Escolas ameaçam não desfilar em 2018 se houver corte verba

Pelo menos cinco das 13 escolas de samba do Grupo Especial do Rio — União da Ilha, Mocidade, São Clemente, Mangueira e Unidos da Tijuca — ameaçam ficar longe da Marquês de Sapucaí em 2018 caso o prefeito Marcelo Crivella de fato corte à metade a subvenção distribuída às agremiações. Crivella disse que vai tirar o dinheiro do carnaval para dobrar (de R$ 10 para R$ 20) o valor diário gasto com cada uma das 12 mil crianças matriculadas em 158 creches conveniadas com o município. Representantes do setor turístico e das escolas de samba argumentam que o investimento da prefeitura no maior evento da cidade incrementa a economia do Rio. A festa, segundo cálculos da Riotur (órgão da prefeitura), movimenta R$ 3 bilhões no período, aumentando a arrecadação de impostos.

Em 2016 e 2017, cada escola do Grupo Especial recebeu R$ 2 milhões da prefeitura, por ano. Em 2015, a subvenção tinha sido de R$ 1 milhão. O então prefeito Eduardo Paes decidiu dobrar o valor para compensar a suspensão de repasses do governo do estado, que já enfrentava dificuldades financeiras. O último ano em que cada escola teve apenas R$ 1 milhão em subvenções para desfilar foi em 2008.

“Propus um corte de 50% na subvenção. A beleza do carnaval está mais no samba no pé mostrado pelos componentes. Juntas, as pessoas formam uma grande geografia humana. Carnaval é muito mais que carros alegóricos. Estamos com restrições orçamentárias, quero usar esses recursos a partir de agosto para pagar uma diária de R$ 20 para atender três mil crianças. Hoje, essas creches recebem R$ 10. É pouco, até mesmo para comprar um iogurte. É uma questão de refletir. Se vamos usar esses recursos para uma festa que dura três dias (o carnaval) ou ao longo de 365 dias do ano”, alegou o prefeito, que este ano causou um mal-estar ao deixar de entregar a chave da cidade ao Rei Momo na abertura oficial do carnaval.

O remanejamento de R$ 13 milhões não seria suficiente para cobrir os novos investimentos prometidos em todas as creches conveniadas. Para dobrar o valor das diárias pagas por criança, o prefeito precisaria de R$ 43,2 milhões a mais por ano. O dinheiro tirado do carnaval seria suficiente para atender apenas 3.611 crianças. As escolas dos grupos de acesso também receberão menos recursos da prefeitura, mas os cortes não foram divulgados. Apenas no caso do Grupo A (cuja campeã é promovida ao Grupo Especial), a subvenção do município este ano foi de R$ 1 milhão por escola.

Crivella, no entanto, deixou em aberto a possibilidade de patrocinadores privados selecionados pela prefeitura e de o Conselho Municipal de Turismo investirem em eventos que ajudem as escolas. O conselho, no entanto, sofreu uma baixa na semana passada. O empresário José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que se dedicava a incrementar o carnaval, inclusive planejando uma grande reforma para modernizar o Sambódromo, decidiu deixar a equipe, como informou a coluna Gente Boa, do GLOBO. E ontem, na prefeitura, ninguém sabia informar, a oito meses do carnaval, quando essas obras vão começar nem quanto elas custarão. Entre as intervenções prometidas, estão a melhoria da iluminação e a instalação de telões na Avenida.

O presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), Jorge Luiz Castanheira, foi informado pelo prefeito sobre o corte da subvenção na semana passada. Ele chegou a marcar para ontem uma reunião com os presidentes das escolas e o prefeito, que cancelou a agenda. Crivella viajou à noite para Amsterdã. Esse cenário de indefinições já afeta o planejamento das agremiações para os desfiles de 2018 que, além de não terem tido o patrocínio de estatais que no passado costumavam apoiar o carnaval (principalmente a Petrobras), ainda têm R$ 100 mil a receber do subsídio deste ano.

“Com R$ 1 milhão a menos, não temos condições de fazer o carnaval. Se a subvenção for reduzida, a Mangueira, em lugar de desfilar na Marquês de Sapucaí, vai se apresentar para a comunidade na Rua Visconde de Niterói”, disse o presidente da verde e rosa, Chiquinho da Mangueira.

Os diretores de escola lembram que, durante a campanha eleitoral, o prefeito se reuniu com os representantes das escolas e prometeu apoiar o carnaval. O presidente da Unidos da Tijuca, Fernando Horta, criticou o corte e disse que Crivella tem agido justamente de forma contrária.

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