Em artigo, Lula se diz vítima de ‘caçada judicial’

Acusado de crimes que podem resultar em 56 anos de cadeia, ex-presidente insiste que "jamais encontraram um ato desonesto" dele  Foto: William Volcov/Divulgação

Acusado de crimes que podem resultar em 56 anos de cadeia, ex-presidente insiste que “jamais encontraram um ato desonesto” dele
Foto: William Volcov/Divulgação

O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva se considera vítima de “uma verdadeira caçada judicial”. Em artigo que ele assina, publicado, ontem (18), no jornal Folha de S.Paulo, o petista alega que em 40 anos de atuação pública, seus adversários e a imprensa “jamais encontraram um ato desonesto” de sua parte. E às vésperas de completar 71 anos (no dia 27 deste mês), diz ver o seu nome “no centro de uma verdadeira caçada judicial”. Na segunda-feira (17), manifestantes em defesa do ex-presidente fizeram vigília em frente a casa dele, em São Bernardo, após informação circulada nas redes sociais sobre suposta prisão de Lula.
Sem citar o juiz Sérgio Moro, que conduz as investigações da Operação Lava Jato, Lula diz que devastaram suas contas pessoais, as de sua esposa e filhos, grampearam seus telefonemas, invadiram sua casa e o conduziram à força para depor, sem motivo razoável ou base legal. “Estão à procura de um crime para me acusar, mas não encontraram e nem vão encontrar”, destaca no artigo.
O ex-presidente diz que “essa caçada” começou na campanha presidencial de 2014 e, mesmo assim, não desistiu de continuar percorrendo o País e nem desistiu da luta por igualdade e justiça social. Ele cita conquistas das gestões petistas, como o Bolsa Família, o Luz para Todos, o Minha Casa Minha Vida e o acesso de jovens pobres e negros ao ensino superior. O ex-presidente argumenta que não pode se calar diante “dos abusos cometidos pelos agentes do Estado que usam a lei como instrumento de perseguição política”. Para o petista, “episódios espetaculosos”, como as prisões de seus ex-ministros Antonio Palocci e Guido Mantega (solto horas depois da detenção), interferiram no resultado das eleições municipais do primeiro turno.
Em sua defesa, Lula afirma que jamais praticou, autorizou ou se beneficiou de atos ilícitos na Petrobras ou em qualquer outro setor do governo. E critica a classificação, segundo ele martelada pela mídia, de que o Partido dos Trabalhadores é uma organização criminosa. E informa que em dois anos de investigações, não foi encontrado “nenhum centavo não declarado” em suas contas, nenhuma empresa de fachada e nenhuma conta secreta. “Moro há 20 anos no mesmo apartamento em São Bernardo”, emendou.
No artigo, o petista alega que “há uma perigosa ignorância” dos agentes da lei quanto ao funcionamento do governo e das instituições, como o Parlamento. E destaca que causa indignação e surpreende “a leviandade, a desproporção e a falta de base legal das denúncias”. “Não mais se importam com fatos, provas, normas do processo. Denunciam e processam por mera convicção.” E reitera que não pode ser acusado de corrupção, já que não é mais agente público desde 2011.

Lula afirma ainda que seus acusadores sabem que ele não roubou, não foi corrompido nem tentou obstruir a Justiça. “Mas não podem admitir, não podem recuar depois do massacre que promoveram na mídia”. E continua: “Tornaram-se prisioneiros das mentiras que criaram, na maioria das vezes a partir de reportagens facciosas e mal apuradas. Estão condenados a condenar e devem avaliar que, se não me prenderem, serão eles os desmoralizados perante a opinião pública.” Segundo ele, “não é o Lula que pretendem condenar”, mas sim o projeto político que representa junto com milhões de brasileiros e a democracia brasileira.
No final do artigo, o ex-presidente diz que ele e o PT apoiam as investigações, o julgamento e a punição de quem desvia dinheiro público, reiterando que ninguém atuou tanto quanto os governos petistas para criar mecanismos de controle de verbas públicas, transparência e investigação. E cita ter a consciência tranquila e o reconhecimento do povo. “Confio que cedo ou tarde a Justiça e a verdade prevalecerão, nem que seja nos livros de história”, diz Lula, argumentando que o que mais lhe preocupa no momento “são as contínuas violações ao Estado de Direito”, como a “sombra do estado de exceção que vem se erguendo sobre o País.”

Mulher de Cunha prestará
depoimento a Moro

Eduardo Cunha e sua mulher, a jornalista Cláudia Cruz Foto: Marcos Oliveira/Divulgação

Eduardo Cunha e sua mulher, a jornalista Cláudia Cruz
Foto: Marcos Oliveira/Divulgação

O juiz federal Sérgio Moro marcou para dia 16 de novembro o interrogatório de Cláudia Cruz, mulher do ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Cláudia será interrogada na ação penal em que responde pelos crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Ela é acusada de ser beneficiária das contas atribuídas ao deputado na Suíça.
Em junho, Moro recebeu denúncia apresentada pela força-tarefa de procuradores da Operação Lava Jato contra Cláudia Cruz e outros investigados que viraram réus. A denúncia é vinculada à ação penal a que Cunha responde por não ter declarado contas no exterior.
Na semana passada, Moro decidiu dar prosseguimento à ação. Eduardo Cunha virou réu quando a ação ainda estava no Supremo Tribunal Federal. Com a perda do mandato, Cunha deixou de ter foro privilegiado e o processo foi enviado à Justiça Federal em Curitiba. O ex-deputado também responde pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

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