Violinista transforma vagões de trem em palco e conquista fãs

Professor de música, Wellington Bonifácio toca violino nos trens da Supervia e encontra nos alunos grandes incentivadores
Ivan Teixeira/Jornal de Hoje

Relaxar na condução durante o trajeto de ida ao trabalho ou de volta para casa com música suave, ou melhor, ao som de violino. Parece improvável, mas é o que muitos passageiros que utilizam os trens da Supervia estão tendo a oportunidade de fazer desde que o músico mesquitense, Wellington Bonifácio da Nóbrega, de 32 anos, encontrou um jeito inusitado de levar sua arte ao grande público. Há pouco mais de um mês, ele se apresenta pelos menos três vezes por semana nos trens dos ramais de Japeri e Deodoro e já conquistou vários fãs.
Wellington, que mora na Chatuba, conta que embarga na estação de Edson Passos, em Mesquita, e segue tocando até Deodoro, quando apanha nova condução rumo a São Cristovão. No repertório ele inclui sucessos da atualidade como Anitta e Ludmila e os internacionais David Guetta e Christina Perri. “Vou sempre pela manhã e costumo ficar nesse percurso de ida e volta até o meio da tarde, pois nos horários de maior movimento fica um pouco mais difícil”, contou ele, que fica feliz ao ressaltar que recebe elogios e contribuições em dinheiro da grande maioria dos passageiros.

Vídeo divulgado nas redes sociais viralizou e abriu novas oportunidades
Reprodução de vídeo

Cada dia de trabalho do músico pode render de R$ 100 até R$ 300, mas o que mais conta para ele é a satisfação de quem escuta e sai satisfeito para encarar mais um dia de luta. “Nunca fui criticado, recebo elogios e percebo a reação de quem apenas ouve em silêncio. Apenas os vendedores ambulantes que circulam pelos vagões, às vezes se queixam e reclamam do espaço que ocupo”, contou.
Quem pensa que esse tipo de música não agrada a quem utiliza os transportes públicos de massa se engana. “É muito bom poder ouvir um tom suave e músicas de qualidade. Temos que acabar com o preconceito de achar que quem anda de trem só escuta, funk e pagode. Eu passo a semana torcendo para viajar no mesmo vagão que ele e quando acontece aprecio muito a música e sempre que posso dou minha contribuição”, contou o passageiro José Ribeiro, de 45 anos, que vai de trem todos os dias para o trabalho em São Cristóvão.

Sonho de tocar adiado várias vezes

A paixão pela música surgiu ainda na infância e devido a ausência de cursos e projetos musicais voltados para as comunidades carentes, Wellington seguiu como autodidata dos 9 aos 17 anos, tocando bateria, baixo e percussão geral. Nessa época ele conseguiu ingressar na Escola Municipal de Música de Nilópolis.
“Por falta de recursos deixei o sonho de me tornar músico de lado e comecei a trabalhar como ajudante de pedreiro até 2010, quando ingressei no Projeto Mais Educação e passei a dar aulas nas oficinas de corda do contraturno nas escolas municipais de Mesquita”, ressaltou. Logo foi apresentado ao violino e descobriu sua grande vocação. Em 2015 iniciou sua licenciatura na Ibmec e se tornou o responsável pelas bandas escolares de todas as unidades municipais da cidade.
“O tempo passou, me tornei pai, tive problemas e acabei tendo que adiar mais uma vez a música para trabalhar numa empresa. No início desse ano resolvi que não iria enterrar meu sonho e tive a ideia de tocar nos trens, levando a minha música ao conhecimento de todos. Hoje me mantenho com as contribuições que recebo dos passageiros e das aulas particulares que ministro em casa para três alunos, todos da Chatuba”, enumerou.
Recentemente um vídeo foi postado na internet e viralizou, abrindo novas portas para o talento de Wellington, que foi convidado a dar aulas de música num projeto da Secretaria de Cultura de Mesquita. Ele também faz parte da Orquestra Sinfônica da Baixada Fluminense, que tem como maestro Iracito Cerqueira e Márcia Blair como coordenadora, com sede em São João de Meriti. “Quero levar minha arte ao conhecimento de todos e o trem é um bom lugar para começar. Quero também agradecer o apoio que tenho recebido da vereadora Cris Gêmeas, do meu mentor e maestro Enéias Gomes, além de familiares e amigos”.

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