Emergência reaberta em hospital não tem médicos

Segundo vistoria da Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados, o Hospital do Andaraí está sem condições de attender os pacientes
O Dia

A emergência do Hospital Federal do Andaraí, zona norte da Capital do Rio de janeiro, foi reaberta na segunda-feira (3), após fechamento há cerca de um mês, quando foi detectada fumaça vinda das tomadas da sala, ameaçando princípio de incêndio. Entretanto, após vistoria na manhã de ontem, a comissão externa da Câmara dos Deputados constatou que faltam médicos para que a emergência volte a operar integralmente. Segundo a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB), há estrutura, mas não há profissionais.
“A falta de um médico no hospital pode provocar um efeito dominó que paralisa o sistema inteiro. E não há previsão de criação de concursos nem de renovação de contratos temporários. A sala [de emergência] está aberta, mas não tem ninguém lá dentro”, disse.
De acordo com comissão, nos últimos seis meses, 100 contratos com profissionais de saúde deixaram de ser renovados e apenas cinco novos profissionais foram contratados. Essa foi a terceira vistoria da comissão, criada para fiscalizar as unidades médicas federais no Rio de Janeiro. O déficit de pessoal também foi constatado nos hospitais de Bonsucesso, na zona norte, e Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, zona oeste.
Representantes do Conselho Regional de Medicina e do Conselho Regional de Enfermagem também participaram da fiscalização, que teve como objetivo avaliar as condições de trabalho e o grau de precariedade nas instalações. Segundo a comissão, o valor dos repasses previstos para os hospitais federais neste ano ficou abaixo de 30%.

Bom atendimento

Jandira: “A falta de um médico no hospital pode provocar um efeito dominó que paralisa o sistema inteiro”

A dona de casa Cristiane Brandão estava na unidade desde a madrugada de segunda-feira, aguardando atendimento, e 12 horas depois ainda não havia sido examinada. “Estou com minha barriga muito inchada e doendo. Um [médico] disse que posso estar com câncer de útero, outro, que estou com uma hérnia para estourar”, disse ela, que veio de Belford Roxo, Baixada Fluminense, por falta de serviços médicos na região. “Onde moro, o único hospital que tem lá está fechado, nenhuma unidade de pronto-atendimento está aberta e os postos não estão atendendo”.
O deputado Celso Pansera (PMDB-RJ) ressaltou que a má regulação dos leitos também contribui para o fechamento de enfermarias, redução do número de cirurgias e de vagas na emergência. “A regulação também é outro problema, é preciso ser feita de maneira unificada e mais eficiente”, afirmou. “Há pacientes aqui que estão há 18 dias na emergência, porque não tem regulação funcionando, ocupando o leito de outros pacientes, porque não podem ir para a enfermaria”.
A pedagoga Deuseni Gomes veio acompanhar a mãe, que tem prontuário na unidade. Ela disse que, com todos os problemas, a unidade pública oferece um serviço mais humanizado que em muitas unidades particulares. “Ela paga convênio há mais de 20 anos de um plano básico. Domingo, depois de ter um AVC, ficou internada em um hospital particular. Quando chegou segunda-feira de manhã, eles desligaram o aparelho, porque passou das 12 horas de internação e a gente é que precisou se virar”, contou. “Então viemos para cá. Está no corredor, mas o doutor já está medicando nossa mãe, não tenho do que reclamar”.
>> Outro lado – O Ministério da Saúde nega a falta de servidores contratados e de medicamentos, alegando que o estoque da unidade do Andaraí está cheio. A assessoria do ministério diz que a falta de médicos é resultado de uma reestruturação do sistema de saúde, logo os profissionais não estão sendo demitidos, mas sim reposicionados em outras áreas mais carentes de determinados serviços, para melhor atendimento.
De acordo com o hospital, 521 médicos trabalham na unidade e no primeiro quadrimestre, o Andaraí aumentou em 11% as consultas ambulatoriais e em 9% as cirurgias de média e alta complexidade, em comparação com mesmo período de 2016. Com o maior número de atendimentos de emergência na rede federal no Rio, a unidade respondeu por 57% do total dos 39.940 atendimentos de emergência no primeiro quadrimestre do ano na rede de seis hospitais federais.

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