“Não renunciarei”, diz Michel Temer em pronunciamento

Presidente exige investigação sobre acusações: ““Sei o que fiz e sei da correção dos meus atos. Essa situação de dúvida não pode persistir”
Guilherme Britto / PR

Ontem, o presidente Michel Temer disse que não irá renunciar ao cargo e exigiu uma investigação rápida na denúncia em que é citado, para que seja esclarecida. “Não renunciarei. Repito não renunciarei”, afirmou em pronunciamento, no Palácio do Planalto.
“Sei o que fiz e sei da correção dos meus atos, e exijo investigação plena e muito rápida para os esclarecimentos ao povo brasileiro. Essa situação de dúvida não pode persistir por muito tempo”, disse Temer, em pronunciamento.
Foi a primeira fala do presidente após divulgação na noite de quarta (17) de reportagem do jornal O Globo em que é citado. A reportagem diz que em encontro gravado, em áudio, pelo empresário Joesley Batista, o presidente teria sugerido que se mantivesse pagamento de mesada de Batista ao ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e ao doleiro Lúcio Funaro para que estes ficassem em silêncio. Cunha está preso em Curitiba.
Hoje, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin homologou a delação premiada dos irmãos Joesley Batista e Wesley Batista, donos do grupo JBS, firmada com o Ministério Público Federal (MPF) e abriu inquérito para investigar o presidente Michel Temer.
Segundo Temer, a investigação do Supremo Tribunal Federal (STF) será território onde surgirão todas as explicações e nunca autorizou ninguém a usar seu nome indevidamente. “No Supremo, demonstrarei não ter nenhum envolvimento com esses fatos”, disse.
Temer negou ter concordado com pagamentos a Eduardo Cunha. Afirmou ainda que não teme delações premiadas. “Em nenhum momento autorizei que pagasse a quem quer que seja para ficar calado. Não comprei o silêncio de ninguém. Por uma razão singelíssima, exata e precisamente porque não temo nenhuma delação. Não preciso de cargo público nem de foro especial. Nada tenho a esconder, sempre honrei meu nome”, disse.
No pronunciamento, Temer disse que seu governo “viveu nessa semana seu melhor e seu pior momento”. O presidente citou a queda da inflação, dados de geração de empregos, avanço das reformas Trabalhista e da Previdência no Congresso, ocorridos em sua gestão, e que isso não poderia ser perdido. “Todo o imenso esforço de retirar o país da recessão pode se tornar inútil. E não podemos jogar no lixo da história tanto trabalho feito em prol do país”.
Ainda ontem, depois da divulgação da reportagem, Temer se reuniu com os ministros Antonio Imbassahy, da Secretaria de Governo; Eliseu Padilha, da Casa Civil; Moreira Franco, da Secretaria-Geral da Presidência da República. Também estiveram na reunião assessores da Secretaria de Comunicação da Presidência.
Era esperado um pronunciamento do presidente ontem, porém cerca de uma hora depois do início da reunião, o Palácio do Planalto divulgou nota, na qual Temer negou as acusações. Hoje, o presidente explicou que só veio a público no dia seguinte, porque esperava o envio do conteúdo da delação dos irmãos Batista pelo STF, o que ainda não ocorreu.
“Ressalto que só falo agora dos fatos que se deram ontem porque tentei conhecer primeiramente o conteúdo de gravações que me citam. Solicitei oficialmente ao Supremo Tribunal Federal acesso a esses documentos, mas até o presente momento não o consegui”. (Agência Brasil).

Humberto Costa afirma que
presidente vai cair ‘de um
jeito ou de outro’

Após o pronunciamento em que o presidente Michel Temer negou que vá renunciar, o senador Humberto Costa (PT-PE) usou sua conta no Twitter para comparar a situação do peemedebista àquela vivida por Fernando Collor em 1992, antes de sofrer o impeachment. Para o petista, a fala de Temer mostrou que ele foi “raivoso quando não há mais sustentação”. “De um jeito ou de outro, vai cair”, afirmou Costa.
Em outro tuíte, o senador publicou uma foto de uma placa de “Saída” próxima ao portão de entrada de um estacionamento em Brasília e a comparou à forma como o peemedebista assumiu a Presidência. “Foi pelos fundos do Palácio do Planalto que Temer entrou. É pelos fundos que ele vai sair. Direto para o lixo da história”, escreveu. (AE)

Maia deve rejeitar os pedidos
de impeachment, diz vice-líder

Darcísio Perondi classificou Joesley como “moleque” e “brasileiro escroto”
Agência Câmara

O vice-líder do governo na Câmara, Darcísio Perondi (PMDB-RS), disse ontem, que o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deve rejeitar todos os pedidos de abertura de processo de impeachment contra o presidente Michel Temer. É prerrogativa de Maia analisar a admissibilidade dos pedidos. “Ele, com certeza, vai rejeitar todos os pedidos”, disse Perondi.
O peemedebista afirmou ainda que o questionamento de aliados é normal, mas que Temer é habilidoso no diálogo com parlamentares. Sobre o PSDB especificamente, Perondi disse que “é óbvio que o partido tem dúvida, mas está firme no governo”. “É o Brasil dos novos tempos.”
Mesmo que os tucanos desembarquem do governo Temer, Perondi garantiu que o PMDB seguirá no poder. Um dos parlamentares mais próximos ao presidente, Perondi disse ainda que Temer está indignado com as acusações e angustiado. “Como não ficar angustiado num momento desses?”, questionou.
>> “Moleque” – O vice-líder do governo na Câmara chamou o empresário Joesley Batista de “moleque” e “brasileiro escroto”. Joesley Batista, um dos donos da JBS, gravou conversa com Temer em que o presidente teria dado o aval para a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) nas investigações da Operação Lava Jato. “Ele é um moleque, um brasileiro escroto”, disse Perondi, logo após o pronunciamento do presidente, que afastou a possibilidade de renúncia ao cargo. De acordo com o vice-líder do governo na Câmara, Temer sequer cogitou a hipótese de deixar o posto. “Parece-me que ele tentou comprar a República”, acrescentou, buscando ligar Joesley aos governos do PT.
Perondi afirmou que o andamento das reformas trabalhista e da Previdência não muda e que elas são uma necessidade. “Estamos quase chegando aos números para aprovar a reforma da Previdência na Câmara”, ressaltou. “Talvez, as reformas ameacem os poderosos”, acrescentou.

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