Dicas de Português – 01/07

“Acento ou assento?”

Veja só a confusão que ocorreu outro dia num texto sobre automóveis:
“De acordo com o médico, veículos modernos são projetados para evitar dores no corpo do condutor. Os modelos mais sofisticados trazem acentos com abas laterais (sustentam o corpo e protegem a região lombar), volante com ajuste de altura e profundidade e fácil acesso aos pedais.”
Já percebeu qual foi o problema? “Acento” no lugar de “assento”! Pois é, “acento” é bem diferente de “assento”. Essas palavras são chamadas, na gramática tradicional, de homônimos. Isso porque elas têm exatamente a mesma pronúncia. A semelhança, no entanto, para por aí. Cada uma tem uma grafia e significado diferenciado. Não há corretor ortográfico que nos ajude a corrigir esse tipo de erro. O único jeito mesmo é saber a hora de usar cada um dos homônimos.
Assento serve para sentar-se. O verbo “assentar” também pertence ao grupo de cognatos. Aliás, esse verbo tem dois particípios (assentado e assente). Foi a segunda forma que a angolana vencedora do concurso Miss Universo 2012 usou em sua declaração: “”De certa forma, a minha vida acaba de mudar. Vou precisar de Deus e de ter os pés bem assentes na Terra”.
Assento, com “ss”, é o banco do carro, é a poltrona do cinema, é a cadeira do brinquedo no Hopi Hari, é um lugar (o Brasil pleiteia um assento na ONU) e até mesmo… as nádegas!
Acento, com “c”, é a sílaba forte de uma palavra, o sinal gráfico que a demarca ou mesmo o sotaque.
Como vemos, “acento” e “assento” são coisas bem diferentes!… Vamos corrigir a frase? Veja abaixo:
“De acordo com o médico, veículos modernos são projetados para evitar dores no corpo do condutor. Os modelos mais sofisticados trazem assentos com abas laterais (sustentam o corpo e protegem a região lombar), volante com ajuste de altura e profundidade e fácil acesso aos pedais.”

“Condenados a 18 anos de prisão”

“Adalberto Lucena, segurança de Renné, contou que a vítima chegou a avisá-lo que sabia da intenção dos ex-funcionários – condenados há 18 anos de prisão por serem os executores do crime – de matá-lo.”
Das duas impropriedades verificadas no fragmento acima, a segunda é, com certeza, a mais gritante. Alguém é condenado “a” algum tipo de pena: condenado à morte, condenado à prisão perpétua, condenado, quem sabe, a passar o resto de seus dias fazendo algo de que não gosta.
Do ponto de vista da regência, o que importa é que alguém é condenado “a” alguma coisa.
É fato que os funcionários poderiam ter sido condenados à prisão há 18 anos, o que seria outra história. “Há 18 anos” quer dizer “18 anos atrás” ou “18 anos antes”. No trecho em questão, houve flagrante confusão entre as duas construções (“condenado à prisão” e “condenado há 18 anos”). Claro está que a condenação não ocorreu 18 anos atrás, dado que o crime data de 2007. Os 18 anos representam o tempo de prisão a que foram condenados os criminosos. O correto, portanto, seria “condenados a 18 anos de prisão”.
O outro problema do texto está na regência do verbo “avisar”, que admite dois complementos, o direto e o indireto. O objeto direto é representado pelo pronome oblíquo “o”, que assume a forma “-lo”; o objeto indireto, por sua vez, será a oração encabeçada pela conjunção subordinativa integrante “que”. Sendo tal oração um objeto indireto, caberá antes do “que” a preposição regida pelo verbo. Avisamos alguém “de” alguma coisa, portanto teríamos “avisá-lo de que sabia…”.
Veja, abaixo, o período reformulado:
Adalberto Lucena, segurança de Renné, contou que a vítima chegou a avisá-lo de que sabia da intenção dos ex-funcionários – condenados a 18 anos de prisão por serem os executores do crime – de matá-lo.


“Vem é singular, vêm é plural”

“O governo britânico se diz especialmente preocupado com a possibilidade de os hackers que vem agindo em represália a uma detenção que consideram política atacarem sites relacionados às devoluções da Fazenda ou de determinadas prestações sociais.”
Com a reforma ortográfica, a maioria dos acentos diferenciais desapareceu. Palavras como “para” (forma do verbo “parar”), “pera” (substantivo), “pelo” (o substantivo) ou “polo” (substantivo), que antes recebiam acento gráfico, agora se escrevem exatamente como os seus homônimos.
Mantiveram-se, entretanto, os acentos diferenciais do infinitivo do verbo “pôr” (que aparece em “pôr do sol”) e da forma de pretérito perfeito do verbo “poder” (“pôde”).
Não houve alteração na grafia dos “porquês” (por que, porque, por quê e porquê, cada qual com sua função). O mesmo se pode dizer das formas dos verbos “ter” e “vir”. Na terceira pessoa do singular, elas não recebem acento (ele tem, ele vem) e, na terceira do plural. Estão mantidos os acentos circunflexos (eles têm, eles vêm).
Nada mudou entre os verbos derivados de “ter” e de “vir”. Assim: ele mantém(acento agudo) e eles mantêm (acento circunflexo); ele intervém (acento agudo) e eles intervêm (acento circunflexo).
As formas verbais que perderam os acentos foram as de terceira plural dos verbos “crer”, “ler”, “ver” (presente do indicativo) e “dar” (presente do subjuntivo), em que se duplicam os “ee”. Assim: eles creem, eles leem, eles veem, que eles deem. O mesmo vale para os verbos deles derivados (eles preveem, eles reveem).
Observe que, no fragmento em destaque, a forma verbal deve concordar com “hackers” – no plural, portanto. Veja, abaixo, a correção:
O governo britânico se diz especialmente preocupado com a possibilidade de os hackers que vêm agindo em represália a uma detenção que consideram política atacarem sites relacionados às devoluções da Fazenda ou de determinadas prestações sociais.

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