Atriz Ruth de Souza completa 96 anos

Ruth de Souza fez história ao ser a primeira atriz negra a representar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Foi no dia 8 de maio de 1945, em “O imperador Jones”, de Eugene O’Neil, numa montagem do Teatro Experimental do Negro, grupo fundado por Abdias Nascimento e Agnaldo Camargo. E seu feito ajudou a abrir caminho para o artista negro no Brasil. No dia em que comemora 96 anos de nascimento da atriz, reveja fatos marcantes da carreira da atriz:

Na televisão, foi uma das pioneiras. Passou pela TV Tupi, pela Record, TV Elxcelsior e, em 1968, Ruth de Souza foi contratada pela Globo para atuar na novela Passo dos Ventos, onde interpretou a mãe de santo Tuiá, uma mulher sábia cujos antepassados eram escravos, no Haiti. Logo depois, deu vida à Tia Cloé, uma escrava que liderou a luta pela liberdade nos Estados Unidos da Guerra de Secessão. Foram mais de 20 papeis na emissora, em quatro décadas de trabalho.

Ruth Pinto de Souza nasceu em 12 de maio de 1921, no bairro do Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Filha de um lavrador e de uma lavadeira, desde criança sonhava em ser atriz. Descobriu ao entrar para o Teatro Experimental do Negro, onde, além de “Imperador Jones”, atuou em “Todos os filhos de Deus têm asas” e “O moleque sonhador”, também de O’Neil; “Anjo negro”, de Nelson Rodrigues, e muitos outros. Em 1948, ganhou uma bolsa de estudos da Fundação Rockfeller e foi estudar na Howard University, uma universidade exclusiva para negros, em Washington. Nos Estados Unidos, estudou também na escola de teatro Karamu House, em Cleveland, Ohio.

A atriz também foi uma das pioneiras da TV brasileira. Participou de programas de variedades e musicais no início das transmissões da Tupi, até adaptar para a televisão, com Haroldo Costa, a peça “O filho pródigo”, que havia encenado no Teatro Experimental do Negro. “Eu acredito que foi o primeiro teatro na televisão, eu acho que fomos nós que fizemos”, conta. A primeira novela foi “A deusa vencida” (1965), de Ivani Ribeiro, na Excelsior.

Em “A cabana do Pai Tomás” (1969), de Hedy Maia, foi Tia Cloé, uma das líderes do movimento que levou à abolição da escravidão nos Estados Unidos dividido pela Guerra de Secessão: “Foi um sucesso muito grande, todo mundo me chamava de Tia Cloé”. Na década de 1970, Ruth de Souza participou de clássicos da dramaturgia da Globo, como “Pigmalião 70” (1970), “Os ossos do barão” (1973), “O rebu” (1974), “Helena” (1975) e “Duas vidas” (1976).

Com Grande Otelo, fez uma dupla inesquecível em “Sinhá moça” (1986), de Benedito Ruy Barbosa. “Do meio para o fim, eu e o Otelo tomamos conta da novela, porque os personagens eram muito divertidos. Eram dois maluquinhos, escravinhos malucos”, conta. A atriz já havia atuado em uma adaptação de “Sinhá moça” para o cinema, em 1953, e por isso conhecia bem

A atriz estreou no cinema por indicação do escritor Jorge Amado em “Terra violenta” (1948), adaptação de seu romance “Terras do sem Fim”, dirigida por Tom Payne.

Fez mais de 30 filmes, incluindo “Sinhá moça”, também de Payne, que a levou a concorrer ao prêmio de Melhor Atriz do Festival de Veneza de 1954. A atriz esteve também no clássico “O assalto ao trem pagador” (1962), de Roberto Farias; e “As filhas do vento”, de Joel Zito Araujo, com o qual foi premiada no Festival de Gramado de 2004.

Sua admiração pelo cinema vem também do fato de conceder mais espaço, em sua opinião, para atores negros. Para Ruth de Souza, o preconceito sempre foi uma realidade com a qual precisou lidar. “O cinema sempre deu mais oportunidade para o negro, desde o Grande Otelo. Eu tive sorte na continuidade de trabalho, tanto no teatro quanto na televisão: não parei nunca nesses 50 anos. Sempre tive trabalho, mas são poucos os negros que têm. Isso foi benção de Deus.”

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