Uruguai não quer reforma trabalhista no Brasil

*Pedro Luiz Rodrigues

O Uruguai nunca se sentiu confortável com sua participação no Mercosul. O país, que já foi chamado de a Suíça da América do Sul, não acha que a participação na organização regional seria o caminho para voltar às épocas passadas de esplendor.
Por isso, não é raro que o país vizinho olhe para seu futuro através do espelho retrovisor. Insatisfeito com o que vê, proclama de tanto em tanto sua vontade de livrar-se das amarras impostas pelo Mercosul.
Concordamos que não deve ser fácil para o Uruguai conviver com os dois gigantes vizinhos – Brasil e Argentina – cujos embates no século XIX acabaram por assegurar a independência da região que já foi a nossa Província Cisplatina.
É compreensível, portanto, o desconforto do país vizinho com a situação geopolítica em que se insere. Seus líderes tendem, naturalmente, a aspirar maior autonomia internacional nas esferas política e econômica.
Muitos uruguaios acreditam mesmo que seria melhor negócio para seu país deixar de lado o Mercosul e assinar diretamente acordos de livre comércio com os Estados Unidos e outros grandes parceiros.
Trata-se, obviamente, de um sonho irrealista. Sendo um país praticamente desprovido de indústria, os setores de exportação nos quais o Uruguai é forte (trigo, frutas, laticínios) são exatamente aqueles em que a proteção comercial feita pelos EUA, os países europeus e o Japão é mais acirrada.
Há alguns dias, o economista Ignacio Munyo, da Universidade de Montevidéo propôs a retirada de seu país do Mercosul como forma de “melhorar a inserção internacional” de seu país. Ele, patrioticamente, diz que o Uruguai não aguenta mais ficar esperando para ver o que vão fazer o presidente Macri ou o presidente Temer.
O presidente do Uruguai, Tabaré Vásquez , há tempos não esconde sua disposição em partir para o vôo solo. Durante visita a Washington, em 2006, ele próprio anunciou que seu país pretendia deixar de ser um membro pleno no Mercosul, preferindo situar-se na categoria de país associado.
No dia seguinte Vásquez deu o dito por não dito, mas nunca conseguiu desfazer a percepção de descontentamento com a posição do Uruguai, que ele sente subalterna, no Mercosul.
Possivelmente por razões de política interna, o presidente uruguaio quer agora impedir a necessária reforma das leis trabalhistas brasileiras. convocar uma reunião do Mercosul para que uruguaios, argentinos e paraguaios digam se o Congresso brasileiro pode ou não mudar suas leis.
O ministro Aloysio Nunes Ferreira fez bem em mandar convocar o embaixador do Uruguai em Brasília, Carlos Daniel Amorín-Tenconi, para uma conversa no Itamaraty, na qual, com toda delicadeza, solicitou ao governo do país vizinho e amigo que deixasse de se intrometer nos assuntos internos do Brasil.

*Pedro Luiz Rodrigues é jornalista e ex-porta-voz do Governo Collor.

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