Deficiência: displicência – Anti-deficiência: expansão do ânimo

*Carlos B. Gonzáles Pecotche

Talvez esta falha seja uma das mais benignas, embora imprima nos gestos, palavras e atitudes da pessoa uma modalidade pouca grata, que a define como descortês e insociável.
O displicente compraz-se em adotar posturas desdenhosas e indiferentes. É desabrido, mais por desalinho de seus pensamentos – ora pessimistas, ora depreciativos – do que em consequência das circunstâncias que o rodeiam.
Seu humor é variável, com marcada tendência ao desagrado. Raramente coincide com os estados plácidos ou alegres de seus semelhantes, aos quais já faz demasiada concessão quando compartilha com eles de um momento grato.
Por seu modo de ser mais artificial do que natural, em muitos casos lhe é difícil introduzir melhorias em sua vida, visto que as oportunidades de progresso tornam-se esquivas ou se malogram, por sua passividade ou inadvertência frente ao obstáculo que sua própria deficiência lhe impõe.
O displicente formou de si um conceito que sua imaginação cuida de alimentar com estímulos artificiais do auto afago.
Seu desdém baseia-se na ilusão, com a qual preferencialmente convive.
Esta deficiência deriva com frequência dos inocentes desvarios da juventude. Os sonhos dourados que animam essa época da vida, unidos à inexperiência, influem manifestamente na formação desse complexo de superioridade que induz o ser a olhar os semelhantes por cima do ombro. Às vezes, sua presença mental não passa do grau de predisposição; outra se acentua com os anos por força de sua gravitação sobre o caráter.
O indivíduo manejado por esta deficiência não é feliz, e frequentemente não deve sofrer o golpe instrutivamente forte da realidade, destinado a corrigir o rumo de seus pensamentos.
A expansão do ânimo surge aqui para contrapor-se aos efeitos nocivos da displicência, pois enquanto esta última contrai a disposição natural aos desafogos da alma, aquela leva a ser amplo, comunicativo e generoso. Mas para que o ânimo manifeste-se livremente, será necessário sentir a vida com intensidade, experimentar a realidade do próprio existir. Então florescerá o interesse não somente pela vida da qual somos donos, mas também pela que vivem os demais, visto que a dos outros costuma dar-nos elementos valiosos, que, além de enriquecer nosso acervo pessoal, fazem-nos consequentes com nossos semelhantes.

*Carlos B. Gonzáles Pecotche – Autor da Logosofia – www.logosofia.org.br – rj-novaiguacu@logosofia.org.br
Tel.: (21) 27679713 – 3ª e 4ª das 18:00 as 21:00h

error: Conteúdo protegido !!