Clima de guerra: pelo menos oito ônibus são incendiados no Rio

Os ataques aconteceram em diversas partes do Rio. A Polícia Militar apreendeu 32 fuzis na Cidade Alta
Fotos: Divulgação / WhatsApp

Medo, pavor, tensão, desespero. Essas são algumas definições para o dia de ontem vivido pela população do estado do Rio. Pelo menos oito ônibus foram incendiados na Região Metropolitana do Rio, na manhã de ontem: três na Rodovia Washington Luiz, na altura de Duque de Caxias, outros quatro na Avenida Brasil, altura de Cordovil, e um na Rua Itabira, um dos acessos à comunidade Cidade Alta, na Zona Norte da capital fluminense. Dois caminhões também foram alvos de vândalos e pegaram fogo. A represália de criminosos foi contra a prisão de pelo menos 45 suspeitos durante uma operação policial na Cidade Alta. A Polícia Militar apreendeu 32 fuzis, quatro pistolas e 11. Os detidos são suspeitos de participação na guerra entre facções para tomar o controle do tráfico na região. A cidade entrou em estágio de atenção às 10h50, segundo o Centro de Operações.
Três policiais militares ficaram feridos por estilhaços na Favela Kelson’s, na Penha, e três suspeitos foram baleados na Cidade Alta, sendo levados para o Hospital Getúlio Vargas, também na Penha. A Polícia Militar fez as operações através do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), do 16°BPM (Olaria) e do 22°BPM (Maré), que estiveram na região da Cidade Alta. Em Parada de Lucas, policiais do Batalhão de Ações com Cães (BAC) participaram da ação e dois dos fuzis apreendidos foram encontrados na comunidade.
O porta-voz da PM, major Ivan Blaz, afirmou que a ordem de queimar veículos na Avenida Brasil, rodovia Washington Luiz e em vias próximas partiu de traficantes das favelas Nova Holanda, na Maré, da Kelson’s, na Penha, e do Parque das Missões, em Caxias. Os incêndios foram em represália à operação ocorrida na Cidade Alta, após a tentativa de invasão do Comando Vermelho à favela, hoje controlada pela facção Amigo dos Amigos (ADA). Não se sabe se os criminosos obtiveram êxito em tomar a comunidade, vista como estratégica pelos traficantes.
Os veículos em chamas causaram interdições parciais na Washington Luiz, na Linha Vermelha e na Avenida Brasil. Dois ônibus foram incendiados na pista lateral da Avenida Brasil, sentido Zona Oeste; outros dois, no sentido Centro da via, na altura de Cordovil. Três queimaram em chamas na Rodovia Washington Luís e um foi destruído na Rua Itabira, um dos acessos à comunidade Cidade Alta.
Segundo informações do comandante do 15º BPM (Duque de Caxias), tenente-coronel Sergio Porto, o ato de vandalismo naquele município é uma represália à ação de policiais militares nas favelas Beira-Mar e Parque das Missões.
Esta é pelo menos a quarta guerra de facções ocorrida na Cidade Alta nos últimos seis meses, com cinco pessoas mortas, entre elas dois moradores da comunidade e que não tinham envolvimento com o crime. Pelo menos outras quatro pessoas ficaram feridas a tiros, três fuzis foram apreendidos e seis pessoas presas.
Por conta da guerra na Cidade Alta, crianças e adolescentes não tiveram aula em escolas da região. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, são 3.109 alunos sem atendimento ontem de manhã nas regiões da Cidade Alta, Parada de Lucas e Vigário Geral.
Segundo a 4ª Coordenadoria Regional de Educação, cinco escolas, duas creches e um Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) ficaram sem atendimento pela manhã na região da Cidade Alta, afetando 2.203 alunos. Em Parada de Lucas, duas escolas e uma creche não abriram e deixou 738 alunos sem aula. Já em Vigário Geral, duas creches que atendem pela manhã 168 crianças estão fechadas.
“O que visualizamos hoje no Rio foi um exemplo da maneira de agir guerrilheira da criminalidade. Da mesma forma que os agitadores que na última sexta-feira pretendiam atravancar o tráfego viário, os criminosos buscaram criar diversos focos de problemas para dividir a atenção das forças de segurança e ainda levar muita intranquilização e insegurança para a população civil. Essa criação de múltiplos eventos, que é uma tática tipicamente guerrilheira, pode algum dia, esgotar a capacidade do efetivo da PMERJ e isso é preocupante. Precisamos capacitar nossas Guardas Municipais para apoiar a polícia nessas situações. Um consolo para os cidadãos é que, mesmo com armas modernas e poderosas, os criminosos demonstram não ser páreo para os nossos policiais e isso fica patente pela quantidade de prisões e pela quantidade e o tipo de armas capturadas. Temos de nos conscientizar que estamos travando uma guerra contra um inimigo que não tem cara, não tem cor, não tem origem, que é oportunista, que ataca onde percebe que há vulnerabilidade e que usa táticas de guerrilha, as quais não podem ser eficazmente combatidas pelo policiamento comum, sobretudo com nossas Leis penais frouxas e francamente inadequadas”, explicou Vinícius Cavalcante, diretor da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança (Abseg).
Número de ônibus queimados é assustador
O número de ônibus queimados no Rio nos quatro primeiros meses de 2017 já supera o total de coletivos incendiados no Estado em todo o ano de 2016. A informação foi divulgada pela Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor). Em nota, o órgão informou que este ano já são 50 ônibus incendiados por criminosos, enquanto 2016 terminou com 43 coletivos queimados.
Somente na manhã de ontem, foram oito veículos destruídos por chamas na Zona Norte da capital e em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A Fetranspor lamentou esses ataques. O custo estimado para a reposição da frota incendiada este ano já chega a R$ 22 milhões. Já em 2016 este custo superou R$ 19 milhões. A Fetranspor destaca que “com a crise econômica e o desequilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão não há garantia para a compra de novos veículos, que podem demorar até um ano para entrarem em circulação”.
A Federação informou ainda que “com esse tipo de ataque, os veículos – não há seguro para casos de incêndios criminosos – são inteiramente descartados

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