Crivella sobre o aedes: “nossa preocupação é total”

Prefeito, acompanhado dos secretários de Saúde e de Conservação e Meio Ambiente realizou ação na Rocinha
Foto: Prefeitura do Rio

A nova gestão municipal do Rio de Janeiro adotou entre as seus principais compromissos iniciais o esforço para combater as chamadas doenças de verão, sobretudo a dengue, zika e chikungunya. A Prefeitura realizou na manhã de ontem (4), uma ação de combate ao mosquito aedes aegypti em imóveis da Rocinha, na Zona Sul. O prefeito Marcelo Crivella, acompanhado dos secretários municipais de Saúde e de Conservação e Meio Ambiente, Carlos Eduardo e Rubens Teixeira, comandou a ação e visitou imóveis na comunidade.
“Estamos tendo várias ações de combate ao mosquito. Fizemos um protocolo clínico com os principais sintomas e tratamentos, além do acompanhamento do desenvolvimento da doença, para mostrar aos nossos médicos e técnicos de enfermagem. Nossa preocupação é total. O principal foco é água parada na casa das pessoas. Na média, no nosso município 80% dos mosquitos encontrados até hoje estão dentro de água. Essa água que fica, por exemplo, atrás da geladeira como encontramos em um das casas que visitamos é um risco tremendo”, disse o prefeito do Rio de Janeiro.
Os agentes de Vigilância em Saúde vistoriaram as residências para eliminar ou tratar com aplicação de larvicidas possíveis criadouros do mosquito, e também orientaram moradores. Cerca de 80% dos focos do mosquito está no ambiente domiciliar. A Prefeitura instituiu estado de alerta contra a possibilidade de uma tríplice epidemia de arboviroses (dengue, zika e chikungunya). Decreto publicado no Diário Oficial do Município do dia 1º de janeiro estabelece ações de prevenção, controle da prevenção, orienta a prática assistencial, integra recursos municipais no enfrentamento e dá outras providências.
O secretário de Saúde, Carlos Eduardo Mattos, servidor concursado há 23 anos que já coordenou a emergência do Hospital Municipal Miguel Couto, ajuda a reforçar o coro de urgência no combate às arboviroses (vírus transmitidos por mosquitos e carrapatos). De acordo com ele, a expectativa é que metade dos cariocas pode contrair a febre chikungunya. Mattos defende que o combate ao mosquito é uma ação de união de forças.
“Temos que fazer essas campanhas de conscientização porque 82% dos focos vivem dentro dos domicílios e 18% na comunidade, no lixo abandonado. Então, é importante conscientizar a população para cuidar desses focos. O poder público e a população devem se juntar em uma ação multifatorial para combater o lixo nas comunidades e fazer campanhas educativas”, destacou o secretário de Saúde, que já tinha alertado na segunda-feira (2) que o “importante é a população saber que estamos sob ameaça de arboviroses”

“Temos que continuar o trabalho de visita às comunidades e orientar a população porque o mosquito está aí e o clima é extremamente favorável. O importante é chegarmos antes da doença e é isso que estamos fazendo”, completou Carlos Eduardo.
Médico servidor concursado da rede municipal de Saúde há 23 anos, Carlos Eduardo Mattos é vereador reeleito para o quarto mandato consecutivo. O novo secretário tem mestrado e doutorado em cardiologia pela UFRJ e foi presidente e decano da Comissão de Saúde da Câmara Municipal. Dirigiu o serviço de emergência do Hospital Municipal Miguel Couto e é também coronel médico do Grupo de Socorro de Emergência (GSE) do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro. Entrou para a política aos 40 anos, quando foi eleito para seu primeiro mandato de vereador, no ano de 2004, com a bandeira da saúde.
O novo secretário municipal de Saúde estabeleceu metas de gestão para cumprir as promessas feitas por Crivella durante a campanha. Entre as medidas previstas, preocupada com a chegada do verão e o aumento de chuvas na cidade, a Secretaria Municipal de Saúde vai aumentar os esforços empregados no combate ao mosquito.
O último Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa), realizado em outubro, manteve o baixo índice de infestação predial (IIP), equiparando ao menor já registrado na história da cidade: 0,8%. O resultado mantém o município na faixa verde, que representa baixo risco para ocorrência das infecções transmitidas pelo vetor. No entanto, algumas regiões da cidade já apresentam aumento de vetores. Um novo levantamento já está sendo realizado pela Secretaria Municipal de Saúde.
O município do Rio conta com cerca de três mil agentes de vigilância ambiental em saúde. Além das visitas de rotina aos imóveis, também são vistoriados com regularidade praças, parques, clubes, depósitos públicos, estacionamentos, estádios, terrenos baldios, entre outros locais. Pedidos de vistorias podem ser feitos pelo telefone da Central de Atendimento da Prefeitura, pelo número 1746.

Academia de Medicina esclarece

A febre Chikungunya teve seu vírus isolado pela primeira vez em 1952, em um paciente febril durante um surto na Tanzânia, explica a Academia Nacional de Medicina (ANM). A palavra Chikungunya, em dialeto Makonde da Tanzânia, significa “aqueles que se dobram”, uma referência a uma das características clínicas da doença, que apesar de pouco letal, é muito limitante. O paciente tem dificuldade de movimentos e locomoção por causa das articulações inflamadas e doloridas, daí o “andar curvado”.
Em simpósio realizado no dia 19 de novembro do ano passado na Academia Nacional de Medicina, após exposição do Prof. Carlos Brittes, infectologista da Universidade Federal da Bahia, foi amplamente discutida a epidemia pelo vírus Chikungunya, que no momento assola o Brasil, junto com o vírus da Dengue e do vírus Zika.
A ANM explica que a infecção é transmitida por mosquitos do gênero Aedes (A. aegipty e A. albopictus), e até recentemente era limitada à África subsaariana. Entretanto, a partir de 2004, ocorreram epidemias no Quênia, e alastramento da infecção para as ilhas do Oceano Índico. Entre 2004 e 2006, estima-se que ocorreram 500 mil casos nesses locais. A partir destas áreas, a infecção se espalhou pelo Sudeste asiático e, mais recentemente, atingiu a França, ilhas Reunião (maior epidemia, com 266 mil pessoas acometidas – 34% da população). Em 2006, atingiu a Índia, em 2007, Ravena na Itália, em 2013, América e Caribe e chegou ao Brasil em dezembro de 2014, no Oiapoque, Amapá.
A infecção alastrou-se pelo território nacional brasileiro, e provavelmente se tornará endêmica em nosso meio, alertava a ANM ainda em novembro do ano passado.
As manifestações clínicas, após um período de incubação de 1 a 12 dias, incluem:

• Febre alta de início súbito, dores musculares, dores nas costas, dores nas articulações em geral, sendo que a dor é intensa, incapacitante, impede o sono e o caminhar, com duração média 1 a 3 semanas (podendo chegar a muitos meses).
• Pode ocorrer dor de cabeça, dor de garganta, náuseas, vômitos, diarreia, gânglios cervicais ou generalizados.
• Ocorre ainda fotofobia, conjuntivite, hemorragia conjuntival
• Alteração do estado mental, convulsões, déficits cerebrais
• A hemorragia é rara, mais leve do que na dengue, e mais comum em velhos e crianças
A febre Chikungunya apresenta algumas características peculiares:
• Mulheres grávidas são mais afetadas (50% nas ilhas Reunião) e o desfecho da gestação não é afetado. A transmissão transplacentária é improvável, mas pode ocorrer no canal de parto (viremia). A transmissão ao recém nato é associada com prostração, dor, febre e plaquetopenia e até alguns casos de encefalopatia com sangramento intracraniano e sequelas.
• Pode ocorrer evolução para artrite crônica em alguns casos, com duração de até 3 anos ou mais.
• Existem critérios positivos para artrite reumatoide.

Efeitos podem durar meses e anos

O diagnóstico é eminentemente clínico, mas pode ser feita a confirmação através da detecção de anticorpos contra o vírus (surgem após uma semana do início dos sintomas), ou por isolamento/detecção do vírus na primeira semana de doença. Não existe tratamento estabelecido para a infecção. Habitualmente, recomenda-se hidratação, repouso, e medicações sintomáticas, principalmente quando existem dores articulares.
Apesar de baixa letalidade, a infecção por Chikungunya pode ocasionar lesões articulares muito dolorosas, com elevado grau de incapacitação dos pacientes acometidos. A artrite secundária à Chikungunya pode persistir por meses, e até mesmo anos.
Os fatores de risco para a cronificação dos problemas articulares incluem:
• Sintomas mais intensos na fase aguda (febre alta, calafrios, rash severo, dores intensas)
• Idade maior que 45 anos (50 vezes maior risco de morte)
• Carga viral elevada
• Títulos elevados de anticorpos para Chikungunya
• A provável causa da cronificação é a replicação viral persistente em articulações
Não há vacina contra a infecção, e a prevenção deve ser feita evitando-se picadas de mosquitos (cobertura das áreas corporais expostas a picada do mosquito, e/ou uso de repelentes). Os mosquitos vetores podem ser identificados por faixas brancas sobre os seus corpos e pernas negras. Eles são mordedores agressivos, diurnos, com pico de atividade de alimentação ao amanhecer e ao entardecer.

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