Após prisão Eike é transferido para Bangu 9

PERDEU A PERUCA – Batista teve a cabeça raspada na triagem em Água Santa e ficou careca
Foto: Fábio Motta / Estadão Conteúdo

O empresário Eike Batista deixou na tarde de ontem (30), o Presídio Ary Franco, em Água Santa, e ficará preso numa unidade do Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu.
Segundo a Polícia Federal, Eike foi levado ao Ary Franco pela manhã apenas para triagem. Ele teve a cabeça raspada e ficou separado dos outros presos.
Eike Batista desembarcou no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, o Galeão, pouco antes das 10 horas dea segunda-feira, vindo de Nova York. Ele foi levado até a sede do Instituto Médico Legal, no centro da capital fluminense, para exame de corpo de delito, e deixou o local com escolta policial já em direção ao presídio Ary Franco. No início da tarde, policiais fizeram o deslocamento do empresário para Bangu.
Eike deve ocupar uma cela comum, no Presídio Bandeira Stampa, conhecido como Bangu 9. A unidade abriga os presos de “faxina”, aqueles que fazem o trabalho interno nos presídios.
Ontem de manhã o diretor de secretaria da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, Fernando Pombal, foi a Bangu 9. Ele se encontrou com o diretor da unidade para verificar a segurança de Eike e visitar a cela do empresário.
Uma fonte informou que a própria Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) entendeu que o empresário deveria ir para um lugar mais seguro do que o Ary Franco.
Em meados de janeiro, o presídio Bandeira Stampa precisou ser esvaziado temporariamente, para receber milicianos e ex-PMs que foram transferidos para lá. Eles deixaram Bangu 6 em uma medida da Seap para evitar confrontos entre as facções e milícias dentro do presídio e acalmar os detentos. Com a mudança, apenas os traficantes do TCP ficaram em Bangu 6.
Os outros detidos nos desdobramentos da Lava Jato no Rio, como o ex-governador Sérgio Cabral, foram encaminhados para Bangu 8 por terem diploma universitário, mas Eike não concluiu sua formação em engenharia. (AE)

EUA monitorava o ex-bilionário

O Ministério Público Federal (MPF) estava em contato com as polícias da Alemanha e dos Estados Unidos para monitorar o empresário Eike Batista desde sexta-feira, 27, dia seguinte à tentativa de prisão contra o ex-bilionário. Desde aquele dia a documentação necessária a uma eventual extradição do empresário passou a ser providenciada. Nos EUA, o mandado de prisão com difusão vermelha da Interpol não é suficiente para prisão.
De acordo com o MPF, logo que se confirmou que Eike estava em Nova York, a polícia americana iniciou um discreto monitoramento. Naquele momento já havia a informação de que ele havia comprado a passagem que o trouxe de volta ao Brasil no voo AA 973, na noite de domingo, 29.
Antes do embarque de Eike, procuradores no Rio e na Procuradoria Geral da República (PGR) chegaram a checar planos de voo de vários jatos brasileiros que poderiam estar nos Estados Unidos e auxiliar numa fuga, em especial um que partiu na mesma data do voo de saída do Rio e tinha um plano de voo suspeito. Os policiais americanos só terminaram a mobilização e deram seu aval ao embarque quando a porta do avião fechou e a lista de passageiros foi checada. Segundo o MPF, esse é o procedimento padrão e o mesmo utilizado pela força-tarefa da Lava Jato no caso da prisão do advogado do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, Edson Oliveira.
A Procuradoria Geral da República já tinha pronto um pedido de prisão preventiva para ser convertido em “provisional arrest warrant” (prisão preventiva) nos Estados Unidos. Esse pedido teria que tramitar pela via diplomática, seguindo o Tratado de Extradição entre Brasil e Estados Unidos, e não pelo Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, do Ministério da Justiça (DRCI/MJ). O artigo 8º do tratado afirma que “os Estados Contratantes poderão solicitar, um do outro, por meio dos respectivos agentes diplomáticos ou consulares, a prisão preventiva de um fugitivo, assim como a apreensão dos objetos relativos ao crime ou delito”.
Mesmo quando o retorno voluntário do suspeito é esperado, o procedimento padrão é preparar todo o material necessário ao pedido de prisão extradicional. O mandado de prisão com difusão vermelha (o chamado “red notice”) da Interpol não é suficiente para prisão nos EUA. Assim, os documentos estavam sendo traduzidos para o inglês desde a confirmação do que o MPF classifica de fuga do empresário, inclusive uma declaração juramentada a ser assinada pelos procuradores do Rio.
“O retorno voluntário (de Eike) antecipou uma prisão que seria inevitável aqui ou nos Estados Unidos, e essa custodia se mostra necessária no momento para garantia da ordem pública e da instrução criminal”, afirma em nota o procurador regional da República José Augusto Vagos, da força-tarefa da Lava Jato no Rio.
(AE).

Comeu frango, falou do clima em NY e dormiu no voo

“Falamos sobre a temperatura em Nova York, que lá estava frio e aqui, não” (Nestor Wright, passageiro da mesma viagem)
Foto: Reprodução/Internet

Eike Batista teve um voo tranquilo, no qual passou boa parte do tempo dormindo, segundo o empresário norte-americano Nestor Wright, 50, que disse ter ocupado lugar próximo ao brasileiro.
O dono do grupo EBX, que já foi um dos homens mais ricos do mundo, comeu frango durante o trajeto e conversou sobre “banalidades”.
“Nada demais. Falamos sobre a temperatura em Nova York, que lá estava frio e aqui, não”, contou.
“Depois disso, eles vieram e o tiraram do avião”, disse Wright, que estava acompanhado do também norte-americano David Barton.
“Ele [Barton] sentou bem ao lado do Eike. Eu fiquei na outra fileira”, explicou. “Estava super calmo e normal. Fingimos que não sabíamos quem ele era até mesmo para não incomodá-lo. Ele estava tão calmo”, completou. Depois do breve diálogo, o ex-milionário acabou pegando no sono e dormindo a maior parte da viagem.
Já o paranaense Sérgio Padovani disse que, já no aeroporto JFK, em Nova York, a presença de Eike gerou comoção no saguão de embarque. Segundo ele, muitos aproveitaram para tirar selfies e fotos. “Mas ele se manteve sempre quieto e sereno. Não deu uma palavra. Foi bem frio mesmo”, declarou.
Padovani, que também é empresário e atua no ramo de confecções, alfinetou Eike ao dizer que “não acredita em milagre” no mundo dos negócios. “Eu penso que milagre não existe. Um dos homens mais ricos do mundo quatro ou cinco anos atrás, hoje mostrando de onde veio a riqueza, né? Eu também sou empresário e sei que milagre não existe.”
O voo 973, da companhia América Airlines, pousou no Galeão, às 9h54, mais de 30 minutos antes do horário previsto. Segundo Wright, Eike recebeu voz de prisão ainda na aeronave. “Quando o avião desceu, o piloto pediu que aguardássemos cinco minutos sem levantar porque ele iria ser retirado antes. Ele desceu a escada e foi colocado em um carro. A gente viu tudo pela janela.”
Durante o voo, relatou Wright, não houve qualquer comentário sobre a Operação Eficiência, realizada no âmbito da Operação Lava Jato e cujas investigações resultaram no mandado de prisão expedido contra ele. “Jamais perguntaria qualquer coisa. No nosso negócio, a gente lida com celebridades e realmente não entramos em detalhes.”

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