A “lista” que fechará a renovação política

*Ney Lopes
A preocupação volta-se para a atual conjuntura nacional. O país dá sinais de que sai da UTI. Porém, o PT repete o mesmo estilo da época do “Fora FHC”. Torce abertamente pelo “quanto pior melhor”.
Além do “Fora Temer”, o partido assume o estilo populista de ser contra todas as reformas e massifica slogans, de que o capitalismo selvagem toma conta do país.
Prega falsamente o apocalipse, que estaria devorando direitos e conquistas sociais.
Em nenhum momento apresenta propostas alternativas concretas, embasadas em argumentos políticos, econômicos e sociais sólidos.
Muito atual lembrar o mestre Roberto Campos, com quem tive convivência próxima na Câmara dos Deputados e fui honrado com elogios à minha atividade parlamentar, no seu livro “Lanterna de Popa”.
No ano do seu centenário recordo expressões de quem se auto definia como “analfabeto erudito”:
“Fui um pouco um apóstolo, sem a coragem de ser mártir. Lutei contra as marés do nacional-populismo, antecipando o refluxo da onda”.
As marés do nacional-populismo continuam a ameaçar o país, com verdadeiros “tsunamis”.
Notem-se as adversidades e radicalismos constantes enfrentadas pelo governo Temer, que inegavelmente revela sinais claros de recuperação nacional.
Na economia, além da inflação contida, o PIB da agricultura dá salto e traz consigo o aumento das exportações, que avançaram 8%.
É voz corrente que o campo puxará vários setores da economia em 2017, sobretudo com a super safra de grãos, que promete ser 22% maior neste ano.
Há, entretanto, muita estrada pedregosa para percorrer, até 2018.
Talvez, o maior risco seja a instabilidade política constante, decorrente do processo de depuração em curso (Lava Jato) e algumas ações tresloucadas propostas no Congresso Nacional.,
Exemplo de desatino político seria a ameaça de aprovação da “lista fechada” nas eleições proporcionais, a partir de 2018.
Em princípio sou favorável a “lista fechada”, cuja experiência internacional comprova contribuir para o fortalecimento dos partidos.
Todavia, ela somente tem sentido, em países onde existam partidos fortes, com princípios e programas sólidos.
Para o Brasil institui-la teria que ser precedida de uma reforma política, eleitoral e partidária cirúrgica, que começasse reduzindo o número das 35 siglas que perambulam no cenário nacional, com o objetivo de manipular as verbas do Fundo Partidário e favorecer os seus “proprietários privados”.
Um verdadeiro absurdo admitir-se, que a “lista fechada” venha com a regra de que os primeiros lugares serão ocupados, em cada partido, pelos atuais parlamentares.
Se isso ocorrer, servirá apenas para garantir a reeleição dos “atuais”, preservando nomes envolvidos nas falcatruas, reveladas na Operação Lava Jato, que terão a certeza da renovação dos mandatos e a manutenção do foro privilegiado até 2022.
Caso a tese prospere, só restará ao presidente Temer vetá-la.
Se assim não proceder, todas as conquistas que começam a surgir no seu governo serão anuladas pela preservação indevida dos vícios históricos, que maculam a classe política brasileira.
A lista fechada, da forma como é apresentada no Congresso, significará grave retrocesso e “fechará” todas as perspectivas de uma renovação política saudável no país.

*Ney Lopes – jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino-Americano, procurador federal – nl@neylopes.com.br – www.blogdoneylopes.com.br

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