Hereda: Cunha pressionou para liberar financiamentos

Segundo depoimento de Hereda, uma das reuniões com o hoje preso Eduardo aconteceu na Câmara dos Deputados, em 2014
Rodolfo Buhrer / Divulgação

Ontem, o ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Hereda disse, em depoimento à Justiça Federal, ter sido pressionado pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) por não acelerar investimentos do banco em determinadas empresas.
Hereda afirmou que, em reunião com Cunha na Câmara, em 2014, o então deputado avisou que o convocaria a depor na CPI da Petrobras se projetos de seu interesse não recebessem financiamento com celeridade, antes dos referentes à estatal.
“O senhor Eduardo Cunha reclamava do andamento dos projetos. Mas que a gente andava muito rápido com a Petrobras. E disse que, se a gente aprovasse os da Petrobras antes dos outros, ele iria me convocar para a CPI da Petrobras. Eu disse que não era presidente da Petrobras, era presidente da Caixa”, declarou.

O também preso e ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) está entre os réus da Operação Catilinárias
Agência Câmara

Hereda depôs como testemunha em ação penal que apura suposto esquema de cobrança de propina de empresas, em troca da liberação de aportes do banco. Cunha e o também ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), ambos atualmente presos, estão entre os réus.
Hereda não especificou em nome de quais empresas Cunha teria falado. Contou que o convite para a reunião partiu de Alves, que também estava presente à reunião.
A convocação, segundo Hereda, não ocorreu, mas foram feitos requerimentos. “Não fui, mas se o senhor procurar lá pode ser que o senhor encontre os pedidos de convocação.” O depoimento foi feito por videoconferência à 10ª Vara em Brasília, na qual tramita a ação. (AE)

Lista de ‘loteamento
de cargos ao PMDB’

A Operação Catilinárias, desdobramento da Lava Jato que atingiu em cheio as principais lideranças nacionais do PMDB, em dezembro de 2015, apreendeu com o então presidente da Câmara Eduardo Cunha (RJ), ‘documentos referentes ao loteamento de cargos’ na Petrobras, em favor do partido durante os governos Lula e Dilma.
As informações foram compartilhadas pelo Supremo Tribunal Federal com o Ministério Público Federal, no Paraná, e anexadas a um processo da Lava Jato na última segunda-feira (24).
A força-tarefa informou ao juiz federal Sérgio Moro que ‘foram encontrados documentos referentes ao loteamento de cargos provavelmente em favor do PMDB’.
‘Um dos documentos traz informações acerca de cargos no ‘Gov Lula’ e ‘Gov Dilma’, em alusão aos Governos dos ex-presidentes da República Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, sendo que na coluna ‘Gov Lula’ consta ‘Dir Int Petrobras’ e ‘1/2 Dir Abast Petrobras’, o que faz alusão à diretoria Internacional da Petrobras e à diretoria de Abastecimento da Petrobras”, diz o documento da Procuradoria da República.
As duas páginas anexadas pelos procuradores estão escritas a mão. Em uma delas há menção à ‘Caixa’. Na primeira coluna, está escrito ‘vice-p jurídica’ e vice loterias’. Na segunda, ‘igual’.
A outra folha tem o título ‘cargos’ e está dividida em duas colunas ‘Gov Lula’ e ‘Gov Dilma’. Há menção a diversos ministérios. Na lista estão Turismo, Agricultura, Previdência, Comunicação, Minas e Energia, entre outros.
No campo ‘Min Comunicação’, o documento apreendido com Eduardo Cunha ainda aponta para ‘Correios’ e ‘Anatel’. Em ‘Min M Energia’, os investigadores identificaram ‘Furnas’.
As anotações indicam ainda ‘B Brasil’. No campo ‘Gov Lula’, há menção a ‘vice pres gov’ e ‘vice pres TI’. Ao lado, no campo ‘Gov Dilma’, há a palavra ‘nada’.
Quando foi deflagrada, em 2015, a Catilinárias vasculhou a residência oficial da Presidência da Câmara, então ocupada por Eduardo Cunha. Na ocasião, a Polícia Federal apreendeu o celular do peemedebista.
Eduardo Cunha está preso desde outubro de 2016. O ex-deputado do PMDB já foi condenado por Moro a 15 anos e quatro meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele também é réu em ação penal na 10ª Vara Federal de Brasília por esquema de corrupção no âmbito do FI-FGTS. O ex-deputado estaria disposto a fazer delação premiada. (AE)

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