Horto põe fim à área degradada no Centro de Nova Iguaçu

Marcelo Reis (esquerda) e Mário Somma são os responsáveis pela transformação visual que vem encantando os iguaçuanos
Fotos: Raphael Bittencourt/Jornal de Hoje

No dia 5 de junho é celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente. E um pedacinho de Nova Iguaçu tem motivos para comemorar. O odor do lixo foi substituído pelo frescor das plantas. Baratas e roedores deram lugar a pássaros e borboletas. Esta é a nova realidade de uma área de 14 mil metros quadrados da Via Light, no trecho entre as ruas Coronel Francisco Soares e Capitão Chaves, no Centro. A iniciativa partiu do biólogo Marcelo Reis que, em sociedade com o advogado e amigo Mário Somma, assumiu a concessão do terreno da Light e transformou uma área degradada e uma espécie de ‘ilha verde’ em meio a um dos mais movimentados centros urbanos da Baixada Fluminense.
“Se Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até Maomé”. É desta forma que Marcelo explica seu conceito de levar para o Centro de Nova Iguaçu o Espaço Bio Botânico Tinguá. A transformação começou em setembro do ano passado, com o cercamento da área e a retirada de todo o lixo e entulho existente. Mas o desejo de revitalização começou bem antes, ainda no Governo Sheila Gama.

Antes ocupada por lixo e entulho, área deu lugar ao Espaço Bio Botânico Tinguá
Fotos: Raphael Bittencourt/Jornal de Hoje

“Eu era secretário adjunto de Meio Ambiente e já tentava resolver este vazadouro de lixo desde aquela época. Foi quando entendi a dinâmica da forma que a Light utilizava os terrenos para concessões e criações de hortas. Sempre achei que essa poderia ser uma boa solução”, conta Marcelo Reis.
No entanto, transformar um terreno com tanto lixo em um solo fértil para o plantio não seria uma tarefa fácil e tampouco barata. Então, ao assumir a concessão da área, o biólogo decidiu criar um horto, não uma horta.
“A horta é aquela tradicional, com alface, cebolinha, todos os produtos alimentícios plantados diretamente no solo. Seria preciso fazer canteiros com 20 centímetros de altura, pois essa terra daqui não prestava para isso, tinha muito entulho, estava contaminada. Já o horto, além de não haver o plantio diretamente no solo, possibilita um leque maior de opções, não só na venda de mudas, mas na confecção de jardins para condomínios, casas residenciais”, explica.
Marcelo conta que já durante o Governo Nelson Bornier ele conversou com o antigo superintendente de Áreas Verdes, que criou um projeto chamado Via Verde. A ideia era justamente transformar toda a rede da Light em hortos e hortas.

Horto conta com mais de 500 espécies de mudas

Iná Alves e Irineu de Paula aprovaram o horto e compraram mudas para plantar no jardim de casa

Marcelo Reis é nascido e criado na Rua Coronel Francisco Soares, numa casa que fica a poucos metros de onde fica o horto. Mas é em Tinguá que ele se sente bem. Tanto é que ele quis trazer uma pequena mostra das espécies nativas da Reserva Biológica de Tinguá para o Centro de Nova Iguaçu.
Somadas estas espécies nativas, fruteiras e também plantas ornamentais, o biólogo calcula ter mais de 500 espécies em seu horto. “As que mais atraem o público são os ipês, Pau Brasil, Jabuticabeira, Cambucá, Ameixeiras”, revela.
As mudas têm preços a partir de R$ 3 e o adubo parte de R$ 4,50. O bom preço tem agrado clientes como o casal Irineu de Paula, 68 anos, e Iná Alves, 69. Moradores de Austin, eles foram ao horto de Marcelo em busca de novas espécies para serem plantadas no jardim de casa. “Aqui é ótimo para quem gosta de plantas. Nós temos jardim com árvores frutíferas e esta é a segunda vez que viemos aqui para comprar mudas”, conta Irineu.
Para Marcelo, ter um jardim não é uma questão de poder, mas sim de querer. “Temos plantas de todos os preços e para todos os tipos de jardins. A pessoa não precisa ter um quintal grande, ela pode ter um jardim vertical até mesmo dentro de casa. Isso minimiza muito o calor”, ensina o biólogo, que dá uma espécie de consultoria aos seus clientes, informando-lhes sobre quais as plantas mais adequadas para cada tipo e ambiente e solo.
Embora o espaço já esteja em funcionamento as obras continuam acontecendo. O horto deverá ser inaugurado oficialmente somente no início da primavera.

Trabalho reconhecido pela população

Mãe de Marcelo, Regina Reis espera que novos espaços como este sejam criados na cidade

Acabar com o lixo acumulado e dar fim aos ratos e baratas para dar lugar a um espaço verde teve seu custo, mas o ganho foi ainda maior. Não só do ponto de vista ecológico, mas também da percepção da população.
“A própria comunidade nos presenteou com uma faixa de agradecimento. Tudo o que venho ouvindo desde que chegamos aqui são coisas boas. As pessoas estão encantadas, muitas querem dar uma volta aqui no espaço simplesmente para fugir da rotina, desestressar, como uma válvula de escape”, comemora o idealizador do projeto.
Regina Reis, mãe de Marcelo, também ficou encantada com o espaço. “Foi uma ideia maravilhosa de e do Mário. Seria ótimo se houvesse outros lugares como este na cidade”, sugere a aposentada de 73 anos.
E a revitalização não para por aí. Marcelo Reis conta que em breve um grupo de grafiteiros irá acabar com a poluição visual de todo o muro da Light. “Vamos tirar todas essas propagandas feias e grafitar o muro com o tema ‘meio ambiente’. A ideia é contar a história dos laranjais de Nova Iguaçu nesse paredão.”
Além de embelezar a Via Light, Marcelo deseja transformar o local numa espécie de praça que receberá diferentes tipos de eventos ligados à cultura. “Temos uma carência de espaços culturais na cidade. Então pensamos em trazer exposições de telas, de orquídeas, recitais, apresentações de dança. Queremos criar um espaço alternativo”, vislumbra.

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