Brasil: Símbolo de perda de tempo e enganação

*Nelson Valente

O Brasil precisa propor-se moratória moral, concordata política, falência de qualquer ordem ou natureza. Depois das denúncias de corrupção é um erro levantar a bandeira da ética e da moralidade. Nos dias de hoje, há uma descrença generalizada. Os escândalos no Congresso, as falcatruas no governo, a falta de lisura em alguns membros do Judiciário, tudo isso faz crer que a ética está em pane, promovendo a prevalência da tristemente famosa “Lei de Gerson” (a vida é dos espertos).
O presidente Temer e seu projeto de governo, estão presos a ásperas condições sociais e seus sonhos e de pouca relação com a realidade brasileira.
O presidente está em boa companhia, com relação a esse equívoco, pois os demais planos de governo (pelo menos os conhecidos) também parecem feitos para um país que não é o nosso. O projeto do governo acabou virando um símbolo de perda de tempo e enganação.
Não adianta o PT se refazer. É preciso encontrar a “síndrome” causadora de atos de corrupção e de outras mazelas individualizadas, que não adianta tratar isoladamente.
Não é tarefa para uma só pessoa, mas para a sociedade e especialmente a comunidade científica. Estamos perdendo uma imensa chance de colaborar com o Brasil e com o mundo.
É do tipo “não aprendi nada”, que diz à população: vocês tinham razão de esperar muito do PT porque nós somos a reserva moral da Nação. Houve um “probleminha” entre nós, mas continuamos sendo a reserva moral da Nação.
Essa “cegueira pessoal” pode ser solução imediata para o partido, mas a médio e longo prazo não funciona.
Não descarta a possibilidade de o grupo de petista que assumiu a condução do partido nos últimos anos tenha chegado ao poder já com más intenções (mas exclui dessa turma o ex-presidente da República), não sendo apenas resultado da corrupção do poder.
O Brasil encontra-se frente a um desafio maior do que fazer uma faxina moral como propunha Tarso Genro (ex-governador do Rio Grande do Sul) e de novo um gaúcho se apresentava como “bastião da moralidade”.
Antes era um ex-guerrilheiro e até mesmo o ex-presidente da República, que construiu recentemente uma frase questionável lógica.
Lula havia dito, e sempre repete, que é filho de analfabetos, sofreu muito na infância, percorreu uma trajetória socialmente baixa até alcançar a Presidência da República, “logo” não há no Brasil pessoa mais ética do que ele.
Esse “logo” não liga nada a nada, a frase de Lula foi de “uma infelicidade absoluta”.
Nesse sentido, a queda de um partido que se comportou o tempo todo como um termômetro moral, uma bússola moral, foi atacado exatamente nesse ponto e se transformou em biruta ao sabor das negociatas, coloca o País frente a duas possibilidades: quando o ex-ministro da Justiça, atual governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, quando assumiu interinamente a presidência do partido e seu primeiro discurso é sobre a faxina moral, é evidente que a sociedade espera que os corruptos, enganadores, manipuladores, que são muitos, sejam apenados conforme a lei; no entanto, ideologizar isso e novamente propor à Nação um projeto de pureza moral, é novamente criar ilusão.

*Nelson Valente é professor universitário, jornalista e escritor.

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