Festa e protestos marcam passagem da tocha pela Baixada

O paratleta Michel Pessanha, do remo, foi o responsável por encerrar o revezamento da tocha ao chegar à Praça do Pacificador, em Duque de Caxias Foto: Rio 2016-Marcos de Paula

O paratleta Michel Pessanha, do remo, foi o responsável por encerrar o revezamento da tocha ao chegar à Praça do Pacificador, em Duque de Caxias
Foto: Rio 2016-Marcos de Paula

A Baixada Fluminense viveu ontem um momento histórico. Pela primeira vez, desde a primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, em Atenas, na Grécia, em 1896, a região recebeu o revezamento da Tocha Olímpica. A chama, vinda diretamente do berço das Olimpíadas, percorreu das ruas de Duque de Caxias, São João de Meriti, Nilópolis, Belford Roxo e Nova Iguaçu. Vale lembrar que em 2007 a Baixada esteve na rota do revezamento da Tocha Pan Americana, para os Jogos Pan Americanos disputados naquele ano na cidade do Rio de Janeiro.
A passagem da Tocha Olímpica pela Baixada começou por Duque de Caxias e foi marcada por protestos e muita confusão entre manifestantes e a polícia, que precisou usar spray de pimenta, bombas de efeito moral e até tiros com balas de borracha para dispersar os mais exaltados. De acordo com o Corpo de Bombeiros, pelo menos três pessoas ficaram feridas, entre elas uma menina de 10 anos. Por conta dos protestos, o trajeto da chama teve que ser alterado.

Sebastião Oliveira é fundador da Associação Miratus de Badminton e verá seu filho, Ygor Oliveira, participar dos Jogos Foto: Rio 2016-Marcos de Paula

Sebastião Oliveira é fundador da Associação Miratus de Badminton e verá seu filho, Ygor Oliveira, participar dos Jogos
Foto: Rio 2016-Marcos de Paula

Apesar da confusão, o revezamento seguiu e a tocha passou pelas mãos de celebridades, como a jornalista e apresentadora do RJTV, da Rede Globo, Mariana Gross. Outro destaque foi a presença de Rosilane Mota, que defendeu a Seleção Brasileira nos Jogos Olímpicos de Atlanta, nos Estados Unidos, em 1996.
A passagem da tocha contemplou não só os famosos, mas também aqueles que promovem boas ações que fazem diferença na vida das pessoas. Este é o caso de Sebastião Oliveira, Fundador da Associação Miratus de Badminton, um projeto social criado em 1988, na comunidade da Chacrinha, que por meio do esporte formou dois atletas que irão participar dos Jogos Olímpicos Rio 2016, entre eles Ygor Oliveira, filho de Sebastião.
“Estamos todos muito felizes. Sinto orgulho de que dois dos atletas da Seleção Brasileira de Badminton tenham nascido na nossa comunidade,” emociona-se
A tocha olímpica se despediu de Duque de Caxias na Praça do Pacificador, onde uma festa animou um público estimado em cerca de cinco mil pessoas, segundo a Defesa Civil do município, durante toda a manhã. Último condutor, o paratleta de remo, Michel Pessanha, foi aplaudido durante os 200 metros finais do revezamento.

 

Ruas de São João de Meriti são tomadas por uma multidão

Milhares de pessoas lotaram a Praça dos Três Poderes, em frente à prefeitura, para saudar a Tocha Olímpica Foto: Glaucio Burle

Milhares de pessoas lotaram a Praça dos Três Poderes, em frente à prefeitura, para saudar a Tocha Olímpica
Foto: Glaucio Burle

De Duque de Caxias Caxias a Tocha Olímpica seguiu para São João de Meriti, onde 30 mil pessoas se espalharam pelas ruas para acompanhar a passagem da chama em seus 3,1 km de percurso. Cerca de 10 mil estudantes das 65 escolas municipais formaram um corredor humano para saudar o símbolo da maior competição esportiva do planeta.
O início do percurso foi feito por Sérgio Claro Neto. O empresário de 66 anos, que nasceu em Portugal, mas mora e trabalha em Meriti há 51 anos, recebeu a chama olímpica do estudante da rede municipal e representante do Grêmio Estudantil Cultura Viva, Erick Santana.
“É uma emoção que não consigo definir. É uma honra ter sido escolhido entre cerca de 600 mil meritienses e poder representar esse povo em um momento único para a história do nosso município e do Rio de Janeiro. Vai marcar a minha vida”, contou Sérgio Claro.

Medalha de bronze na 1ª Olimpíada Brasileira de Matemática, Matheus Dias Neiva foi um dos condutores da tocha em São João de Meriti Foto: Rio 2016-Marcos de Paula

Medalha de bronze na 1ª Olimpíada Brasileira de Matemática, Matheus Dias Neiva foi um dos condutores da tocha em São João de Meriti
Foto: Rio 2016-Marcos de Paula

Além do empresário, outras 14 pessoas foram agraciadas e carregaram a tocha olímpica em São João de Meriti. Coube ao ex-aluno da rede municipal de ensino, Matheus Dias Neiva, que em 2005 conquistou a medalha de bronze na 1ª Olimpíada Brasileira de Matemática, a missão de encerrar o percurso.
“Espero representar bem a cidade. Estou aqui por causa da Educação, por ter estudado em São João de Meriti, por causa dos professores. Estou aqui por eles e pela minha família. Espero mostrar que, apesar de ser aluno de uma escola municipal, a gente é capaz do que a gente quiser. Não é porque nascemos em uma cidade Baixada Fluminense que não podemos alcançar nossos objetivos. Quando se quer, não há limites”, disse o atual estudante de Engenharia Civil na UFRJ.
O percurso começou na Praça José Alves Lavoura (JAL), seguiu pela Avenida Automóvel Clube, Centro do Vilar dos Teles, Avenida Presidente Lincoln e terminou na Praça José Amorim, a antiga Praça dos Três Poderes, em frente à prefeitura.
Em meio à multidão, cerca de 50 manifestantes se posicionaram no ponto final do trajeto e exibiram faixas de “Fora Temer” e “Tem dinheiro para Olimpíadas, mas não tem para Educação”.

 

Força Nacional interrompe revezamento em Nova Iguaçu

A velocista Evelyn Santos conduziu a tocha pelas ruas de Nilópolis

A velocista Evelyn Santos conduziu a tocha pelas ruas de Nilópolis

Após passar por São João de Meriti a tocha foi para Nilópolis, onde a velocista Evelyn Santos foi uma das condutoras. Já era início de noite quando o revezamento chegou às ruas de Belford Roxo, quarta cidade da Baixada na rota do fogo olímpico. E não faltou quem quisesse estragar a festa. A todo instante bombas eram disparadas no entorno do percurso, assustando os condutores e o público que acompanhava a passagem da tocha.
A última cidade a receber a tocha foi Nova Iguaçu. Assim como em Duque de Caxias, três jovens iguaçuanos tiveram o privilégio de receber o símbolo olímpico graças ao bom desempenho na redação. Foram eles Maria Luísa de Queiroz, 13 anos, Nicole da Silva, 12, ambas da Escola Estadual Mestre Hiran, e Atos Edwin, aluno do CEFET de Santa Rita.

Morador de Belford Roxo tentou apagar a tocha atirando cal e água da janela

Morador de Belford Roxo tentou apagar a tocha atirando cal e água da janela

Com mais de três horas de atraso o revezamento em Nova Iguaçu começou pelo Centro, quando o previsto era ser iniciado no Jardim Tropical. Houve tumulto em frente à Prefeitura e manifestantes tentaram a todo custo interromper a passagem da tocha.
A mudança de percurso frustrou milhares de expectadores, que aguardavam a chegada da tocha em diferentes pontos da cidade. “Minha filha chorou muito. Como explicar isso a uma criança de cinco anos? Tinha muita gente na rua com crianças pequenas, senhoras com cadeirinhas, foi muito triste. Tinha gente querendo protestar, mas muitos estavam lá para saudar a tocha. O espírito olímpico acabou”, lamentou a dona de casa Kellen Crugeiro Bittencourt da Costa, moradora do Caonze.

Maria Luísa, Nicole e Atos foram alvo de objetos atirados por manifestantes

Maria Luísa, Nicole e Atos foram alvo de objetos atirados por manifestantes

Na sede do Centro Social São Vicente, o antigo Patronato, o jogador de futebol Emerson Sheik recebeu a tocha e a levou até o palco montado na Via Light, na altura da Rua Professor Paris. Coube a ele a missão de acender a pira montada no palco que recebeu a banda iguaçuana OutroEu.
Após a pira ser acesa o revezamento foi retomado de onde deveria ter iniciado, no Jardim Tropical. O percurso seguiu somente até a altura do Country Club, quando o evento foi encerrado pela Força Nacional para preservar a segurança dos condutores.
O revezamento da Tocha Olímpica continua amanhã, já na cidade do Rio de Janeiro. Na sexta-feira (5) a chama finalmente chegará ao seu destino final, o Estádio do Maracanã, onde será realizada a Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos. A expectativa é que Pelé, eleito o Atleta do Século XX, seja o responsável por acender a pira olímpica.

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