“Meu silêncio não está à venda”, diz Cunha à PF

Ex-presidente da Câmara prestou depoimento no inquérito que investiga Michel Temer. Ele negou acusações feitas por Joesley Batista
Rodolfo Buhrer / Reuters / 20.10.2016

O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) negou ontem (14), em depoimento à Polícia Federal, ter recebido propinas da JBS em troca de se manter calado nas investigações da Operação Lava Jato. Cunha prestou depoimento no inquérito que investiga o presidente da República, Michel Temer, por corrupção passiva, obstrução da Justiça e organização criminosa.
“Meu silêncio não está à venda”, disse Cunha, segundo o advogado Rodrigo Sanchez Rios, que acompanhou o depoimento.
De acordo com Rios, Cunha negou “categoricamente” todas acusações de pagamento de propina feitas pelo empresário Joesley Batista, dono da JBS.
Em depoimento à Procuradoria Geral da República (PGR), Joesley disse que pagava uma mesada a Cunha e ao operador Lucio Funaro em troca do silêncio dos dois. Disse ainda que Temer sabia da mesada. Em gravação anexada ao inquérito, Joesley diz ao presidente: “Eu tô bem com o Eduardo.” E Temer responde: “Tem que manter isso, viu.”
“O deputado ressaltou que nunca procuraram ele. Nem o presidente Temer nem interlocutores do presidente. Ele negou categoricamente. Respondeu de forma geral”, disse o advogado.
Segundo Rios, a Polícia Federal em Brasília enviou 47 perguntas para serem feitas a Cunha. Aproximadamente a metade delas diz respeito à ação que corre na 10ª Vara Federal de Brasília com base na delação de executivos da Odebrecht que dizem ter pago R$ 17 milhões ao ex-presidente da Câmara em troca da liberação de verbas do Fundo de Investimento do FGTS.
Eduardo não respondeu a estas indagações alegando que prefere tratar delas no âmbito do próprio processo. Segundo o advogado, os questionamentos foram extraídos das perguntas feitas pela própria defesa de Cunha a Temer.
>> Delação – Eduardo afirmou que nunca foi procurado para fazer acordo de delação premiada.
A possibilidade de uma delação apavora o Planalto e a cúpula do PMDB. Homem forte do partido na Câmara, o ex-deputado foi o principal artífice do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e um dos pivôs da delação dos donos da J&F. As revelações dos delatores resultaram na Operação Patmos, desdobramento da Lava Jato, deflagrada no dia 18 de maio, que encurralou Temer e o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG).
O ex-deputado, preso no Complexo Médico Penal de Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, retornou no início da tarde para o presídio.
(AE).

 

Segundo deputado, só fatos
graves e novos podem gerar
denúncia forte contra Temer

Vice-líder do PMDB na Câmara, o deputado Carlos Marun (MS) negou ontem (14) que tenha tratado com o presidente Michel Temer da denúncia que a Procuradoria-Geral da República (PGR) deve encaminhar nos próximos dias. Segundo Marun, a relatoria da denúncia na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) não foi discutida na reunião de Temer com deputados mais cedo e o assunto só será debatido quando o pedido for formalizado. “Tenho a mais absoluta convicção de que ela (denúncia) será derrotada. Salvo surgimento de fatos realmente graves e novos, não vejo se estabelecer uma denúncia forte contra o presidente da República”, disse.
Em entrevista no Salão Verde da Câmara, Marun disse que a base governista não pode “se dar ao luxo” de ficar “inerte” esperando a denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e que o País precisa de estabilidade. O vice-líder afirmou que a prioridade é a retomada das articulações para a votação das reformas da Previdência, Política e Tributária, principalmente após a decisão do PSDB de manter-se na base aliada. “Eu nos vejo hoje mais fortes do que quando começou essa crise”, declarou.
De acordo com Marun, antes da delação premiada dos executivos da JBS, o governo contabilizava aproximadamente 260 dos 308 votos necessários para aprovar a reforma previdenciária. O Palácio do Planalto ainda não tem os votos necessários, admitiu Marun, mas o ambiente estaria em processo de “reconstrução”. “Realmente perdemos tempo, mas penso que ganhamos votos (com os tucanos). É o momento de retomar a busca de votos para que possamos, ainda antes do recesso, votar aqui na Câmara”, afirmou. O parlamentar destacou que a reforma da Previdência só será votada na Câmara após a aprovação no Senado da Reforma Trabalhista.
Marun insistiu que a Casa não pode se pautar por uma eventual denúncia de Janot. “Até chegar a denúncia, ela não existe. Em chegando, nós rapidamente vamos analisá-la e tenho a mais absoluta certeza que não estarão ali presentes provas suficientes para recomendar o afastamento do presidente da República”, disse.

 

Oposição diz que obstrução
será mantida nas votações

O líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP), avisou que a oposição manterá a obstrução na Casa e que a prioridade será a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) das Eleições Diretas na CCJ. “Vamos fazer de tudo para que não tenha votação no plenário”, afirmou.
Zarattini disse que não há clima para aprovação de reformas, lembrou que o governo já não tinha votos para aprovar a Previdência e que, nos próximos dias, a Casa deve ficar esvaziada por causa das festas juninas no Nordeste. “Elas (reformas) vão ter de ser postergadas”, prevê. A única exceção, ponderou o líder do PT, é a aprovação da Reforma Política, que precisa ser votada até setembro para valer no pleito de 2018.

O petista espera que Janot encaminhe na próxima semana a denúncia contra Temer, o que vai contribuir para a paralisação dos trabalhos devido à gravidade das delações. Ele prevê instabilidade na Casa, principalmente entre os governistas, que passam por pressão da base eleitoral.
“Isso sem dúvida nenhuma vai criar um grande debate na Casa e que vai levar a uma mudança de governo. Não é possível que um presidente da República, que cometeu um crime de corrupção na residência oficial do governo, possa continuar governando”, completou.

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