Frustração e revolta após revezamento incompleto

Moradores do Caonze ficaram decepcionados por não terem visto o revezamento da Tocha Olímpica não cruzar as ruas do bairro Foto: Ivan Teixeira/Jornal de Hoje

Moradores do Caonze ficaram decepcionados por não terem visto o revezamento da Tocha Olímpica não cruzar as ruas do bairro
Foto: Ivan Teixeira/Jornal de Hoje

O dia 3 de agosto vai ficar marcado na história de Nova Iguaçu. No entanto a data não será lembrada da forma como muitos iguaçuanos desejavam. Cartazes espalhados pelos 10 quilômetros de ruas que estavam no percurso do revezamento do símbolo máximo dos Jogos Olímpicos avisavam: “3 de Agosto. A Tocha Olímpica vai passar por aqui!”. Porém, o que deveria ser uma noite de festa terminou em frustração para milhares de pessoas.
Moradora do Caonze, a aposentada Jane Duarte levou o neto Pedro Henrique Vieira Malta, de 11 anos, e seus colegas para ver passagem da chama olímpica. “Ficamos das 16h até as 22h43 esperando a tocha e fomos embora frustrados, indignados”, lamenta.
A tristeza de Pedro Henrique foi amenizada na manhã seguinte, quando uma tocha foi levada ao colégio onde ele estuda. “Fiquei chateado por não ver o revezamento, mas vi a tocha na escola. Estava apagada, mas tirei fotos com ela e senti muita emoção”, relata o menino.
A pequena Victória Bittencourt, de 5 anos, não teve a mesma sorte de Pedro Henrique. Depois de mais de cinco horas de espera ela voltou para casa sem ver o revezamento. “Ela chorou muito, pois estava muito animada. Nós enfeitamos as ruas, preparamos uma grande festa e foi tudo em vão”, relata Kellen Crugeiro Bittencourt da Costa, mãe da menina.

 João Gabriel vestiu seu quimono para ver a tocha, mas ficou decepcionado e pousou ao lado da ‘tocha da vergonha’

João Gabriel vestiu seu quimono para ver a tocha, mas ficou decepcionado e pousou ao lado da ‘tocha da vergonha’

Já a técnica de laboratório Patrícia Monteiro vai além. “Meu filho ficou de pé por mais de quatro horas e ninguém teve a hombridade de dar uma satisfação a ele e a todos que aguardavam a tocha. As pessoas se sentiram humilhadas, desclassificadas. Será que não somos dignos de receber a tocha no bairro ou ao menos uma explicação?”, questionou a mulher de 46 anos, moradora da Rua Calisto de Aguiar.
Não foram só os moradores do Caonze que foram frustrados pelo fracasso do revezamento da tocha por Nova Iguaçu. Outras localidades também ficaram de fora do trajeto original, até mesmo a sede da Prefeitura, no Centro, onde o pequeno João Gabriel Souza Diniz, de 6 anos, aguardava a chegada do fogo olímpico na companhia de seu pai, Cláudio Roberto Campos de Souza, 38.
“O João acordou cedo, estava muito ansioso e me pediu para o deixar vestir seu quimono do judô. Chegamos no Paço Municipal às 15h para ficar em um bom lugar, mas ficamos decepcionados quando soubemos que a tocha não chegaria”, disse Cláudio, que só foi embora da prefeitura às 23h40.

Pira iguaçuana é acesa durante revezamento em Belford Roxo

O trajeto da chama olímpica até Nova Iguaçu foi longo. A cidade foi a última das seis no roteiro do revezamento de quarta-feira. Antes a tocha passou pelo Rio de Janeiro, Duque de Caxias, São João de Meriti, Nilópolis e Belford Roxo.
O longo percurso, aliado às manifestações que ocorreram em todas as cidades anteriores, fiz com que o revezamento começasse com cinco horas de atraso, em Nova Iguaçu. A chama deveria ter iniciado seu passeio às 17h30, no bairro Jardim Tropical, mas só chegou ao local por volta das 22h30.
Enquanto isso os condutores aguardavam a chegada da tocha e a polícia tinha trabalho para conter a fúria de manifestantes. Segundo informações, a Prefeitura de Nova Iguaçu chegou a ser invadida e a Tropa de Choque da Polícia Militar teve que intervir.

A Tropa de Choque da PM teve trabalho para conter a ação de manifestantes concentrados em frente à Prefeitura de Nova Iguaçu Foto:  Ivan Teixeira/Jornal de Hoje

A Tropa de Choque da PM teve trabalho para conter a ação de manifestantes concentrados em frente à Prefeitura de Nova Iguaçu
Foto: Ivan Teixeira/Jornal de Hoje

Responsável por acender a pira posta no palco montado na Via Light, na altura da Rua Professor Paris, já no Centro, o jogador de futebol Emerson Sheik aguardava a chama olímpica desde as 18h, no Centro Social São Vicente (antigo Patronato). Já era mais de 20h quando a organização do evento decidiu promover uma mudança drástica no roteiro e inverter a ordem dos acontecimentos. O atacante do Flamengo acendeu a pira e fez a alegria de quem aguardava o tão esperado momento. No entanto, àquela altura o revezamento ainda estava em Belford Roxo.
Quando a tocha finalmente chegou à Nova Iguaçu, parte da população, que estava espalhada pelas ruas com o intuito de saudar o símbolo olímpico, se juntou aos manifestantes e vaiou a passagem da chama. Houve quem atirasse objetos e até lixo em direção aos condutores.
Já passava das 23h30 quando o revezamento se aproximava do Centro de Nova Iguaçu quando a organização decidiu encerrar o evento nas proximidades do Country Club.

Prefeitura responsabiliza organização do evento

Já era madrugada de ontem quando a Prefeitura de Nova Iguaçu emitiu nota sobre o fim melancólico do revezamento na cidade, através do Facebook do prefeito Nelson Bornier. A prefeitura se eximiu de culpa e disse que ofereceu o “apoio necessário” para a celebração.
“Fomos vítimas da covardia dos organizadores, que frustraram os populares, desrespeitando o que havia sido acordado. Apesar de receberem todas as garantias de segurança e ordem das autoridades municipais e do 20º. BPM para o trajeto integral, os organizadores cancelaram o evento no meio do percurso, encerrando um dia que ficou marcado pela total desorganização dos seus promotores, com sucessivas falhas, começando com a elaboração de um roteiro com seis cidades a serem percorridas em um espaço de tempo de 12 horas”, diz um trecho da nota.
A prefeitura lamentou ainda o que classificou como “arrogância, falta de respeito e covardia contra seu povo exercida pela organização do revezamento”. “Repudiamos o que foi feito com nossa gente e esperamos que os organizadores tenham a nobreza de fazer um desagravo ao povo desta cidade”, complementa.

Organização do Tour da Tocha explica atraso

Ao saber do post, o comitê organizador do Tour da Tocha se posicionou explicando que houve mudanças no percurso não só no município, mas em todo o trajeto na Baixada Fluminense, o que acabou impactando o final do evento.
“Por recomendação de segurança, a organização do revezamento da tocha foi obrigada a modificar percursos, ontem [quarta-feira], na Baixada Fluminense. Infelizmente isso provocou alterações de horário e atraso na chegada do comboio à cidade de Nova Iguaçu, última do dia. O revezamento foi realizado mesmo assim e não houve cancelamentos. Em respeito aos participantes, pelo adiantado da hora, optamos por diminuir os trechos dos condutores, buscando minimizar o atraso sem prejuízo da festa. Agradecemos aos moradores de Nova Iguaçu pela compreensão e entusiasmo com a passagem do símbolo de paz dos Jogos Olímpicos.”

Colaboração: Ivan Teixeira e Erick Bello
por Raphael Bittencourt – raphael.bittencourt@jornalhoje.inf.br

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