CIAM de Nova Iguaçu é fechado e vira abrigo de moradores de rua

A sede do Centro Integrado de Atendimento à Mulher, na Rua Bernardino de Mello, Bairro da Luz, está pichada e tomada por mato alto
Fotos: Ivan Teixeira/Jornal de Hoje

Nem o Centro Integrado de Atendimento à Mulher da Baixada Fluminense (CIAM) em Nova Iguaçu escapou da violência da bandidagem. Ladrões invadiram o prédio, situado na Rua Bernardino de Mello, 4.345, no Bairro da Luz, reviraram tudo e levaram luminárias e outros objetos.
Criado para combater a violência contra a mulher, proteger e amparar a categoria, com base na Lei Maria da Penha (11.340/06), o moderno prédio onde funcionava o setor está abandonado, servindo de abrigo e dormitório de drogados e moradores de rua, cheio de detritos e cercado de mato por todos os lados.
Inaugurado com pompas e muitas autoridades públicas em 2008, o CIAM atuava com 15 funcionários, entre pessoal de serviços gerais, segurança e quadro técnico, como psicólogo, assistente social, advogado e pessoal de acolhimento. Em média, 80 mulheres eram atendidas por mês, predominantemente, vítimas de violência doméstica. O trabalho seguia alcançando os objetivos, até que a falta de recursos do estado e sem apoio da prefeitura da cidade, o CIAM entrou em decadência.
A reportagem do Jornal de Hoje apurou também que os funcionários de vigilância e serviços gerais, que eram terceirizados, foram embora por falta de pagamento. Em seguida o quadro técnico também foi reduzido pelo mesmo motivo, assim como outros funcionários. Restaram apenas no quadro uma coordenadora e uma psicóloga.
Em janeiro, ao chegarem para trabalhar, encontraram tudo revirado. Levaram luminárias e pequenos objetos. O prefeito Rogerio Lisboa (PR) teria tomado conhecimento de tudo e até se dispôs a buscar entendimento com o estado para fazer funcionar o CIAM.
Atualmente, o prédio, de arquitetura moderna, em frente à Praça Castro Alves, está cercado de lixo e mato por todos os lados, com grades quebradas. Uma de suas dependências está sem porta e no interior da sala há potes com restos de comida, vasilhames com água, papelão, sacos plásticos, colchão, colchonete e travesseiro.
Na porta principal, uma placa dizendo que a obra fora feita com ajuda do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) através do Programa Nova Baixada. Outro papel colado ao lado informa o seguinte: “Em virtude de reforma e ampliação, estamos atendendo na Rua Teresinha Pinto, 297 – 2º andar – tel. 2698-2562”. Trata-se de uma sala cedida pela prefeitura de Nova Iguaçu, segundo informação da assessoria de imprensa do prefeito Rogerio Lisboa, para que o CIAM, mesmo sendo “de responsabilidade do estado, voltasse a funcionar na cidade”.

Consumo de drogas
Legenda H51B: Um colchão em uma das salas é utilizado por moradores de rua que se abrigam no local

O local está na escuridão e segundo moradores das ruas próximas, é comum ver mulheres chegando espancadas, em busca de socorro e dando de cara com o prédio abandonado. “Já roubaram muita coisa aí. Antes tinha até PM. Agora serva pra turma fumar maconha e fazer ‘sacanagem’, namorar lá dentro. Fizeram isso aqui em época de eleição. Acabaram até com o campinho de futebol da rapaziada. Isso aí (o prédio) é um elefante branco… (ri) e só serviu para lavar dinheiro”, reclama um morador, que pediu para não ser identificado e nem fotografado pela equipe do JH.

Falta sensibilidade

O vereador Fernandinho Moquetá disse ter conhecimento do fechamento do CIAM, mas não consegue falar com o prefeito Rogerio Lisboa. “Ele não atende. Talvez não tenha a sensibilidade da situação”. E acrescenta: “O CIAM é fundamental para dar apoio à mulher vítima de violência. Entendo que em algumas coisas, tem de haver prioridade. E um segmento da sociedade que precisa dessa prioridade e atenção especial é a mulher”, avalia Fernandinho.

 

por Davi de Castro – davi.castro@jornalhoje.inf.br

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