Enterrado o corpo de médica morta na Linha Vermelha

Renato Palhares, marido de Gisele, se despediu da esposa com um beijo Foto: Henrique Coelho/G1

Renato Palhares, marido de Gisele, se despediu da esposa com um beijo
Foto: Henrique Coelho/G1

Parentes, amigos e colegas de trabalho se despediram ontem da médica Gisele Palhares Gouvêa, assassinada com um tiro na cabeça em uma suposta tentativa de assalto no acesso da Rodovia Presidente Dutra à Linha Vermelha, na altura de São João de Meriti. A mulher de 34 anos foi enterrada no Cemitério Jardim da Saudade, em Mesquita. O crime ocorreu na noite do último sábado (25), quando a médica dirigia seu Range Rover Evoque e foi abordada pelos criminosos.
O corpo da doutora, que era diretora-geral da Clínica da Família de Vila de Cava, em Nova Iguaçu, foi velado na loja maçônica Amenofis IV, na Avenida Abílio Augusto Távora (antiga Estrada de Madureira), de onde partiu para o Jardim da Saudade e foi sepultado às 14h30.

Amigos da médica assassinada prestaram uma última homenagem antes do sepultamento Foto: Sandro Vox/Agência O DIA

Amigos da médica assassinada prestaram uma última homenagem antes do sepultamento
Foto: Sandro Vox/Agência O DIA

Inconsolável com a perda da filha, o aposentado Uzias de Moura Gouvêa, de 65 anos, disse que esteve com Gisele pouco antes do crime. A médica havia saído de um evento beneficente no bairro Velho Iguaçu, em Nova Iguaçu, e passou na casa do pai. Ao ir embora, ela disse que ligaria assim que chegasse em sua residência, na Barra da Tijuca, para comunicar que havia chegado em segurança. Porém, o telefone de Uzias não tocou.
“Ela sempre ligava, era um costume nosso. Eu já estava numa agonia e resolvi ligar. Um policial militar atendeu e disse que ela havia sofrido um acidente”, relatou o pai da vítima.
Uzias descreveu a filha como uma “menina muito amada por todos” e criticou duramente as leis que, segundo ele, protegem os bandidos e deixam a população à mercê da criminalidade. “Nossas leis são muito arcaicas e precisam ser mudadas. Os direitos humanos trabalham em prol dos bandidos. O policial não pode enconstar um dedo no marginal, senão será chamado na corregedoria ou poderá perder o emprego. Por isso estão morrendo tanto policiais, tanta gente de bem. O Brasil precisa de uma reforma urgente”, desabafou.
O marido de Gisele, o também médico Renato Palhares revelou que houve aumento no policiamento no local onde sua esposa foi morta. No entanto, ele não crê que o reforço será mantido por muito tempo.
“Eu quero ver se na semana que vem estará a mesma coisa. Ou o Brasil, nós cidadãos, nos unimos e mudamos, ou vamos acabar vítimas dessa violência. O país está sendo dominado pelos criminosos. Se continuar desse jeito, acontecerá algo com os nossos filhos, os nossos irmãos, nossas famílias”, disse o viúvo, que pretende deixar o Brasil para viver no exterior.
Renato Palhares falou ainda sobre a opção de doar os órgãos da esposa. “Essa sempre foi uma vontade dela. Como já disse várias vezes, Gisele é uma pessoa incrível, muito boa e sempre pensou em levar o bem ao próximo, até depois de morta ela quer ajudar”.

Prefeitos prestam solidariedade à família da vítima

Dona Rosa Maria, mãe da médica, pede ao prefeito Bornier que interceda por segurança pública junto ao governador Foto: Charles Souza

Dona Rosa Maria, mãe da médica, pede ao prefeito Bornier que interceda por segurança pública junto ao governador
Foto: Charles Souza

Entre parentes e amigos presentes ao velório e ao sepultamento de Gisele Palhares, estiveram dos prefeitos com os quais a médica tinha grande identificação e laços de amizade: Nelson Bornier, de Nova Iguaçu, e Ivaldo Barbosa dos Santos, o Timor, de Japeri.
Rosa Maria Oliveira Santana e Silva, mãe da médica, pediu para que Bornier interceda junto às autoridades do Estado para que haja mais segurança. “O problema não afeta apenas Nova Iguaçu, mas todo o Rio de Janeiro. Estamos refém, sem poder sair de casa, sem poder trabalhar; lazer, nem pensar. Estamos, todos, com medo, aterrorizados”, disse, aos prantos.
Bornier lamentou a morte e classificou a jovem médica como “profissional dedicada, competente, grande parceira da cidade e dos mais humildes” e disse esperar “que as autoridades de segurança sejam rigorosas na apuração e na aplicação da justiça nesse bárbaro crime que deixou de luto a cidade.”
Já o prefeito Timor, que era padrinho do casamento entre Gisele e Renato, lembrou que a médica atuou em Japeri durante alguns anos de sua carreira e lamentou a perda precoce da amiga. Assustado com os incides de violência cada vez mais altos, Timor disse que há 15 dias protocolou na Segurança Pública um pedido de reforço no policiamento e a instalação de cabines da PM nas entradas de Japeri. Timor decretou luto oficial de três dias no município.

‘Qualquer linha de investigação será checada’, diz delegado

A Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) já está investigando a morte da médica. O delegado titular da DHBF, Giniton Lages, afirmou que irá refazer o trajeto que a médica percorreu, de Nova Iguaçu até a entrada da Linha Vermelha, para saber se ela era perseguida no momento do crime. Parentes da médica também serão ouvidos, para que a polícia possa traçar o perfil da vítima. Além disso, a especializada já encaminhou equipes para recuperar imagens de câmeras de segurança que monitoram a Linha Vermelha e a Rodovia Presidente Dutra com o objetivo de saber se as imagens flagraram a ação dos bandidos que mataram Gisele na alça de entrada da Linha Vermelha.
“Nós vamos analisar todas as possibilidades, a começar das investigações preliminares para saber maiores informações possíveis sobre o deslocamento. Isso é muito importante para descartar a hipótese de ela ter sido perseguida desde onde saiu. A partir disso vamos nos focar no local do evento, que é a Linha Vermelha, onde também faremos um esforço para tentar localizar câmeras instaladas na via. Qualquer linha de investigação será checada, inclusive tentativa de latrocínio”.
O Disque-Denúncia lançou o cartaz para ajudar nas investigações. Quem souber de alguma pista que ajude a identificar os criminosos, entre em contato pelo número 2253-1177 ou pelo whatsapp/telegram no número 968021650. O anonimato é garantido.

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