Demolição de pórtico revolta população em Belford Roxo

Quem passou pela entrada de Belford Roxo foi pego de surpresa com a ausência do antigo pórtico da cidade. Cartaz da prefeitura diz que a obra é “do jeito que você merece”
Ivan Teixeira/Jornal de Hoje

Um dos cartões postais que marcava a história da cidade e embelezava a sua entrada, o pórtico de Belford Roxo foi tombado no silêncio da madrugada de ontem. A destruição foi determinada pelo prefeito Wagner Carneiro (PMDB), o Waguinho, alegando embelezamento do local. Moradores não concordam com a iniciativa, e acreditam que a questão é política, cuja intenção seria apagar da memória cultural da região o nome de Jorge Júlio, o Joca, primeiro prefeito, eleito com 76 mil votos, e autor da obra.
Para muitos moradores, a atitude do prefeito Waguinho significa um gesto contra princípios e valores memoriais da cidade, além de desrespeito público. “A demolição do pórtico foi uma cusparada na memória cultural da cidade e um pontapé na história política de Belford Roxo, com o objetivo de apagar a vida pública de Joca”, desabafa José Augusto Pimenta, 68 anos, que diz ainda ter acompanhado todo o desfecho político na ocasião, envolvendo a obra.
A dona Maria Judite, 64, disse, por telefone, que também não gostou. “Certos políticos sempre encontram um jeito de sugar o dinheiro do povo com obras desnecessárias… (pausa)… com tanta coisa pra esse homem (Waguinho) fazer na cidade. A Saúde está em péssima situação; a Educação, um horror; é preciso acabar com a buraqueira e com as obras do Hospital do Joca… e ele me vem com essa desculpa esfarrapara de modernidade?”, esbraveja.

O histórico pórtico foi derrubado com o auxílio de retroescavadeiras na madrugada de ontem
Reprodução de Facebook

Hugo Alves, 66 anos, é outro morador indignado com o ato de destruição do pórtico. “Acho isso uma babaquice, uma imbecilidade legislativa. Como um poder eleito para nos representar faz ‘vista grossa’, diante de um fato desses? Não existe prefeito bom com Câmara ruim. Aqui, o homem (Waguinho) faz o que quer… isso é um absurdo. Com tanta coisa para ser feita nas escolas e bairros e o gestor se preocupa só com sua imagem? Essa é uma obra desnecessária, pois o pórtico já está pronto há 22 anos”, detona.
Obra difícil – A construção do pórtico de Belford Roxo, agora destruído, envolveu muitos fatores, desde questões políticas à dificuldade de execução da obra, pois a Rua Dr. Carvalhaes, do lado do município, era um extenso e profundo valão, desde a Rodovia Presidente Dutra até as proximidades da empresa Bayer. Foram necessários centenas de caminhões de aterro e dezenas de homens, os quais trabalhavam dia e noite para acelerar a obra.
Memória
Considerado como um dos mais belos pórticos do estado, o da entrada de Belford Roxo foi construído pelo primeiro prefeito eleito da cidade, no ano de 1995. Além da beleza e imponência que a obra traria para “a cidade do amor”, termo usado por Joca, para acabar com a imagem de cidade violenta, o portal tinha outro objetivo: limitar os municípios de Belford Roxo e Mesquita, cuja linha de separação tornou um dos principais cabos eleitorais de políticos da região. De um lado, Nelson Bornier, aliado de Joca e candidato a deputado federal pelo PL, defendia o limite até a Via Dutra. E do outro, o poderoso José Montes Paixão, emancipador de Mesquita, então candidato a prefeito pelo PDT, ao lado do sobrinho Waltinho Paixão. Eles queriam ampliar os limites mesquitenses até o outro lado da via Dutra, na altura de Rocha Sobrinho.
Inauguração – Porém, a iniciativa do Joca de construir o pórtico, em 1995, foi decisiva para o fim da pendenga política e jurídica, cuja briga, além de políticos, envolveu também a Assembleia Legislativa do Estado (Alerj) e o Tribunal de Justiça do Rio. Porém, no dia 20 de julho, Joca, aos 48 anos, foi assassinado com 11 tiros. No dia seguinte seria a inauguração, prevista por ele. A forma que amigos e parentes encontraram para inaugurar a obra, realizando o sonho dele, foi passar com o cortejo fúnebre por baixo do pórtico e seguir para o Cemitério da Solidão.

 

por Davi de Castro (davi.castro@jornalhoje.inf.br)

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