Presença Mística nos Direitos Humanos

*Wagner Dias Ferreira

“Nossos direitos vêm, nossos direitos vêm. Se não vierem nossos direitos o Brasil perde também” ­– Zé Rufino. A primeira vez que tive contato com a pessoa de Fábio Alves dos Santos foi em 1991, quando o professor de Cultura Religiosa na PUC-MG participou de um evento da Pastoral Universitária em Belo Horizonte, conduzindo um momento de espiritualidade. Logo em seguida a este acontecimento passei a fazer estágio na Comissão Pastoral de Direitos Humanos da Arquidiocese de Belo Horizonte, onde o mesmo professor Fábio assumia como advogado da Pastoral.
Homem de personalidade muitíssimo forte, com certeza marcou a vida de todos que o conheceram. Sem ser melhor do que ninguém, penso que a minha de um modo ainda mais especial. Fui estagiário dele na Pastoral por cerca de dois anos (92/94) e no escritório que mantinha na rua Goitacazes, na capital mineira, por uns seis meses. Aliás, o trabalho neste escritório foi motivo de uma briga feia entre nós. Que depois, naturalmente, trilhou o caminho da reconciliação, como deve ser na vida de todo cristão.
Estive, como convidado, com Fábio, e também com o padre Paulo Stumpf (diretor da Escola Superior Dom Helder Câmara) e a Freira Maria Emília da Silva (referência na Defesa de Direitos Humanos em Minas Gerais), em uma reunião do JUSOL (Justiça e Solidariedade) ligado ao Conselho dos Religiosos do Brasil, reunião ocorrida em Brasília onde nasceu a ideia que depois gerou a Fundação Movimento Direito e Cidadania e depois a Escola Superior Dom Helder Câmara. Empenho e mérito do Pe. Paulo, mas ideia do coletivo. Ser testemunha de uma história tão bonita e vigorosa foi uma honra que devo ao Fábio, que garantiu a minha ida ao evento.
Estive ainda com o nobre professor, amigo e colega de profissão em momentos gloriosos, como no curso da Frente Penitenciária realizado em Itaúna/MG, por ser a sede da primeira e pioneira experiência de Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (APAC) em Minas Gerais e depois juntos na cerimônia de lançamento e instalação da APAC de Santa Luzia. E mais de uma centena de vezes nos corredores do Fórum Lafayete quando ali estava o Fábio pelo Serviço de Assistência Judiciária da PUC e eu na militância forense comum.
Enquanto fazia o estágio na Pastoral de Direitos Humanos pude atuar na preparação de um júri orientado pelo professor Fábio que depois foi realizado pelo professor Leonardo Yarochewsky e em processos nas comarcas de Betim e Vespasiano que certamente orientam minha atuação até hoje. Mas quando participei da elaboração de um recurso de apelação, em um caso de latrocínio, cujo relator no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) foi o ilustre desembargador Kelsen Carneiro, foi o ápice estudantil. Nunca me esqueço do caso do esforço e do resultado, quando o próprio relator reconheceu que o recurso era demasiado acadêmico, tamanha fora a preocupação de fazer um trabalho bem feito e cobrindo todas as possibilidades.
Nas inúmeras lutas do dia a dia o professor Fábio sempre repetia o refrão da música que abre este articulado e a repetição fez com que essa verdade se instalasse em minha alma, incorporando-se ao meu ser. Quando qualquer um de nós brasileiros perde o seu direito humano, portanto, direito que transcende fronteiras, todo o país perde, toda humanidade perde.

*Wagner Dias Ferreira*, Advogado e Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG*.

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