Tiroteios no Jacarezinho paralisaram trens por mais de 34 horas

Em apenas onze dias de agosto, os trens da Supervia do Ramal Belford Roxo, que cortam o Complexo do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, tiveram o serviço suspenso por 34 horas e 5 minutos. Foram seis interrupções, motivadas pela guerra promovida por traficantes contra policiais. O conflito começou em 11 de agosto, dia da morte do policial civil da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) Bruno Guimarães. Desde então, a polícia promove uma caçada aos responsáveis pelo assassinato.

De 1º de janeiro a 10 de agosto, os trens do ramal pararam outras 11 vezes, nove delas na região do Jacarezinho. Quando se compara o tempo de serviço suspenso, as interrupções atuais equivalem a mais do que triplo das horas sem circulação de trens do restante do ano. No total, desde o início de 2017, o ramal sofreu 22 suspensões de serviço por causa de tiroteios. Dessas, 15 foram somente nas proximidades do Jacarezinho.

Na última quarta-feira, criminosos mandaram que os portões da estação do Jacarezinho fossem fechados e, com medo, funcionários deixaram o local. Nesse dia, porém, o serviço não chegou a ser suspenso. No entanto, na estação, quem embarcava no trem não pagava passagem por falta de gente nas bilheterias.

De acordo com o diretor de operações da Supervia, João Gouveia, a necessidade de interromper o serviço tantas vezes e por longos períodos é algo nunca antes visto no Ramal.

“Nunca vimos uma situação dessa como estamos vendo no Ramal de Belford Roxo. É uma situação em que todos nós perdemos. Toda vez que tem tiroteio a gente tem que parar o trem para não colocar em risco a integridade de nossos passageiros e funcionários. Quando essas interrupções acontecem, acaba causando um distúrbio e um impacto muito grande na operação “, disse.

Ainda de acordo com a Supervia, os tiroteios provocaram uma queda de 35 mil embarques no ramal, que costuma ter uma média de 20 mil passageiros diariamente. Por causa disso, o prejuízo já chega a R$ 140 mil. Usuários que já estavam nas estações ou haviam comprado o bilhete antes das suspensões puderam solicitar a restituição da passagem. Cerca de 2 mil pessoas fizeram o pedido nas bilheterias das estações próximas nos últimos 11 dias.

Com as interrupções, na maioria dos casos, o ramal passa a circular somente das estações de Belford Roxo até a Pilares. Quem sairia da Central do Brasil e passaria pelo Jacarezinho precisou pegar outra condução ou fazer baldeação em outras estações. O alerta para que o serviço seja interrompido é feito diretamente pelos funcionários nas estações.

“Nós temos agentes de controle que ficam na plataforma e os bilheteiros. Tem uma comunicação direta com nosso sistema de controle. Eles ligam e avisam que está havendo tiroteio e nos passam a gravidade da situação. A gente, então, dá um auxílio para que as pessoas peguem um ônibus. São medidas necessárias para garantir a segurança das pessoas. Por exemplo: Antes de recomeçar a circulação, toda a malha férrea precisa ser analisada para saber se há algum dano. É um custo adicional que você tem que ter toda vez que acontece isso. Mas é um problema de segurança pública. O sistema é impactado por isso “, disse João Gouveia.

Os recentes confrontos no Jacarezinho já fizeram, ao menos, seis vítimas fatais. Entre elas há dois suspeitos. A primeira delas foi o policial civil da CORE, Bruno Guimarães, de 36 anos, que morreu ao ser atingido por um tiro no pescoço. O tiroteio havia começado após uma operação da Polícia Civil na comunidade. Criminosos haviam atacado à UPP Jacarezinho e a Core retornou para dar apoio no local. Bruno, então, foi baleado e morreu no Hospital Federal de Bonsucesso horas depois.

No mesmo dia, o mototaxista André Luís Medeiros foi baleado no Jacarezinho. André morreu seis dias depois, no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, onde estava internado. Ele havia sido baleado na perna e foi socorrido por moradores da comunidade.

Na quarta-feira, os tiroteios fizeram mais uma vítima. O feirante Sebastião Sabino da Silva, de 46 anos, foi atingido por um disparo na comunidade. Tião, como era conhecido na comunidade, morreu a caminho da UPA enquanto era socorrido por moradores. A família acusa a polícia de atirar no homem.

Na tarde deste sábado, cinco moradores foram baleados durante a troca de tiros. Georgina de Maria Ferreira, de 60 anos, foi atingida na cabeça e morreu antes de chegar na UPA de Manguinhos, também na Zona Norte. Outras três pessoas chegaram a ser atingidas. Uma delas, Adriane Silva, de 22 anos, levou um tiro na cabeça e permanece em estado grave no Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier.

Na última quinta-feira, a Polícia Civil informou que agentes da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD) identificaram quatro homens suspeitos de participarem da troca de tiros que causou a morte de Bruno. Nesta segunda-feira, um outro suspeito foi preso em um motel em Bonsucesso, na Zona Norte do Rio.

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