Diretor do Atlético entre 2015 e 2016, Paulo Carneiro cometeu o que podemos chamar de “sincericídio”. Em entrevista à TV Aratu, da Bahia, revelou: “Já comprei juiz. Paguei mala azul, rosa. Comprei a zaga toda de um time baiano e combinei quando ia ser pênalti”.
A declaração é chocante e, resumidamente, confessa suborno, acerto de resultados etc. Ou seja, aquele determinado jogo que você, torcedor, assistiu e vibrou, pode ter sido apenas um teatro, uma armação, uma palhaçada. E os palhaços somos nós.
O cartola preferiu não se aprofundar nas revelações, o que é compreensível. No entanto, sem detalhar quando fez e como fez, deixou sob suspeita toda a carreira nos bastidores da bola. Inclusive, sua passagem pelo CT do Caju.
A fala de Paulo Carneiro mostra também o nível da cartolagem no país. O dirigente baiano é considerado “bem sucedido”. Foi vice-campeão brasileiro com o Vitória, em 1993, fase áurea do Leão. Passou ainda pelo rival Bahia, virada de casaca que, claro, provocou polêmica.
No Furacão, também colecionou algumas controvérsias. Deixou o clube após a negociação de Walter com o Goiás e o afastamento de Vinícius. Paulo Carneiro teria se posicionado a favor dos atletas e, assim, desagradou a direção do clube.
Apesar da demissão, deixou Curitiba rasgando elogios ao clube, em texto que foi até republicado no site oficial do Rubro-Negro. Nas redes sociais, Paulo Carneiro também costuma exaltar o trabalho de Mario Celso Petraglia, defendendo o presidente licenciado do Conselho Deliberativo em postagens. (Publicado no blog ‘Memória FC, de André Pugliesi, na Gazeta do Povo).
“Votações para o melhor jogador
eram e são cambalachos”
Em dezembro de 2015, quando supostamente Paulo Carneiro teria “comprado resultados de jogos”, conforme revelou na entrevista, o português Joaquim Jorge, fundador do Clube dos Pensadores escreveu o seguinte artigo: “Corrupção no Futebol. O mais saliente que se passou no futebol em 2015 foi os vários escândalos de corrupção. Em vez de serem atletas os protagonistas como, Leo Messi; Cristiano Ronaldo; Barcelona; etc, O grande protagonista e vencedor do futebol em 2015 foi a corrupção.
Felizmente que os poderes públicos personificados na figura da Procuradora-Geral dos Estados Unidos, Loretta Lynch conseguiu confissões de dezenas de executivos da FIFA.
A FIFA é um poder dentro do próprio poder. A FIFA parece um Estado dentro de um Estado democrático, em que não se cinge às suas leis. Eleições e nomeações passam sempre pela fraude e cambalachos.
Os chefes maiores do futebol: Joseph Blatter (FIFA) e Michel Platini (UEFA) foram suspensos das suas funções.
Blatter deu 1,8 milhão de euros pelo trabalho realizado por Platini para a FIFA entre 1998 e 2000, mas foram pagos onze anos depois, em que levou à investigação e subsequente punição.
Mas a corrupção infelizmente não foi só no futebol. Lamine Diack, presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF) foi-lhe imputado vários delitos de suborno, acusado de solicitar dinheiro (1,5 milhões de euros), às autoridades russas para esconder as análises positivas de atletas russos antes dos jogos de Londres.
É fundamental haver mecanismos de controlo e inspecção no desporto. A transparência é fundamental.
Joseph Blatter, presidente da FIFA, foi afastado do futebol durante oito anos, mas deveria ser para sempre. A autonomia do futebol não lhe dá o direito de fazer o que lhe apetece e acima de uma Estado de Direito. Joseph Blatter procedia como se o futebol fosse algo acima da lei e gerido pelo seu capricho e a seu bel-prazer.
Já tinha tropeçado várias vezes e estava na FIFA desde 1975, foi o delfim de João Havelange. Suspeito de corrupção e investigado pelas autoridades há vários meses, viu o Comité de Ética da FIFA, correr com ele.
Os dirigentes do futebol faziam alarde do seu poder, gostavam de se tornar notados e de fazer ouvir, eram recebidos como chefes de Estado, parecendo viver num mundo à parte. Michel Platini nunca foi muito simpático e cordial com Portugal, não tenho pena nenhuma. Sempre achei que a designação dos locais para a realização de europeus, mundiais eram um jogo de interesses que metia muito dinheiro.
Por outro lado as votações para o melhor jogador eram e são verdadeiros cambalachos. O futebol tem muito pouco de desporto e muito de economia e negócios. O que é pena! O dinheiro não pode comprar a beleza do futebol.
Espero que, em 2016 a autonomia do desporto seja substituída por uma verdadeira liberdade de associação e de escolha.
A autonomia do desporto conquista-se por uma conduta responsável, não se pode dar liberdade e autonomia a organismos corruptos. A sociedade não o entenderia, muito menos, com as verbas avultadas envolvidas neste tipo de actividade.
Qualquer tipo de desporto deve-se submeter às leis de um país democrático como qualquer organização, associação ou cidadãos em geral. Não deve haver excepções, para que escândalos como este não voltem acontecer”.
por Jota Carvalho