Da grandeza à bagatela

Miguel Lucena

Os regimes comunistas do Leste Europeu, sob a liderança da União Soviética, adotaram como lei maior a Constituição-balanço, cuja alteração se dava conforme as metas a serem alcançadas pelo país, sob a tutela do Partido Comunista.
Toda a superestrutura funcionava com base em parâmetros ideológicos, com ênfase para a punição dos sabotadores e “inimigos do povo” – que eram, na verdade, aqueles que o Partido Comunista classificavam como seus inimigos, por discordarem de suas linhas político-ideológicas.
Assim, pessoas comuns e líderes do próprio partido foram julgados e condenados em processos movidos e arrumados às pressas como forma de afastar qualquer obstáculo do caminho dos mandatários do momento.
Tribunais de exceção foram montados na Rússia para julgar líderes como Bukharin, o qual desde jovem era o preferido de Lênin, porém caiu em desgraça por ousar discordar de metas econômicas e práticas políticas estabelecidas por Stálin e terminou na ponta do fuzil.
Dirigentes antigos e respeitados foram humilhados publicamente e executados, e suas famílias foram perseguidas impiedosamente, até que, tempos depois, os processos foram reconhecidos como forjados e os dirigentes perseguidos acabaram sendo reabilitados.
Os militantes petistas que enfrentam o Judiciário no Brasil pensam assim. Nenhuma prova deve ser considerada. “O sistema foi montado para proteger os poderosos e perseguir seus inimigos. Foi assim na Rússia, quando perseguimos nossos inimigos; está sendo assim em Curitiba, com Moro a serviço da C&A e da Maçonaria; Lula é intocável e não pode ser intimado para interrogatório. Onde já se viu uma coisa dessas, um líder internacional arguído por um juizeco?”, é como pensam.
Até que provem em contrário, o Brasil não é um regime de partido único, aliás, temos partidos até demais mamando no Fundo Partidário; o Congresso está em pleno funcionamento e o Judiciário possui várias instâncias de julgamento, até que uma decisão transite em julgado e um réu seja condenado ou absolvido.
Se Lula nunca fez nada errado, pode ficar tranquilo. Ele só precisa saber que a desgraça está nas miudezas. É por isso que quem é grande não pode se envolver com bagatelas.

Miguel Lucena é jornalista e delegado da Polícia Civil do DF.

error: Conteúdo protegido !!