresso na bilheteria da unidade Sesc da apresentação.
Classificação Indicativa : Livre – Duração : 50 minutos
Instagram : @cia.liquida
SERVIÇO/SESC DUQUE DE CAXIAS:
“AS TRÊS MARIAS”
Data: 31 de maio (sábado) – Horário: 15h
Local: Sesc Duque de Caxias
Endereço : Rua General Argolo, 47 – Centro – Duque de Caxias / RJ
Ingressos: Gratuitos. Retirada do ingresso na bilheteria da unidade Sesc da apresentação.
Classificação Indicativa : Livre – Duração : 50 minutos
FICHA TÉCNICA :
Realização: Cia Líquida
Direção e Coreografia: Mery Horta
Concepção: Mery Horta e Ramon Castellano
Assistente de Direção e Produção: Gik Alves
Intérpretes-criadoras/performers: Alônia Cristina, Conceição Horta e Zaninha Azevedo
Trilha Sonora Original: Rodrigo Maré
Figurinos e adereços: Conceição Horta e Raquel Gomes
Iluminação: Cristiano Teodoro
Designer: Thiago Fernandes
Fotos: Mery Horta – Assessoria de Imprensa: Marrom Glacê Comunicação
Apoio: Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro, Museu da História e da Cultura Afro-brasileira e GRES Mocidade Independente de Padre Miguel