Sem Vila Olímpica, iguaçuanos ficam órfãos de praças esportivas

A Vila Olímpica de Nova Iguaçu está passando por obras de reforma. O antigo campo de terra batida dará lugar a um campo society, além de quadras de tênis e vôlei de areia
Fotos: Ivan Teixeira/Jornal de Hoje

Inaugurada em 1997, com direito a presença ilustre de Edson Arantes do Nascimento, o “Rei Pelé”, a Vila Olímpica de Nova Iguaçu é o principal equipamento esportivo público da cidade. Por ela passam todos os anos milhares de crianças, jovens e adultos que buscam ali um espaço adequado para atividades como atletismo, futebol e vôlei. No entanto, o local está em obras desde novembro do ano passado e deve deixar seus frequentadores afastados pelo menos até o final deste ano.
O projeto é orçado em R$ 1.665.801,76 (verba do Governo Federal) e tem prazo de conclusão de 150 dias. A obra foi iniciada no dia 10 de novembro, ainda na gestão do ex-prefeito Nelson Bornier (PMDB), mas foi suspensa em janeiro por decreto do atual prefeito Rogerio Lisboa (PR). O trabalho foi retomado há cerca de um mês, o que faz com que o prazo deva se estender até o fim do ano, caso não seja novamente interrompido.
Com a obra de reforma, o espaço ganhará vestiário, quadra de tênis em saibro, quadra de vôlei de areia, campo de futebol society em grama sintética, arquibancada e pista de atletismo com novo piso.
A Vila Olímpica tem feito falta aos usuários, uma vez que é um dos poucos equipamentos esportivos públicos existentes na cidade. Outra opção é o Centro Olímpico, na Avenida Roberto Silveira, 1.725, Posse. Este, inaugurado no ano passado, disponibiliza natação, academia para terceira idade, hidroginástica, futebol para cegos e vôlei de areia. Mas a obra fora financiada também pelo governo federal, que teve parceira do governo holandês.
Nos dois casos, as obras foram iniciadas na gestão passada, a prefeitura só cedeu a área. Nenhum deles é integrado à rede pública escolar. A Vila Olímpica, apesar de estar situada em uma área no interior do colégio Monteiro Lobato, na Rua Luís de Lima, 288, no Centro, não é integrada ao estabelecimento.

Minoria tem acesso ao esporte nas escolas

Segundo a placa, a obra é orçada em R$ 1.665.801,76 e tem prazo de 150 dias
Fotos: Ivan Teixeira/Jornal de Hoje

Apesar do Ministério da Educação (MEC) sugerir a existência de quadras poliesportivas nos estabelecimentos escolares, são raras as escolas que contam com esse equipamento de ensino em Nova Iguaçu. Além de alunos, outras modalidades esportivas também sofrem com o descaso por parte da prefeitura.
De acordo com o professor e educador Paulinho Leopoldo de Barros, “o esporte é fundamental à formação física, moral e ética do ser humano”. Porém, apesar da importância educacional, das 135 escolas municipais de Nova Iguaçu, conforme apurou o Jornal de Hoje, são poucas as que contam com quadras esportivas ou polivalentes. Paulinho é gestor de uma escola de tradição em Nova Iguaçu, o Colégio Leopoldo, onde há quadra esportiva e outros requisitos sugeridos pela legislação educacional. Para ele, “a estrutura básica de uma escola deve conter quadra poliesportiva. Mas isso muda de acordo com a faixa etária com que se deseja trabalhar”, ressalta.
Paulinho considera, ainda que “uma instituição que abrange desde a educação primária até a de pré-vestibular, que é o caso de grandes colégios pelo país, a estrutura padrão contém salas de aula, banheiros, bebedouros com alcance para crianças, playground, espaços delimitados de atividades ao ar livre e laboratório”, finaliza. A lei 9.394/96 (ME), artigo 25, parágrafo 3º, acentua que “a educação física, integrada à proposta pedagógica de escola, é componente curricular obrigatório da educação básica”. O Leopoldo vai além, pois tem até teatro.

Falta sensibilidade

O educador Paulinho Leopoldo aposta no esporte como ferramenta fundamental de educação
Reprodução de Facebook

O prefeito de Nova Iguaçu, Rogerio Lisboa, diante da falta de incentivos e investimentos na formação esportiva de crianças, jovens, adolescentes e adultos, chega a ser apontado como um homem insensível a causas que, além de revelar talentos, podem afastar jovens dos caminhos do crime e das drogas. Mas não é só na prática esportiva que o governo Rogerio Lisboa deixa de investir.
“Falta sensibilidade e incentivos também em outras modalidades”, destaca o desportista Mauro Aurélio Santos, 37 anos. “Os times de futebol do município, quase 100, estão abandonados pelo poder público local. Por isso, dezenas de campos de futebol já ‘sumiram do mapa’. A Liga de Desportos de Nova Iguaçu (LDNI), por exemplo, está ‘comendo o pão que o capeta amassou’, sem condições de organizar o próximo campeonato entre clubes da cidade. Além de livrar jovens do caminho do crime e das drogas. Esses campeonatos podem revelar talentos, como foi com o jogador Zinho (tetra-campeão do mundo, pela seleção brasileira), e com o desportista judoca Sebastian Pereira (medalhista de Pan-Americanos e quinto lugar na Olimpíada de Atlanta, em 1996)”, lembra Mauro.

Clubes não recebem investimentos

Criado no dia 1º de abril de 1990, pelos irmãos gêmeos Jânio e Jorge Moraes, o Nova Iguaçu Futebol Clube (NIFC), sediado na Avenida Roberto Silveira, 1.357, no Centro, foi o primeiro clube do Rio de Janeiro a receber da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) a Certificação de Clube Formador, em 2012. Grandes clubes como o Flamengo, Fluminense e Botafogo só conseguiram essa certificação em 2015.
Atualmente, na Primeira Divisão da elite do futebol carioca, o Orgulho da Baixada, como é carinhosamente chamado, tem 70 núcleos oficiais e 90 escolinhas de futebol, a maioria em Nova Iguaçu. Apesar de representar a cidade e cuidar da formação ética e moral de centenas de crianças, jovens e adolescentes, não recebe qualquer tipo de apoio ou incentivo financeiro da prefeitura. “Acredito que esse mesmo apoio falta também a outros clubes como o Art Sul e o Esporte Clube Miguel Couto”, frisa Mauro Aurélio. Para ele, “modalidades como Judô, capoeira, tae-kwon-do, jiu jitsu e até as manifestações culturais também sofrem com esse descaso”, finaliza.

Prefeitura promete mais programas

A Prefeitura de Nova Iguaçu, por meio da Secretaria de Esporte e Lazer (SEMEL), informou que tem buscado desenvolver e implementar diversas atividades físicas na cidade, principalmente no Centro Olímpico, no bairro da Posse, onde são oferecidos ginástica regular e, para a terceira idade, hidroginástica, natação, handebol e futsal. Segundo nota da assessoria de imprensa, na Vila Olímpica, que está funcionando com apenas um terço do espaço devido ás obras no local, a prefeitura oferece ginástica, judô e capoeira.
“Além disso, dando início ao projeto ‘Esporte e Lazer nos Bairros’, a secretaria realiza aulas de ginástica em duas praças do município, uma no centro e outra na recém-inaugurada praça de Comendador Soares, e pretende expandir para outras praças”, diz um trecho da nota.
Ainda segundo a assessoria, “no total, são atendidas, até o momento, em todas as atividades físicas, oferecidas pela prefeitura, mais de 900 pessoas”. O número ainda está muito aquém da demanda na cidade. Para aumentar este número, o governo municipal fará uma parceria com o Ministério dos Esportes, no segundo semestre, para realizar o ‘Programa Segundo Tempo’ em dez escolas municipais espalhadas pela cidade.

 

Por Davi de Castro (davi.castro@jornalhoje.inf.br)

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