Cabral é preso por corrupção e lavagem de dinheiro

O ex-governador chega à sede da PF após ser preso em casa, no Leblon, um dia depois de Garotinho também entrar em cana por fraudes eleitorais  Foto: Celso Barbosa/O Globo

O ex-governador chega à sede da PF após ser preso em casa, no Leblon, um dia depois de Garotinho também entrar em cana por fraudes eleitorais
Foto: Celso Barbosa/O Globo

O ex-governador do Estado do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) foi preso na manhã de ontem pela Polícia Federal durante a Operação Calculite, considerada um braço da Lava Jato no Rio, baseada na delação premiada do empresário Fernando Cavendish.
Segundo a PF, a operação tem o objetivo de investigar o desvio de recursos públicos federais em obras realizadas pelo Governo do Estado do Rio. Ainda de acordo com a instituição, o prejuízo estimado pode ultrapassar os R$ 220 milhões.
O Rio vem atravessando uma das piores crises financeiras de sua história. Em junho desde ano, a poucos dias dos Jogos Olímpicos, o estado decretou estado de emergência econômica.
A prisão de Cabral acontece um dia após o também ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PR) ter sido preso pela Polícia Federal em uma investigação separada que apura suspeita de fraude eleitoral no município de Campos dos Goytacazes, no Norte do Estado.
“São investigados os crimes de pertencimento a organização criminosa, corrupção passiva, corrupção ativa, lavagem de dinheiro, entre outros. Também participam das diligências 19 procuradores do MPF (Ministério Público Federal) e cinco auditores fiscais da RFB (Receita Federal)”, acrescentou a PF em comunicado.
>> A operação – A Polícia Federal disse em nota que o esquema investigado pela chamada operação Calicute identificou “fortes indícios de cartelização de grandes obras executadas com recursos federais mediante o pagamento de propinas a agentes estatais, incluindo um ex-governador do Estado do Rio de Janeiro”.
A PF esclareceu que a ação policial visa cumprir mandados judiciais autorizados tanto pela 13ª Vara Federal de Curitiba, que concentra as ações decorrentes da operação Lava Jato no Paraná, como pela 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, que recebeu os processos da Lava Jato no Estado.
No total foram expedidos 13 mandados de prisão e 14 mandados de condução coercitiva. A mulher de Cabral, Adriana Anselmo, e diversos assessores do ex-governador também foram detidos pela PF na manhã desta quinta-feira como parte da operação.
Cabral foi governador do Rio de Janeiro de 2007 a 2014 e conseguiu eleger Luiz Fernando Pezão (PMDB) como sucessor no governo do Estado. Ele teve papel de liderança na campanha do Rio para sediar os Jogos Olímpicos de 2016 ao lado do prefeito da cidade Eduardo Paes (PMDB) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O nome do ex-governador e também ex-senador era apontado há muito tempo como um possível alvo da Polícia Federal por suspeita de corrupção envolvendo contratos com empreiteiras em obras bilionárias, como a reforma do estádio do Maracanã. Em junho, a PF prendeu o dono da empreiteira Delta, Fernando Cavendish, ligado a Cabral e cuja empresa participou de diversas obras no Rio durante a gestão de Cabral.
Em 2013 o governador foi alvo de diversos protestos nas ruas do Rio, e manifestantes chegaram a montar um acampamento em frente a seu prédio para exigir sua renúncia.
“Gangue do lenço” um grupo de destaque

Sérgio Cabral, Fernando Cavendish & Cia, numa farra em Paris

Sérgio Cabral, Fernando Cavendish & Cia, numa farra em Paris

O Ministério Público Federal afirmou em nota que a Operação Calicute, nova fase da Lava Jato, foi deflagrada para “aprofundar investigações sobre organização criminosa chefiada pelo ex-governador Sérgio Cabral – dedicada à prática de atos de corrupção e lavagem de dinheiro, composta por dirigentes de empreiteiras e políticos do alto escalão do seu Governo do Estado do Rio de Janeiro”. Segundo a Procuradoria da República, o “esquema envolvia o pagamento de propinas para a realização de obras públicas no Estado e posterior ocultação desses valores”.
Outras sete pessoas são investigadas “por integrarem organização criminosa destinada à prática de atos de corrupção e lavagem de dinheiro relacionados à realização de obras de engenharia no Estado do Rio de Janeiro”, entre os quais vários integrantes da chamada “gang do lenço”, como Fernando Cavendish, dono da Delta Enegenharia, e vários secretários e assessores de Sérgio Cabral, durante viagem oficial a Paris.
O Ministério Público Federal afirma que “a partir do aprofundamento das investigações dos casos da Lava Jato no Rio de Janeiro, especialmente da Operação Saqueador e das colaborações de executivos das empreiteiras Andrade Gutierrez e Carioca Engenharia, entre outras provas colhidas, descortinou-se amplo esquema de corrupção e lavagem de dinheiro”.
“Tal esquema consubstanciava o pagamento de expressivos valores em vantagem indevida por parte das empreiteiras ao ex-governador Sérgio Cabral e a pessoas do seu círculo para que fossem garantidos contratos de obras com o Governo do Estado do Rio de Janeiro”, diz a nota da Procuradoria.
“Foi identificado que integrantes da organização criminosa de Sérgio Cabral amealharam e lavaram fortuna imensa, inclusive mediante a aquisição de bens de luxo, assim como a prestação de serviços de consultoria fictícios”, diz o Ministério Público Federal.
Investigações em Curitiba

“O desdobramento das investigações da Operação Lava Jato em Curitiba revelou a ocorrência de crimes de corrupção, consistentes no pagamento de vantagens indevidas ao então Governador do Estado do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, em decorrência do contrato celebrado entre a Andrade Gutierrez e a Petrobras, relativamente às obras de terraplanagem no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj)”, afirma o Ministério Público Federal.
Segundo a Lava Jato, “foram colhidas provas que evidenciam que o ex-governador Sérgio Cabral recebeu, entre os anos de 2007 e 2011, ao menos R$ 2,7 milhões, da empreiteira Andrade Gutierrez, por meio de entregas de dinheiro em espécie, realizadas por executivos da empresa para emissários do então Governador, inclusive na sede da empreiteira em São Paulo”.
“Há evidências da prática do crime de lavagem de dinheiro oriundo dos crimes antecedentes. A investigação apurou, por exemplo, que apenas dois investigados, entre os anos de 2009 e 2015, efetuaram pagamentos em espécie, de diversos produtos e serviços, em valores que se aproximam de R$ 1 milhão”, informa a Procuradoria.
O crime de lavagem prevê pena entre 3 e 10 anos de reclusão; o crime de corrupção, entre 2 e 12 anos e o crime de integrar organização criminosa, pena entre 3 e 8 anos.

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