
Ontem, o ex-jogador Zico confirmou sua intenção de se candidatar à presidência da Fifa, a entidade máxima do futebol, em protesto contra o escândalo de corrupção que levou à prisão de diversos dirigentes.
Porém, em entrevista à BBC Brasil, o ídolo do Flamengo e da seleção brasileira afirmou que ainda espera pela definição da forma como a sucessão do suíço Joseph Blatter, que na terça-feira renunciou à presidência após 17 anos no cargo, será conduzida.
O atual sistema determina que uma candidatura precisa ser endossada diretamente por uma federação nacional e contar ainda com o apoio de cinco outras. Para alguns críticos, esse processo dá margem a muitas negociações de bastidores e, eventualmente, a transações mais escusas em troca de apoio.
Este, por sinal, foi o motivo pelo qual outro ex-jogador, o português Luís Figo, desistiu de participar do mais recente pleito, realizado, na semana passada, e em que Blatter foi reeleito para um quinto mandato. “As regras do jogo têm que ser justas, é preciso abrir o processo para todo mundo: dirigente, ex-jogador, técnico e até cozinheiro”, explicou Zico.
“Eu acredito que, diante de tudo o que está acontecendo (o escândalo na Fifa), o processo agora será aberto. O que não pode é as mesmas pessoas responsáveis pela situação de agora continuarem no comando. Minha candidatura é uma reação a tudo isso”.
Depois de 17 anos na presidência, Blatter renunciou na terça-feira
Zico não acredita que a falta de maior milhagem internacional como dirigente poderia prejudicá-lo numa disputa com nomes como o também ex-jogador Michel Platini, presidente da Uefa (o órgão máximo do futebol europeu) e cotado como favorito para a sucessão de Blatter. “Fui ministro no Brasil, quer algo mais dirigente que isso? O Platini, antes da Uefa, não tinha também uma experiência tão grande, apesar de ter trabalhado no Comitê Organizador da Copa de 1998”, ponderou o ex-jogador, referindo-se ao cargo de Secretário Nacional de Esportes que ocupou por um ano, em 1991, antes de entregar o cargo por conta do lobby político contrário a seu projeto de mudanças no esporte brasileiro. “Sou uma pessoa com um trabalho conhecido não apenas no Brasil. Gente no mundo inteiro conhece minha forma de ser e de agir em todas as áreas do futebol em que trabalhei”.
Zico disse ter recebido diversas manifestações de apoio ao anúncio feito na terça-feira em sua página no Facebook. Ele não entrou em detalhes sobre como buscará o suporte mais formal à candidatura, mas mostrou pouca intenção de buscar o endosso da Confederação Brasileira de Futebol: Zico disse não ter ficado surpreso em ver o nome de um ex-dirigente da entidade, o ex-presidente José Maria Marin, estar envolvido na investigação de autoridades americanas deflagrada semana passada.
“Nada do que está vindo à tona me surpreende. Eu já havia feito denúncias há muitos anos. Só não tínhamos a confirmação do que estava acontecendo. É o momento também de mudar as coisas no futebol brasileiro. Porque já basta o fato de que o outro ex-presidente (o antecessor de Marin, Ricardo Teixeira), também é acusado de irregularidades. O que mais será necessário para que algo seja feito?”, questionou.
Ronaldo pede saída de Del Nero da CBF

O ex-jogador Ronaldo se posicionou sobre os escândalos de corrupção da Fifa e a renúncia do presidente Joseph Blatter. O Fenômeno disse que o atual mandatário do futebol brasileiro Marco Polo Del Nero também deveria deixar o cargo e defendeu ainda a criação de uma liga paralela à CBF para comandar o futebol brasileiro. Em entrevista coletiva realizada na manhã de ontem, em São Paulo, Ronaldo foi veemente ao afirmar que os corruptos devem ser punidos e falou ainda sobre a importância de uma liderança honesta e transparente no futebol brasileiro. “Adoraria que ele (Del Nero) renunciasse também. Ele não tem dado grandes exemplos. É evidente a relação com Marin. Seria bom momento para renunciar. Mas vamos aguardar as investigações”, declarou Ronaldo, frisando não ter interesse em assumir cargos na CBF.
Ronaldo afirmou ainda que a CBF não tem credibilidade no atual cenário e disse ser favorável à criação de uma liga paralela. “Eu sou a favor. Tenho conversado com pessoas ligadas ao futebol, formando opinião com quem está acompanhado e com quem está envolvido. Mas vamos torcer para que sejam punidos, a CBF não tem nenhuma credibilidade, tem que continuar cobrando transparência e honestidade”.
Na semana passada, um dos maiores escândalos da história do futebol chamou a atenção de todo o mundo. Uma operação realizada pela Procuradoria Federal de Nova York e pelo FBI, em parceria com a polícia suíça, deteve sete dirigentes de alto escalão ligados à Fifa, entre eles o ex-presidente da CBF Jose Maria Marin. A acusação é de crimes como corrupção, extorsão, fraude e lavagem de dinheiro, entre outras irregularidades.
Já na última segunda-feira, outro ex-presidente da CBF foi indiciado por crimes. A Polícia Federal pediu o indiciamento de Ricardo Teixeira pelos crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, falsidade ideológica e falsificação de documentos públicos em um inquérito concluído no início deste ano.
Apesar de ter sido membro do Comitê Organizador da Copa no Brasil e de participar ativamente de ações no país ao lado de Del Nero (então vice da CBF), de Marin (então presidente da CBF) e Jerome Valcke (acusado de ter recebido suborno no Mundial de 2010), Ronaldo se diz favorável a novas investigações, que já resultaram em sete prisões de dirigentes da Fifa.
“Estou disposto a colaborar em favor do futebol. Eu acho que esse escândalo está só começando. Não tenho informação sobre investigação. Futebol precisa de gente honesta, de gente querendo fazer o bem, promover futebol e cidadania”, afirmou.
por Jota Carvalho