Cizinho Afreeka lança canção em homenagem à filha Makeda Foluke
Aproveitando o bom momento da sua carreira artística, o compositor e poeta afro-carioca Cizinho AfreeKa prepara o lançamento de seus mais recentes trabalhos.
Um deles é um mini-álbum (EP), com nove faixas, cujo single “Canção para Makeda”, em homenagem à sua filha primogênita, será lançado no YouTube, no domingo, 28 de maio. “Homenagear a Makeda é divino, pois ela que teve na história da sua vida a dificuldade de ser batizada com um nome africano, em alusão aos seus ancestrais”, afirmou.
A ideia da música surgiu após a família do artista conquistar na Justiça o direito de registrar a filha com nome africano, cujo registro tinha sido recusado pelo Oficial de Registros de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, sob a alegação de que a criança ficaria exposta ao ridículo.
Decisão histórica do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro determinou, por unanimidade, em junho do ano passado, três meses após o nascimento da criança, o registro de “Makeda Foluke de Paula da Silva”, nascida em 16 de março de 2016.
A outra novidade é o seu primeiro livro de poesia intitulado “Desakato lírico”, que o poeta irá lançar durante a FliSamba – Festa Literária do Samba e Resistência Cultural, na primeira quinzena de julho, no Renascença Clube, no bairro do Andaraí, Zona Norte do Rio.
Projeto musical
O trabalho musical é um projeto “sonoramente poético” em parceria com o músico e produtor Alex Santoz. Para participar desse empreendimento, Cizinho Afreeka convidou amigos e a sua esposa Juh de Paula, que também é cantora, para “recicantar” algumas de suas poesias que foram musicadas e estão presentes no livro.
As faixas do EP de Cizinho Afreeka, que além do YouTube também poderão ser acessadas em outras plataformas musicais digitais, são “Extermínio” (vozes: Flávio Antiéticos, Thiago Costa, Wil-Antiéticos), “Máscara Branca” (voz: Nyl Mc), “Arquitetura da beleza” (voz: Alex Santoz), “Canção para Makeda” (voz: Alex Santoz e Juh de Paula), “Sabe o pior” (Juh de Paula), “Sol nos seus olhos” (vozes: Alex Santoz e Glória Greice), “Amor preto” (voz: Mano Teko), “Minha cria” (voz: Átomo) e “Mais que amizade” (voz: Juh de Paula).
Cizinho Afreeka não separa a poesia da música, e diz que os dois segmentos artísticos sempre estiveram presentes em seu processo criativo. “Eu consegui traduzir, expressar o que estava dentro de mim em poemas. E, um pouco mais tarde, poema e música foram nascendo simultaneamente”.
Sobre o livro
O livro “Desakato lírico” é uma produção independente do próprio autor, com apoio da editora Ciclo Contínuo, e que reúne 88 poemas criados por Cizinho nos últimos 12 anos. “O livro é de poesia preta, como diz meu querido poeta Cuti Silva. Trata-se de uma obra de literatura negro-brasileira, que fala de vida, de amor e também de confronto ao racismo, a disputa dos símbolos, signos e significados”, diz o poeta.
No prefácio do livro, o poeta Ele Semog diz que “não existe diletantismo ou descaso nos poemas de Cizinho Afreeka reunidos neste livro de ‘Desakato lírico’, cujo título é um desafio à inquietação e à mobilidade”.
Para a atriz e escritora Cristiane Sobral, mestre em Arte pela Universidade de Brasília (UnB) e membro da Academia de Letras do Brasil (ALB), a publicação de “Desakato Lírico” é “um gesto ousado a rasgar os véus da invisibilidade que sentencia os escritores afro-brasileiros no mercado editorial”.
Sobre o autor
Cizinho Afreeka nasceu em 1971, na Cidade de Deus, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Filho de Moacyr Carlos Marcellino da Silva e Ligia Maria Ribeiro da Costa. Com oito anos de idade, foi morar com a família em Campo Grande, onde vive até hoje com a mulher Juh de Paula e a filha pequena Makeda Foluke.
O Afreeka adotado no nome foi inspirado em John Afreeka, líder do MOVE, organização dedicada aos direitos civis, criada nos Estados Unidos, nos anos 70.
O autor diz que a poesia sempre fez parte da sua vida e recorda que começou escrever aos 13 anos de idade, em capas de cadernos escolares. A primeira vez que teve um poema publicado foi no jornal de bairro Ti Ti Ti. “Mas somente aos 24 anos, li um verso meu publicamente”.
A influência para escrever poemas veio do pai, que gostava de livros e foi um dos fundadores do Bloco Carnavalesco Garimpeiros, como integrante da ala dos compositores. “Ele escrevia poemas e de alguma forma todo aquele movimento foi por mim absorvido”.
Em 2004, Cizinho ingressou como cotista na UERJ para estudar Economia. Em 2005, participou da fundação do Coletivo Denegrir e depois se juntou, também, ao Grupo de Estudos Tornar-se Negro e Negra, por meio do qual afirma pode “beber da fonte preta, pelas obras de autores e autoras negros. Pude conhecer não só os textos, como pessoalmente muitos intelectuais”.
Em 2010, Cizinho participou da criação do “Griotagem – Encontro poético entre pretos e pretas”; um espaço que lhe “proporcionou desenvolver a potencialidade criativa”.
Cizinho Afreeka divide a atividade de compositor e poeta, com a de sargento do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. “Ser bombeiro é gratificante, porque é uma profissão que está em contato direto com a vida. E poesia pra mim é pensar a vida, creio que aí deva ser a encruzilhada onde se encontram o meu poema com minha profissão. O Corpo de Bombeiros tem muitos artistas; muita gente boa.