Museu da Escravidão e da Liberdade recebe objetos do acervo

 

Vestidas de branco e entoando cânticos, “baianas do abarajé” aspergiram e benzeram um cadeado da época colonial, primeiro objeto doado para o Museu da Escravidão e da Liberdade (MEL). A peça histórica foi entregue à Secretaria Municipal de Cultura do Rio pelo restaurador Marconi Andrade, integrante do Conselho Municipal de Cultura.

A doação do cadeado de ferro, utilizado por escravos na senzala de uma fazenda de café no município de Vassouras (RJ), marcou o início do trabalho para instituir o museu, que tem prazo de 40 meses para ser implantado.

Um grupo de trabalho formado por órgãos da prefeitura foi instituído para levantar o que já existe em cada pasta municipal e que possa ser incorporado ao museu, segundo a coordenadora do futuro MEL, Cristina Lodi.

Nos próximos dois meses, esse grupo deve definir o local em que o museu será instalado. Espaços na zona portuária do Rio estão em análise, para que a unidade integre o Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana, que tem como um dos principais pontos o histórico Cais do Valongo.

Redescoberto nas obras de revitalização da zona portuária e candidato a se tornar patrimônio da humanidade, o cais recebeu cerca de 500 mil dos 2 milhões de africanos trazidos à força para o Rio de Janeiro.

Dentro de três meses, o grupo planeja realizar uma oficina de três dias com representantes do movimento negro, para ouvir ideias de como deveM ser o acervo e a proposta do museu. A partir dessa oficina, será constituído um conselho consultivo que vai participar da construção do fio condutor do projeto.

“A gente está em um processo de escuta contínua, A gente não bate o pé em nenhuma questão. [Ouvimos] sugestões e nomes provisórios, para partir de algum lugar, debater e tentar um consenso. Se ele existir, maravilhoso”, disse Cristina Lodi.

A proposta de criar o Museu da Escravidão foi alvo de críticas ao ser divulgada no início do ano. Uma das que ganharam mais eco foi a do compositor e pesquisador negro Nei Lopes, que afirmou que o resgate da escravidão é lesivo à autoestima da população negra.

A escravidão no país, argumentou o compositor nas redes sociais, deveria ser lembrada apenas “por ter legado ao Brasil e ao mundo um inestimável patrimônio cultural, expresso em novas e instigantes formas de pensar, agir, trabalhar, criar, produzir, viver enfim. Em vez de um museu da escravidão, muito melhor seria projetar um museu da herança africana”, disse Lopes, que afirmou ter se manifestado para chamar a atenção para a “impropriedade da iniciativa”.

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