Cabral fez reunião em sua casa para exigir propina

Ex-governador pediu ‘mesada’ de 350 mil e mais uma grana por obra realizada pela Andrade Gutierrez, disse delator
Foto: Rodrigo Félix Leal/Gazeta do Povo

Na manhã de ontem (15), o executivo Rogério Nora de Sá, ex-presidente da Andrade Gutierrez, disse, durante depoimento na 7ª Vara Federal Criminal do Rio, que o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) o chamou para uma reunião em seu próprio apartamento no Leblon, na zona sul do Rio, para exigir propinas em contratos públicos. Rogério Nora afirmou que Cabral teria dito que a empresa teria de firmar um “compromisso” com o governo, que Sá entendeu como pagamento ilegal de dinheiro. O empreiteiro acertou acordo de delação premiada. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
“Ele (Cabral) disse que teríamos que dar uma contribuição mensal de R$ 350 mil. Depois, fomos chamados para uma reunião no Palácio Guanabara com o governador, e ele disse que o secretário de Governo, Wilson Carlos, iria cuidar da execução das obras. Ficamos com obras de Manguinhos, PAC das Favelas, Arco Metropolitano, que entramos, mas declinamos posteriormente porque não teríamos resultados. Em Manguinhos fomos líderes do consórcio e ficou acertado o pagamento de 5%”, disse.
Rogério Nora de Sá afirmou ainda que as propinas eram camufladas nas obras por meio de faturamento com valores maiores ou com notas fiscais falsas “para prover recursos para eles”. Ainda segundo o empreiteiro, as propinas foram pagas durante um período que durou de 12 a 15 meses. “Até setembro de 2011, quando eu estava na empresa, existiam os pagamentos. Depois, não sei informar”, afirmou.
De acordo com Sá, Wilson Carlos se reuniu com o executivo da empresa Alberto Quintaes para definir em qual contrato com o governo a empresa entraria e quais seriam os parceiros, antes de ocorrerem as licitações.
O delator Rogério Nora de Sá foi condenado a 18 meses em regime semiaberto e a 24 meses de prisão aberta, além de ter que ressarcir os cofres públicos em R$ 2, 7 milhões. Já a Andrade Gutierrez, que acertou acordo de leniência com o Ministério Público terá de pagar R$ 1 bilhão.
>> Primo e Quintaes – O ex-diretor da empreiteira Clóvis Renato Peixoto Primo, que também foi ouvido ontem, confirmou os pagamentos. “Eu me lembro que em 2007, quando começou o novo governo, a Andrade Gutierrez queria participar de algumas obras aqui no Rio, como o Arco Metropolitano e o PAC das favelas. Nessa época eu recebi a informação do Rogério (Nora de Sá) que havia a solicitação do governo de pagamento de um valor mensal até que as obras fossem contratadas, e depois o pagamento de 5% do valor de cada obra”, afirmou Primo.
Clóvis Primo acrescentou que tinha conhecimento sobre a escolha das empresas que fariam as obras, e que isso era definido pelo governo. “O Arco Metropolitano não rendeu nada porque saímos no início, o Maracanã deu prejuízo e Manguinhos (PAC Favelas) deu resultado, mas não foi grande, deu um lucro pequeno”.
Alberto Quintaes, superintendente comercial da empresa, também foi ouvido afirmou ter sido informado em 2007 por Rogério Nora de Sá de que deveria ser paga uma “mesada” de R$ 350 mil a Cabral.
“Eu tinha uma planilha e cumpri a ordem fazendo os pagamentos a Carlos Miranda. Algumas vezes paguei no escritório da empresa no Rio, outras nos de São Paulo e Minas Gerais e ainda no escritório de Miranda”, disse Quintaes.
Quintaes afirmou ainda que o ex-secretário de Governo Wilson Carlos cobrava os pagamentos de 5% do valor dos contratos, e determinou que fosse feito o pagamento de 1% ao então secretário de Obras, Hudson Braga, também preso.

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