Deficiência: desasseio; antideficiência: asseio

*Carlos B. Gonzáles Pecotche

Ainda que essa deficiência aparente ser de ordem puramente física, sua origem é, entretanto, psicológica. Além de resultar, na maioria dos casos, de hábitos contraídos desde a infância, em meios familiares descuidados, ou da falta de um treinamento eficaz das aptidões durante os períodos da infância e juventude, esta deficiência tem às vezes origem nas grandes comoções que o sentimento experimenta motivado por profundos padecimentos e desilusões, pois, quando o ser não é dono de si mesmo, tais acontecimentos facilmente o mergulham no abandono, causa, por sua vez, do desleixo e do desalinho, ou, em uma só palavra, do desasseio, que tanta repulsa nos produz.
Esta deficiência desconceitua a quem cai sob seu rigor e, até os méritos que em outros aspectos possa ter a pessoa, sofrem menoscabo por essa mesma causa, ou não alcançam o grau de valorização que merecem.
O desasseio não implica em todos os casos, em despreocupação irrespeitosa do indivíduo para com seu ser físico. Quando o descuido se evidencia, por exemplo, na palavra, revela que não há limpeza na mente de quem fala que seus pensamentos carecem de higiene mental, principalmente quando quem assim se expressa busca deliberada e insistentemente a grosseria e o desalinho daqueles que se afinam com as suas preferências linguísticas. Quem usa de palavras que ferem a moral, como quem emprega termos que afetam a convivência, violentando as normas do trato em comum, ou quem mente com a intenção de menosprezar ou difamar o semelhante, mostra o império desta deficiência. Isto significa que em tal caso a falha concerne ao ser moral, podendo afetar a ambos ao mesmo tempo, ou aparecer também em pessoas que, muito enfeitadas por fora, mostram-se mental e moralmente desalinhadas.
A deficiência que tratamos acusa falta de escrúpulo, totalmente imperdoável, na pessoa que cultivou, pelo menos em parte, sua inteligência e seus sentimentos. Como pode um ser medianamente culto permanecer indiferente à impressão que causa seu deteriorado aspecto psicológico, venha ou não acompanhado da mesma deterioração em seu ser físico, nem deixar de advertir o contraste que sua pessoa produz no ambiente que frequenta?
Há os que creem que se ocupar do espírito inclui o abandono do ser físico, pois, segundo eles, este é um simples veículo que não exige maior atenção. Crasso erro. O cultivo do espírito desenvolve, precisamente, a consciência do asseio corporal e do trajar limpo e decente.
Sem que isso implique cair nos estremos, o asseio deve agir no ser integralmente, à maneira de detergente. Mas faz falta, está claro, que a antideficiência seja aplicada com a firme resolução de acabar com esta falha que tanto empobrece a figura do indivíduo, tanto no físico como no moral e espiritual.
No que diz respeito ao interno, impõe-se uma esmerada preparação da mente, visto que, depois desta ter-se acostumado ao desasseio, se sentirá incômoda quando tiver de mover-se, cuidando de não incorrer em novos ou velhos descuidos. É sabido o quanto custa a quem se habituou ao desalinho no trajar, passar a usar, de repente, roupas que o obriguem a guardar circunspecção e compostura.
Das reflexões anteriores surge claro este conselho: sejam esmerados no trajar e no pensar e haverá limpeza em sua conduta.

*Carlos B. Gonzáles Pecotche – Autor da Logosofia – www.logosofia.org.br – rj-novaiguacu@logosofia.org.br
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