Ex-diretor culpa ‘maus políticos’ por desvios da Petrobras

Paulo Roberto Costa em depoimento à CPI: "Ninguém chega à diretoria da Petrobras sem uma indicação política" Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Paulo Roberto Costa em depoimento à CPI: “Ninguém chega à diretoria da Petrobras sem uma indicação política”
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Ontem, em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa voltou a dizer que se arrepende de ter participado do esquema de corrupção na empresa e reiterou que está “pagando com muito sofrimento”. “A origem do que aconteceu na Petrobras foram maus políticos que fizeram isso acontecer. A oportunidade do Brasil agora é fazer uma ruptura de um sistema podre. Eu estou dando minha contribuição com muito sofrimento e muita dificuldade. Quero um país melhor no futuro. Estou pagando por isso, e não está sendo fácil”, disse Costa, adiantando que pretende contribuir com os trabalhos da CPI, respondendo às perguntas dos deputados.
É a terceira vez que ele vai ao Congresso depor sobre as irregularidades na estatal. Em setembro do ano passado, Costa esteve no Congresso para depor na comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) que investigava denúncias de corrupção na companhia. Ele, no entanto, não respondeu às perguntas dos parlamentares, usando o direito de ficar calado.
Em dezembro, o ex-diretor voltou à Casa para uma acareação com o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró. Na ocasião, Costa declarou que o caso da Petrobras se repete em todos os outros setores públicos do Brasil – “nos portos, nos aeroportos, nas rodovias, nas ferrovias e nas hidrelétricas”.

Não existe doação oficial
a partido no Brasil

Costa voltou a dizer que ele e Renato Duque (foto) receberam propinas

Costa voltou a dizer que ele e Renato Duque (foto) receberam propinas

Costa afirmou ainda que as empresas fazem doações a partidos para posteriormente recuperar o dinheiro quando o grupo político estiver no governo. “Não existe doação de empresas que não queiram recuperar o dinheiro depois. Quem me disse isso foram empresários. Se ele doa R$ 5 milhões, ele vai querer recuperar R$ 20 milhões”, declarou Costa à CPI da Petrobras. “Não existe almoço de graça. Por que uma empresa de capital privado vai doar R$ 10 milhões, se ela não for cobrar depois? Muitos valores tidos como oficiais, não eram oficiais, isso me foi dito por empresários”, disse Costa.
Costa é um dos principais delatores da operação Lava Jato, que apura o desvio de dinheiro na Petrobras, e cumpre prisão domiciliar no Rio de Janeiro. Ele foi preso em março do ano passado por suspeita de receber propina de fornecedores da estatal para facilitar a fechamento de contratos com essas empresas.
Após fazer acordo de delação premiada, o ex-diretor foi autorizado a permanecer em casa usando uma tornozeleira eletrônica.
Em seu acordo de delação premiada, Costa afirmou que ele e Renato Duque, ex-diretor de Serviços da estatal, receberam propina de empreiteiras.
A operação Lava Jato se baseia em seu depoimento e o do doleiro Alberto Youssef para investigar o esquema milionário de lavagem de dinheiro envolvendo a Petrobras. A operação também investiga um esquema de cartel formado pelas principais empreiteiras do país que tinham contratos com a estatal.

Todos foram coniventes conscientes

O ex-diretor da estatal não poupou confissões e denúncias: “Nós (Costa e Duque) tomamos conhecimento do cartel, sabíamos que tinha um cartel e fomos coniventes com o cartel”, confirmou Costa.
Paulo Roberto negou que tenha prejudicado empreiteiras que possuíam contratos com a Petrobras e que não pagavam a propina definida pelo esquema de corrupção.
“Não houve nenhum achaque por minha parte dessas empresas. Se houvesse isso ou se havia isso, por que esses empreiteiros não procuraram a Polícia Federal? As empreiteiras tinham interesse por outras partes do governo. As empreiteiras faziam isso para atender a classe política e atender as necessidades”, afirmou Costa.
O ex-dirigente afirmou que a corrupção na Petrobras começou com interferência política na gestão da empresa. Segundo ele, não se chega a diretoria da estatal sem apoio de partido. Costa já esteve em outra CPI que investigou o esquema no passado formada, mas se recusou a responder parte das perguntas dos parlamentares. Hoje está respondendo a todas as perguntas.

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