Lava Jato terá ajuda dos EUA para investigar Odebrecht

Marcelo Odebrecht, presidente da construtora Odebrecht, foi preso na semana passada e prometeu ‘botar a boca no trombone’ Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Marcelo Odebrecht, presidente da construtora Odebrecht, foi preso na semana passada e prometeu ‘botar a boca no trombone’
Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

A força-tarefa do Ministério Público Federal terá ajuda de autoridades dos Estados Unidos – onde está a mais estruturada e eficiente rede de combate à corrupção do mundo – para tentar desmontar a engrenagem usada pela Construtora Norberto Odebrecht para supostos pagamentos de propinas no esquema de desvios que atuou na Petrobras. O sistema teria usado empresas offshore em nome de terceiros e contas secretas no exterior.
A empreiteira é um dos alvos da 14ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Erga Omnes, que prendeu na sexta-feira o presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, e o da Andrade Gutierrez, Otávio Marques Azevedo, além de dez executivos das duas companhias.
Órgãos de investigação dos Estados Unidos atuarão, a pedido dos nove procuradores da República da Lava Jato, na triagem de depósitos de propina feitos em contas do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa.
Primeiro delator da Lava Jato, ele devolveu US$ 23 milhões apreendidos na Suíça e que são uma das provas materiais do Ministério Público de que a Odebrecht estaria envolvida no esquema. Em setembro, Costa confessou que o dinheiro era propina paga pela empreiteira, que nega a acusação.
>> Operador – Apontado como operador de propinas da Odebrecht, o doleiro Bernardo Freiburghaus está na lista vermelha de procurados da Interpol e é tratado como figura central para as investigações da Lava Jato em parceria com os EUA.
Por meio de um novo pedido de cooperação internacional, a força-tarefa requisitará a autoridades norte-americanas a ampliação do rastreio de dados bancários, agora envolvendo o suposto operador de propinas da Odebrecht, referentes a transações bancarias que passaram pelos Estados Unidos. Um pedido anterior mirava os depósitos recebidos por Costa.
Uma offshore aberta no Panamá em 2006, a Constructora Internacional Del Sur, e contas indicadas por Costa que seriam dele, mas controladas por Freiburghaus, são o ponto de partida para essa apuração em cooperação com os Estados Unidos.
Documentos em poder da Lava Jato indicam que a Constructora Del Sur foi a origem de pelo menos cinco depósitos feitos em contas secretas do ex-diretor operadas por Freiburghaus, em nome das offshores Sygnus Assets S.A., Quinus Services S.A. e Sagor Holding S.A. Outro delator, o ex-gerente de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco, também apontou a Del Sur como origem de suposta propina paga pela Odebrecht.
Documentos obtidos em outro acordo de cooperação internacional, com Mônaco, revelaram depósitos provenientes de conta da Del Sur mantida no Credicorp Bank S.A destinados a uma conta no Banco Julius Baer que seria do ex-diretor de Serviços Renato Duque, preso desde março.
O Ministério Público brasileiro espera que a eventual prisão de Freiburghaus traga novas informações sobre as propinas pagas no esquema de desvios na Petrobras e obter provas materiais contra a Odebrecht e seus executivos.
Sérgio Cabral nega interferência
em obras da Petrobras

O ex-governador rebate citação de seu nome em suposto favorecimento à Odebrecht

O ex-governador rebate citação de seu nome em suposto favorecimento à Odebrecht

O ex-governador Sérgio Cabral negou que tenha agido para incluir a Odebrecht no consórcio que fechou contrato de R$ 11,5 bilhões com o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, cidade na região metropolitana. A obra contratada era a construção do ciclo de água e utilidades do complexo industrial. “O ex-governador Sérgio Cabral jamais interferiu em quaisquer obras da Petrobras, inclusive as do Comperj. No que diz respeito ao abastecimento de água, o governo do Estado do Rio de Janeiro tem como empresa responsável a Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos). Todos os assuntos relativos ao abastecimento de água para empresas e residências no governo Sérgio Cabral foram tratados diretamente pela Cedae”, afirmou Cabral em nota.
O diretor da Odebrecht Rogério Araújo, preso há quatro dias, informa em e-mail a quatro executivos a inclusão da empresa no consórcio que seria contratado para a obra do Comperj. O acerto teria tido a participação de Cabral e do presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira.
A Cedae respondeu que o tema do e-mail refere-se a “questões internas” do Comperj. “Em 2007, não havia ainda previsão de fornecimento de água direto pela Cedae ao Comperj. Portanto, o que se relata neste e-mail são assuntos tratados pelo empreendedor (Petrobras) com possíveis fornecedores, sem nenhuma relação com a Cedae. O assunto tratado, objeto do e-mail, é referente a questões internas do Comperj, voltadas à construção do Sistema de Utilidades (unidade de geração de vapor e energia, tratamento de água industrial e efluentes)”, diz a nota.
Segundo a Cedae, em 2007, a relação do governo do Estado com o Comperj estava ligada a incentivos fiscais e medidas compensatórias para municípios afetados pela obra. Gouvêa Vieira negou interferir nos contratos.
“Sou presidente da Firjan, onde são debatidos os temas de importância estratégica para o Rio de Janeiro. É evidente que mantenho interlocução permanente com as principais lideranças políticas do Estado e do País. O governador Cabral sempre foi um desses interlocutores. Uma coisa, porém, é certa: jamais tratei de interesse desta ou daquela empresa no Comperj com o ex-governador. Meu nome foi citado numa troca de e-mails de terceiros e sou agora indagado a respeito. Tenho horror a bandalheira. Estou entre os que apoiam as investigações em curso no País desde a primeira hora. Elas estão em linha com meu desejo de um Brasil ético e transparente. A simples menção a meu nome em meio ao contexto de toda a lama trazida à tona pela Lava Jato é ultrajante”, disse presidente da Firjan em nota.

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