Um caminho grande ainda a ser percorrido

*Cláudio Fuganti

No Brasil, mais de 250 mil pessoas morrem todos os anos pela morte súbita, que ocorre quando o coração repentinamente para de bater. A maior parte destes óbitos é provocada por infartos fulminantes (que é a morte de parte do músculo cardíaco) causando arritmias cardíacas graves que levam à parada cardíaca e morte.
A prevenção com hábitos de vida saudáveis sempre foi a mais eficiente forma de combater as doenças do coração, mas quando a pessoa já tem uma arritmia grave, por exemplo, a solução pode ser a implantação de um CDI. O cardiodesfibrilador implantável (CDI) é um dispositivo que detecta essas arritmias e, por meio de um choque elétrico no coração, devolve o ritmo cardíaco normal ao paciente.
No ano passado, a Agência Nacional de Saúde autorizou o implante de CDI para a prevenção da morte súbita. Antes a pessoa só recebia o cardiodesfibrilador quando já tinha apresentado uma parada cardíaca ou quando tinha uma taquicardia muito grave. A mudança feita pela ANS foi muito comemorada pelos cardiologistas, que reivindicavam esse avanço aos seus pacientes há anos. A farta comprovação científica no mundo todo, inclusive aqui no Brasil, e a adoção eficaz desta metodologia nos Estados Unidos e na Europa justificaram a alteração.
O mais triste é que a regra da ANS só vale para quem tem plano de saúde. Ela não é válida para a rede pública, ou seja, para cerca de 150 milhões de brasileiros. O Ministério da Saúde, de maneira unilateral e sem consultar às entidades médicas publicou portaria contra todas as evidências científicas atuais e orientações de sociedades médicas nacionais e internacionais. O Governo Federal continua a excluir
No país implanta-se em torno de 49 mil dispositivos por ano, entre marca-passos, ressincronizadores e desfibriladores. Porém, destes, apenas cerca de 6 mil são desfibriladores. São 17 CDIs por milhão de habitantes. Só para fazermos uma comparação, na Europa em média implanta-se 180 CDIs por milhão de habitantes. Quase 11 vezes mais. O número por aqui é extremamente baixo. O que significa que muitos pacientes estão morrendo sem acesso a essas tecnologias.
O avanço que a ANS concedeu aos brasileiros que podem pagar um plano de saúde precisa ser ampliado para quem é atendido pelo SUS. Se a saúde é um direito de todos, conforme prevê a nossa Constituição, não pode haver distinção entre “ricos” e “pobres”.

*Cláudio Fuganti é presidente do Departamento de Estimulação Cardíaca Artificial da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (DECA/SBCCV).

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