Após dois dias de protestos de funcionários e pacientes contra o fechamento de 11 clínicas da família e centros municipais de saúde na Zona Oeste, a prefeitura e a organização social (OS) Iabas, que administra as unidades de atenção básica, chegaram a um acordo, na noite desta quarta-feira. A renovação do contrato de gestão das 13 unidades da região de Barra, Recreio e Jacarepaguá sofrerá uma redução de apenas 4,6%, longe dos 65% propostos pela Secretaria municipal de Saúde na última segunda-feira, o que afasta a necessidade de fechamento.
A prefeitura tinha proposto ao Iabas reduzir o valor mensal de R$ 11,7 milhões para R$ 4 milhões, diminuindo o número de equipes de saúde da família de 127 para 38. Agora, a queda será de apenas R$ 520 mil por mês. Com isso, a OS garante que manterá o mesmo atendimento. O contrato, no entanto, só deve ser assinado nesta sexta-feira. Fontes dizem que a prefeitura vai retirar verba de outras secretarias para aplicar na Saúde.
A reunião com representantes do Iabas foi convocada pela secretária de Saúde interina, Ana Beatriz Busch de Araújo — que assumiu ontem o lugar do secretário Marco Antonio de Mattos, afastado por dez dias devido a problemas pessoais. Ela também recebeu em seu gabinete dez presidentes de conselhos distritais de saúde. Segundo Azauri Monteiro Graça Júnior, presidente do conselho da Barra, o objetivo do encontro era esclarecer o que está acontecendo no setor de saúde:
“Até agora, o prefeito apenas tentou desmentir o fechamento das clínicas. Queremos que a renovação do contrato com o Iabas seja publicada no Diário Oficial”, disse Monteiro.
Na última terça-feira, ao se referir à “intensa negociação” com as OSs que administram unidades municipais de saúde, o prefeito Marcelo Crivella afirmou que há uma auditoria em curso e que as “OSs são perigosas”. O Instituto Brasileiro de Organizações Sociais de Saúde (Ibross) se manifestou, nesta quarta-feira, afirmando que essa generalização é “inaceitável”.
“Toda generalização é perigosa e burra. É como dizer que todo político é corrupto. Em tempos de crise, é mais fácil jogar a culpa sobre as OSs. Precisamos de transparência”, disse o presidente do Ibross, Renilson Rehem de Souza.
Protestos em unidades de saúde
Diante de informações desencontradas sobre o fechamento de clínicas da família, pacientes e funcionários fizeram protestos, nesta quarta-feira, diante de pelo menos sete unidades. Houve manifestações em frente às clínicas de Parada de Lucas, Rocinha, Campo Grande, Ilha do Governador, Anchieta, Tijuca e Morro da Providência, no Centro. Na Clínica da Família Padre José de Azevedo Tiúba, na Gardênia Azul, pacientes esperaram muito pelo atendimento ontem. Maria Lúcia da Silva chegou às 6h ao local e, quase quatro horas depois, ainda não tinha visto o médico. Preocupados, moradores do bairro estiveram na clínica, nesta quarta-feira, para tentar se reunir com a direção da unidade.
“A gente ficou sabendo da possibilidade de fechamento da clínica. Ela é a nossa única referência de saúde na região. O que será de nós, se a clínica fechar? Não vamos permitir que isso aconteça”, disse uma moradora.
No Hospital Raphael de Paula Souza, em Curicica, Priscila de Souza Alcantra teve que remarcar sua consulta pela terceira vez este ano Foto: Pablo Jacob
O presidente da Associação de Moradores e Amigos da Gardênia Azul, Jorge Ferreira Estrela, disse que está assustado com a ameaça de fechamento:
“Isso só pode ser um boato. Ele, o prefeito, não pode fechar a clínica. Quem manda é o povo. Ele não pode dizer que vai fechar uma unidade, uma escola.
No Hospital municipal Raphael de Paula Souza, em Curicica, Priscila de Souza Alcântara, de 29 anos, teve que remarcar sua consulta anteontem pela terceira vez este ano. Em fevereiro, o agendamento foi feito para 2 de junho, que foi adiado para 1º de agosto.
“Cheguei aqui ontem (anteontem) às 13h, e a clínica estava fechada. Voltei hoje, mas remarcaram minha consulta para o dia 8 de novembro. Não sei mais o que fazer”, reclamou.
