*Miguel Lucena
Enquanto desocupados se desesperam porque não conseguem encontrar um Pokémon raro formado por todas as letras do alfabeto, uma jovem de 19 anos foi assassinada em Taguatinga Sul.
É provável que a moça, em consequência das escolhas que fez ou foi levada a fazer, tenha colaborado para esse encontro tenebroso com o cano fumegante de um revólver assassino.
Ela é resultado de uma sequência de negligências e abandono que se presencia cotidianamente nas periferias das grandes cidades.
Os governos resolveram premiar o descontrole da natalidade e os intelectuais passaram a desculpar tudo o que o povo faz, como se as pessoas não fizessem escolhas nem fossem capazes de pensar e decidir.
Transformaram o povo em vítimas eternas das injustiças sociais e cegaram deliberadamente para os delitos continuados cometidos contra a infância, especialmente pelos parentes mais próximos.
Bêbados, drogados, tarados, psicopatas e sacripantas de toda espécie receberam o rótulo de vítimas da sociedade e ganharam um salvo-conduto para desencaminhar as crianças, deixando-as à mercê das intempéries em áreas inóspitas e de difícil acesso.
A jovem começou sua saga como vítima de lesão corporal aos 11 anos, em 2008, em briga com outra menina. Em 2012, foi agredida pelo padrasto. Aliás, as crianças muito pobres conhecem vários padrastos em curto espaço de tempo. As mães, egoístas, trocam de parceiro constantemente, às vezes nem sabem o nome do sócio e por causa deles até expulsam as filhas de casa.
Em 2013, a moça foi flagrada por receptação de veículo roubado e porte de drogas, no ano seguinte já estava traficando drogas e em janeiro deste ano ameaçou uma professora de Ceilândia que havia reprovado sua irmã em 2016.
A Polícia realiza diligências para descobrir e prender o autor do crime, provavelmente alguém do mesmo submundo da vítima. Os desocupados caçam Pokémon e o governo paga bolsa para a mãe negligenciar a filha e dar o dinheiro para o parceiro beber cachaça. Precisamos encontrar, urgentemente, uma saída.
*Miguel Lucena é delegado da PCDF e jornalista.