Traficantes da Providência cobram  pedágio de motoristas de van na Central

Toda quinta-feira — quando não é feriado — três homens descem o Morro da Providência, no Centro do Rio, duas vezes por dia, levando um caderno nas mãos. Armado e carregando uma lista com as placas das vans que saem da Central do Brasil para a Baixada Fluminense, o trio vai até a um estacionamento próximo a um posto de gasolina, na altura da Central, onde os veículos costumar fazer parada. Ali, os criminosos abordam motoristas individualmente e recolhem para o tráfico uma taxa semanal de R$ 50 por veículo. Há pelo menos um ano, o pedágio do crime está incluído no roteiro das vans. O local fica próximo à Secretaria estadual de Segurança.

A extorsão é feita com o aval de Evanilson Marques da Silva, o Dão, chefe do tráfico da Providência, e atinge os motoristas das cerca de 360 vans que diariamente levam passageiros da Central para Baixada, cruzando as Rodovias Presidente Dutra e Washington Luís. Por mês, o pedágio cobrado pelo tráfico rende R$ 72 mil. Dois motoristas ouvidos pelo EXTRA, e que pediram para não ser identificados, contaram detalhes da extorsão.

“É o arrego do tráfico. Eles são organizados e têm até uma espécie de planilha. Pegam as placas dos carros e o número de ordem do Detro. Fica tudo anotado num caderno. Quando o motorista encosta o veículo e desce do carro, eles abordam e fazem o recolhe. Depois que recebem o dinheiro, colocam um “OK” ao lado da placa anotada no caderno”, explica um dos motoristas.

O tráfico só tolera atrasos no pagamento das taxas por um prazo de no máximo duas semanas. Após esse período, quem não paga fica automaticamente impedido de rodar e parar na Central.

“Quem não paga fica impedido de parar ali perto do Américo Fontenelle. E sofre as consequências. Os bandidos vão lá, retiram as chaves dos carros e impedem os veículos de sair. A gente trabalha o tempo todo sob pressão”, diz outro motorista.

O delegado Rui Barbosa, da 4ª DP (Central do Brasil), que investiga o caso, diz já ter identificado quatro pessoas envolvidas na ação contra as empresas de ônibus. Todos os nomes são mantidos em sigilo. O delegado trabalha com a hipótese de que o mesmo grupo esteja envolvido na ação contra as vans e também num arrastão, promovido por traficantes, em 22 de maio, contra comércios localizados ao longo da Rua Senador Pompeu.

A extorsão contra motoristas de vans não é a única ação praticada pelo tráfico da Providência contra o transporte coletivo de passageiros. No fim de 2016, sete linhas de quatro empresas de ônibus intermunicipais do Rio transferiram, os pontos finais do Terminal Américo Fontenelle, na Central do Brasil, no Centro da capital, para a Rua Acre, a cerca de 1,5km de distância. O motivo da mudança seria uma recusa das viações em pagar um pedágio de cerca de R$ 5 mil mensais imposto por traficantes.

Os comerciantes sofreram retaliações do tráfico e tiveram suas lojas saqueadas porque teriam se recusado a pagar uma taxa semanal como permissão para trabalhar sem serem incomodados.O valor da extorsão contra lojistas varia de mil reais a R$ 2 mil, conforme o tipo de negócio. Segundo um comerciante, que pediu para não ser identificado, ambulantes também são obrigados a pagar valores que variam de R$ 30 (bancas pequenas) a R$ 50 (bancas maiores).

Dão da Providência tem contra si um mandado de prisão pelos crimes de tráfico e associação para o tráfico, expedido em 2015 pela 41ª Cara Criminal da capital. O portal Procurados oferece uma recompensa de R$ 5 mil por informações que levem à prisão do traficante.

Uma semana depois da ação do tráfico da Providência, que desceu para o asfalto e saqueou lojas da Rua Senador Pompeu, a Polícia Militar exonerou o comandante da Unidade de Polícia Pacificadora da Providência , major Sidnei Pazini. Para o lugar dele, foi nomeado o major Cláudio Cares, que estava na UPP Camarista Méier. Segundo a PM, a troca não foi motivada pelos fatos e já estava programada para acontecer.

A PM também informou que, desde o dia 23 de maio, o policiamento na Central do Brasil e no Morro da Providência, está reforçado. De acordo com a nota da corporação, unidades do 1º Comando de Policiamento de Área, incluindo o 5ºBPM (Praça da Harmonia) e do Comando de Operações especiais (COE) têm feito constantes incursões na Providência.

 

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